Tariq Ali relaciona movimentos àrabes aos ocidentais

Em visita ao Brasil, o escritor e ativista paquistanês, Tariq Ali, visitou na quinta-feira (17) a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), onde falou sobre conjuntura internacional para uma plateia de cerca de 150 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para ele, os protestos no mundo árabe contribuíram para o surgimento de movimentos como o Ocupar Wall Street, nos Estados Unidos.

“As revoltas no mundo árabe têm ligação direta com a crise econômica do capitalismo de 2008”, disse Ali, que lembrou que naquele momento já havia um clima de revolta nos países árabes causado por diversas razões. O estopim foi quando um comerciante da Tunísia não aceitou pagar propina a fiscais e ateou fogo ao próprio corpo.

Depois desse episódio, os protestos na Tunísia chegaram a mobilizar 10 milhões de pessoas e contagiaram toda a região. “O movimento se espalhou como fogo em todos os países árabes”, contou.

O escritor frisou que os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos Estados Unidos na Líbia para derrubar Muammar Kaddafi tiveram também a intenção de “desviar o foco das mobilizações por liberdade, independência do imperialismo e melhores condições de vida na região.

Ocidente

Tariq Ali afirmou que as manifestações do mundo árabe contribuíram para o surgimento de movimentos em outras partes do mundo, principalmente ocidental. Como os protestos nos países europeus e nos Estados Unidos, como o Ocupar Wall Street, que mobiliza jovens contra a desigualdade social e o sistema financeiro.

Para ele, esses protestos têm como referência as lutas realizadas nos países árabes, tanto que a palavra de ordem de alguns deles é “somos todos Egito”. “O exemplo do mundo árabe chegou ao ocidente”, exclamou.

Ali também abordou o extremismo das relações de mercado, gerando grandes contradições sociais causadas pelo neoliberalismo. “O que o neoliberalismo tem causado no ocidente é interessante. Criou-se um extremismo de centro, em que impera o fundamentalismo do mercado, com o objetivo central de aumentar os lucros. Mas 80% da população é contra essas políticas”, explicou.

Também lembrou que as economias dos países são dirigidas por bancos, e que os governos se constituem em um bloco político formado pelos partidos de direita e por partidos moderados de esquerda, que seguem as receitas neoliberais e o fundamentalismo do mercado.

“Os Estados Unidos e a Europa vivem a ditadura do extremo centro. O extremo centro é uma forma de ditadura”, afirmou. Cabe, portanto, aos setores sociais o desafio de ir contra esse modelo, contruindo um "movimento social permanente e organização política para confrontar o extremo centro”, concluiu.

Reconstruir a esquerda

A fragmentação da esquerda é, segundo ele, um dos obstáculos que precisam ser superados. A esquerda está dividida em pequenos grupos que não se entendem, ao mesmo tempo em que há um grande movimento de massa, sem reivindicações e formas de organização mais permanentes, formado por jovens que se colocam contra tudo o que se relaciona ao entendem por política.

Sem deixar de mencionar as fragilidades dos movimentos atuais, Ali acredita que esses protestos têm ajudam a demonstrar que as pessoas estão acordando para as contradições do sistema capitalista e isso pode ser o primeiro sinal de um movimento contestatório no ocidente.

Em seu entendimento, as lutas sociais e econômicas devem estar ligadas aos movimentos pela salvação do planeta e contra o capitalismo neoliberal.

Com MST