Histórias de lutas e amor pelo Brasil

Por Gilberto Tenório

Documentário "Três Irmãos de Sangue", exibido nessa quinta no Cinema São Luiz, emocionou o público ao retratar a trajetória de Betinho, Chico Mário e Henfil

O Cinema São Luiz serviu de palco nessa quinta-feira (15) para um evento especial. Uma noite onde a arte e a cidadania estiveram juntas, através da história de três grandes personalidades brasileiras do século XX. Protagonistas do documentário Três Irmãos de Sangue, exibido ontem (15), Betinho, Chico Mário e Henfil tiveram suas histórias de vida relembradas durante a projeção do filme e as apresentações musicais que marcaram o evento.

Antes da exibição do documentário, o público pode conferir a apresentação de Marcos Sousa – filho de Chico Mário. Ao piano, e contando com as participações especiais dos músicos Publius (no bandolim), Spok (no sax) e Sérgio Campelo na flauta, o músico executou composições que fazem parte da trilha sonora do filme. Emocionado, Sousa destacou a sua ligação com o Recife e a cultura pernambucana. "Vim a primeira vez ao recife no Carnaval desse ano e me encantei com a diversidade cultural do povo pernambucano", declarou.

Na apresentação a irmã de Marcos Sousa, Karina Sousa, mostrou a perfomance Improviso de Teatro e Dança, na qual uniu elementos das duas linguagens para transmitir o sentimento envolto na obra do pai. A cantora Isabela Moraes e o violonista Carlos Filho se uniram aos demais músicos para apresentar uma canção inédita, baseada na história narrada no documentário.

Uma história de amor e luta – Três irmãos, três brasileiros, três personalidades fundamentais para a história do País no século XX. O sociólogo Betinho, o músico Chico Mário e o cartunista Henfil transcenderam as suas respectivas áreas de atuação profissional e imprimiram seus nomes na luta pelos direitos humanos e civis dos brasileiros, durante o período da ditadura militar e também na abertura política.

O filme mostra a vida de cada um dos três irmãos e como suas ações se misturam com a história brasileira. Eles contribuíram, cada um a sua maneira, para as principais transformações pelas quais passou o povo brasileiro nesse período. Betinho, cientista social, exilado político, fundador da Campanha Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida e indicado em 1994 ao Prêmio Nobel da Paz; Henfil, cartunista que lutou pela volta dos exilados durante a ditadura militar e criou a expressão “Diretas Já” como forma de exigir a volta da democracia ao Brasil; e Chico Mário, músico pioneiro na questão da música independente e compositor de canções contra a tortura. Os irmãos definitivamente sabiam da importância da defesa dos direitos humanos e se esforçaram ao máximo para alcançar esse objetivo.

Hemofílicos, foram contaminados pelo vírus HIV através de transfusão de sangue. Isso os tornou um símbolo da luta contra a AIDS no Brasil. O fato do país hoje ser visto como referência mundial no combate à AIDS tem muito a ver com o pioneirismo deles em relação a essa causa. Para eles, a luta pela vida sempre esteve em primeiro lugar.

Debate – Ao final da exibição do filme, Marcos e Karina Sousa responderam a perguntas e abriram o debate para os comentários do público. O secretário de Cultura de Pernambuco, Fernando Duarte, falou sobre a importância do documentário. "Me emocionei, pois vivi muitos desses fatos. O filme é importante para rememorarmos a história e lembrar que enquanto houver injustiças, enquanto houver diferenças, precisamos estar na batalha", declarou.

Solidariedade – A exibição especial do filme foi uma inicitiva da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e da Ação Cidadania Pernambuco Solidário. O coordenador da ação no estado, Anselmo Monteiro, informou que o Cinema São Luiz abrigará um posto de coleta de alimentos não perecíveis e brinquedos como parte integrante da campanha Natal Sem Fome.