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Mercosul discute aproximação com Europa ou fortalecimento interno

Para aumentar e diversificar suas opções e possibilidades de acesso ao mercado exterior, o Mercosul sabe que não pode se resumir a firmar novos acordos de redução de barreiras tarifárias só com regiões vizinhas ao Cone Sul. O bloco, portanto, busca aproximações para além do continente, de olho em mercados do Oriente Médio, Europa e Ásia.

Entretanto, vinte anos após a formação do bloco, seus países-membros (Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil) ainda não entraram em um consenso sobre se essa expansão deve ser acelerada ou se antes deve-se priorizar diminuir as disparidades internas do bloco. A primeira tese é defendida pelo Brasil e Argentina, enquanto uruguaios e paraguaios seriam os beneficiados pela segunda. A entrada de produtos estrangeiros de outros blocos na região do Mercosul impediria que a indústria das economias mais frágeis pudessem se desenvolver devido à forte concorrência.

Essa “crise de identidade” ainda não parece resolvida no bloco, que este ano chega aos vinte anos, foi discutida nos painéis do Encomex (Encontro de Comércio Exterior) Mercosul. O evento, realizado entre a última quinta e sexta-feira (01 a 02/12), reuniu representantes dos quatro países para debater as perspectivas do bloco após 20 anos de sua fundação.

Na reunião, os representantes do Paraguai, por exemplo, afirmam que não têm interesse em aceitar novas adesões para o grupo, preferindo "fortalecê-lo" antes. A entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul depende exclusivamente da aprovação do senado paraguaio, após ter sido aprovada por todos os outros três integrantes.

"Existe uma intenção clara de fortalecer o Mercosul e integrar as cadeias produtivas dos países membros", afirmou Sebastian Bogado, adido comercial do Paraguai no Brasil, em entrevista ao Opera Mundi. "A gente quer atrair investimento estrangeiros de todos os países, é claro, mas principalmente do Mercosul", completou.

Pró-expansão

Mas os outros membros das economias mais fortes permanecem atentos aos outros mercados. O comércio entre Canadá e Mercosul, por exemplo, foi tema único de um painel no Encomex, onde se ressaltou boa relação comercial entre as partes nos últimos anos e as perspectivas de negócios daqui pra frente.

Os números exemplificam ainda mais a intenção do Mercosul em comercializar com outros continentes. Estima-se que as exportações entre Mercosul e o restante do mundo, excluindo a América Latina, deverá crescer 3,7% em cinco anos.

América Latina

Na América Latina, o Mercosul possui acordos com as demais nações. No entanto, muitos desses contratos foram firmados ou idealizados por apenas um de seus membros, antes mesmo de o bloco ser criado. Com a criação do grupo, esses acordos apenas foram adaptados para atender seus quatro integrantes.

No comércio da região latina, alguns países contestam as barreiras impostas principalmente por Argentina e Brasil. "Há barreiras ainda, não negamos. Mas seguimos trabalhando juntamente com os países do bloco para derrubar essas barreiras", afirmou Mercedes Rial, técnica do Departamento de Promoção Comercial e Desenvolvimento de Competitividade da ALADI (Associação Latina Americana de Integração).

A relação do Mercosul com a própria América Latina foi tema também da palestra de Natalia Fingermann, coordenadora do Curso de Bacharelado em Relações Internacionais do Centro Universitário Senac.

Em entrevista ao Opera Mundi, Natália afirmou que o empresário brasileiro prefere comercializar com a Europa ou com os Estados Unidos a ter que se virar para seus vizinhos territoriais.

"Talvez isso mude com essa crise financeira que não acaba nunca. Mas é realmente uma questão cultural do empresário brasileiro. Ele nem se preocupa em aprender o espanhol, pois acha que é uma obrigação eles entenderem o português. Quando você quer investir em um mercado é muito importante você ter o domínio do idioma, ainda mais porque o espanhol é falado por toda a região da América Latina. Sinto que falta uma vontade brasileira em se aproximar dos países da América do Sul", apontou.

Enquanto os países do Mercosul se aproximam de regiões em crise ou potencialmente mais próximas ao epicentro do desastre econômico que aflige a Europa e os Estados Unidos, a solução pode estar em seus próprios vizinhos continentais. Para isso, no entanto, precisa estreitar as relações na região.

"A solução para isso é investir mais no intercâmbio de pessoas entre esses países. Tanto por meio de universidades como por empresas para que essas barreiras sejam rompidas", concluiu Natália.

Fonte: Ópera Mundi