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Espanhóis se sentem acuados e devem eleger governo de direita

A dois dias das eleições gerais, que irão escolher o Parlamento e o primeiro-ministro, os espanhóis se perguntam o que mais têm de fazer para convencer os mercados de que o país não irá quebrar.

A Espanha já implantou uma série de cortes de gastos, aumentou os impostos, deve eleger no domingo (20) um conservador comprometido com um pacote de mais austeridade — e nada basta.

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Na quinta-feira (17), o país fez um leilão de títulos públicos com vencimento em dez anos e teve de pagar juros de 7,08% ao ano. É o maior percentual desde 1997, quando ainda não havia adotado o euro.

No leilão anterior, no mês passado, os juros cobrados foram de 5,45%.

O patamar de 7% é considerado insustentável. Foi nesse nível que Portugal, Irlanda e Grécia tiveram de recorrer a empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e da União Europeia.

Também foi a quebra da "barreira dos 7%" que precipitou a renúncia de Silvio Berlusconi, na Itália.

Contra a crise, cortes

Todos esses países trocaram de governo. Em Portugal e na Grécia, os derrotados foram os partidos socialistas.

O mesmo deve acontecer com a Espanha, com a derrota do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).

Todas as pesquisas dizem que o PP (Partido Popular, de direita) irá ganhar. A única dúvida é se obterá maioria absoluta, o que também deve acontecer, de acordo com as últimas sondagens.

Mariano Rajoy, que deve ser o novo premiê, não se cansa de afirmar que colocará as contas em ordem.

Na TV e em entrevista de cinco páginas ao "El País", Rajoy disse que apenas as aposentadorias estarão a salvo. Todo o resto pode sofrer cortes: salários, benefícios, número de servidores.

A crise econômica é visível nas ruas de Madri. Vários lugares no centro, onde funcionavam lojas, estão fechados, com placas de "aluga-se".

Quem caminha é logo abordado por pedintes. Não são imigrantes, mas espanhóis que sofrem com o desemprego de 22,6%, o maior da Europa. Entre os jovens (de 15 a 24 anos), esse índice chega a 48%.

Na quinta-feira (17) houve greve na educação, com paralisações em universidades e escolas primárias contra o aumento da carga horária sem elevação salarial (um dos resultados dos cortes). Nas ilhas Canárias, a greve foi no setor de saúde.

Para Manuel Pastor Martínez, professor de ciência política da Universidade Complutense de Madri, a situação deve piorar.

"O governo de um partido de direita deve provocar ainda mais paralisações promovidas pelos sindicatos, que são mais ligados à esquerda. Mas há muita insatisfação com os socialistas, principalmente na classe média", avalia Martínez.

O atual governo, de José Luis Rodríguez Zapatero, adota a política do medo para tentar evitar uma derrota arrasadora. Diz que o PP ampliará -e muito- os cortes e provocará retrocessos em temas como aborto e união homossexual.

Fonte: Folha de S. Paulo