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Baianos reforçam valores da estética afro na cultura brasileira

Uma mesa redonda com apresentação do bloco Male Debalê marcou o último dia de celebração do Novembro Negro em Lauro de Freitas-BA, nesta quarta-feira (30), no Centro de Referência da Cultura Afrobrasileira. A Roda de Diálogos reforçou o significado dos penteados afro para a cultura brasileira.

Para a palestrante Bárbara Dias, as trançadeiras têm que ser reconhecidas como profissionais, assim como as cabeleireiras. “Além de arte na cabeça das pessoas, o que fazemos é significar a afirmação de nossa identidade”, definiu a pesquisadora e esteticista.

Segundo Eriosvaldo Meneses, superintendente de Promoção da Igualdade Racial, o município consegue se destacar das outras cidades no estado em virtude de suas políticas que resgatam o valor do povo negro. “Nunca houve uma gestão que conversasse tanto com as lideranças negras e desse tanto espaço para mudar essa realidade em Lauro de Freitas”, frisou. Menezes citou como exemplo o CD “O canto do Joanes”, que conta a história da resistência negra interpretada por grupos culturais do município, inclusive o levante nas terras de Santo Amaro de Ipitanga que originou a revolta dos Malês, em 1814.

De acordo com o historiador e filósofo Antônio Cosme, para contextualizar o sentimento do povo negro no Brasil é necessário fazer uma revisão histórica, “passando pelas leis que foram importadas de Portugal e instituíram a desumanização do negro por causa de suas características biológicas. Após a abolição, veio a proibição e marginalização de sua cultura, além da formação de estereótipos de beleza do qual os negros com ‘cabelo ruim’ e ‘nariz chato’, não faziam parte. Um processo de educação formal e informal ajudou a consolidar este estigma que lutamos para nos livrar. Muita gente critica as políticas de reparação, mas só depois de analisar e compreender esse processo histórico de violência é que se deve ter propriedade para falar”, ressaltou.

A palestrante Negra Jhô, trançadeira mais popular do Brasil, contou que sofreu descriminação desde pequena. “Quando era criança, minha madrasta me chamava de macaca e passava meus cabelos a ferro. Aquilo destruía minha auto-estima. Para esquecer minhas dores interiores, costumava pegar minhas irmãs colocar no colo e trançar seus cabelos com sisal ou palha-da-costa. Mas sempre soube que minha estrela um dia ia brilhar; hoje tenho esse reconhecimento e sou uma referência de luta e resistência para meus filhos”. Contudo, Jhô comenta que às vezes é mais bem tratada por brancos que por negro. “Essa cultura ‘denegrida’ está tão introjetada em nossa consciência, que quando brancos vêm gentilmente pra tirar foto comigo lá no Pelô e fazem festa, ao invés de sentir orgulho, os comentários são de que eu só quero aparecer”, lamentou.

Após o debate, foram apresentadas músicas, poemas e outras obras que resignificam o valor do negro na sociedade, como o documentário “Espelho, espelho meu: uma abordagem sobre representações afro-estéticas no período juvenil”, produzido por Jaqueline Barreto. O fechamento teve a apresentação cultural do grupo Male Debalê.