Encontro fomenta debate sobre arte, educação e política cultural

Debates interessantes e diferentes apresentações artísticas foram os principais atrativos do Encontro de Cultura da Bahia, realizado nesta sábado (19/11), no auditório da Faculdade de Medicina da UFBA, no Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. Mais de 120 pessoas participaram das atividades e mantiveram o espaço repleto durante todo o dia. A relação entre arte e educação, política e economia da cultura foram alguns dos temas em discussão.

Encontro fomenta debate sobre arte, educação e política cultural

O primeiro tema em debate foi a relação entre arte, educação e cultura. Na mesa, Rui Cezar, Antonio Godi, Sérgio Farias e Graça Campos deram excelentes contribuições à discussão, mostrando através de abordagens diferentes que esta interação é essencial para a produção e difusão de cultura no país.

A parte da tarde foi iniciada com música, poesia e teatro. Logo em seguida, Carlos Paiva e Messias Bandeira fomentaram as discussões sobre a relação entre arte, cultura e Estado, trazendo suas experiências na suas áreas de atuação, o Estado e o mercado, respectivamente. Vital Vasconcelos falou sobre sua experiência à frente da Secretaria de Cultura do município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.

Política cultural

“Parabenizo o PCdoB pela realização do Encontro que favorece o debate mais político sobre a cultura, o que é muito escasso no Brasil. Espero que outros partidos, principalmente os de esquerda sigam este exemplo”, disse o secretário Estadual de Cultura, Albino Rubin, no início da sua exposição.

Para Rubin, é preciso admitir que existem conflitos na área da cultura, pois nem toda cultura merece ser difundida e fomentada. “Nós temos que ter meta quantitativa e qualitativa da cultura. Não temos interesse em desenvolver uma cultura machista, racista, homofóbica e preconceituosa, como ainda existe algumas por ai. É preciso sim desenvolver culturas que favoreçam o desenvolvimento da sociedade”, afirmou, defendendo o projeto da deputada Luíza Maia (PT), que proíbe o Estado de patrocinar artistas que desvalorizem a imagem da mulher.

A deputada federal Alice Portugal falou das discussões no Congresso Nacional sobre a cultura, como a possibilidade de diminuição do orçamento da Ministério da Cultura para o próximo ano, inclusive nas emendas parlamentares. Para a deputada, a perda destes recursos é provocada em parte pela gestão atual do Ministério, que até o momento só executou 67% da pasta.

“Nós precisamos nos mobilizar e cobrar avanços. Mesmo tendo os melhores nove anos de governo que este país já experimentou, nós não podemos esquecer que viemos e somos dos movimentos sociais. Precisamos ir para as ruas e forçar a barra para alcançar avanços também na área cultural. O acesso a cultura deve ser uma política de Estado, pois é uma política emancipatória”, conclui Alice Portugal.

Debates consistentes

“O Encontro, tanto na parte da manhã, quanto pela parte da tarde surpreendeu a todos pela consistência dos debates. Quem não veio perdeu uma a oportunidade de um excelente curso, um curso mesmo do que é cultura e política cultural. Como nós pretendíamos, o encontro é para abrir perspectivas de mobilização. A gente quer criar uma corrente pública de opinião que se envolva mais diretamente na pressão sobre o Estado, para mudarmos a relação de arte, cultura e educação, no sentido de uma nova educação, qualitativamente diferente, a nível do ensino fundamental, médio e universitário, passando também por uma relação mais produtiva, criativa e livre com a economia de interesse de mercado, a gestão pública e os produtores dos artistas”, avaliou o coordenador do Coletivo de Cultura do PCdoB na Bahia, Javier Alfaya.

Alfaya afirmou ainda, que o Brasil está muito longe de ter uma situação satisfatória no sentido de uma produção cultural abrangente e democrática, quanto a sua abrangência e conteúdo. “O país produz e consome pouco certas formas culturais. Então, só temos cinema em 7% dos municípios, mais 90% de consumo cultural do povo brasileiro é tv e rádio. Então, tudo isso foi apontado como problema e o encontro está provocando muitas consciências. Achei muito interessante a fala do professor Messias Bandeiras, quando ele instigou a independência entre a produção cultural e a gestão pública e os interesses empresariais capitalistas. Tem que ter uma produção cultural permanentemente em uma sociedade que seja democrática, que ela vá ascendentemente sendo cada vez mais democrática, é preciso ter uma produção cultural que seja autônoma e independente, que pertença aos indivíduos ou coletivos que as façam. Este processo que as vezes é questionador e incômodo em relação ao poder, que ele possa existir e ser um processo de renovação da própria sociedade”, disse.

O Encontro terminou com uma discussão mais prática e concreta da ação política. “Estamos nos envolvendo na luta em defesa do orçamento da cultura. Existe uma ameaça de redução de 16% do orçamento da cultura no ano que vem. Há uma ameaça de redução específica no programa Cultura Viva, até 2014, nós somos contra isso. O programa Cultura Viva é que garante os Pontos de Cultura, que foi uma maneira inventada na gestão Gil, Juca e Célio Tourino de elaboração de uma forma nova de apoio por parte do estado à produção cultural”, declarou Alfaya, acrescentando que o Coletivo pretende fazer outro seminário em março para discutir a relação entre cultura, arte e tecnologia.

De Salvador,
Eliane Costa.