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Luis Beatón: eleitores estadounidenses na encruzilhada

Muitos estadounidenses estão hoje numa encruzilhada. Para onde enviar seu voto nas eleições presidenciais de novembro de 2012? Eis uma das interrogações destes tempos de crise em que republicanos e democratas não param de discordar acerca dos mais variados temas.

Por Luis Beatón*, em Prensa Latina

Uma das forças que mede e pensa onde pôr seu apoio é a comunidade latina ou hispânica.

Imigração, desemprego, pobreza e fome a fazem, nos últimos meses, protagonista de um sem número de consultas e investigações de meios de imprensa e consultoras especializadas.

O representante democrata Luis Gutiérrez abordou recentemente a ausência de uma reforma migratória prometida pelo presidente Barack Obama e que lhe fez ganhar muitas simpatias entre a mais crescente minoria do país, pouco mais de 50,5 milhões de hispânicos.

"O Congresso tem muitos inimigos quando se fala de uma reforma migratória. Não acho que a tenhamos antes da seguinte eleição e penso que a partir daí nos tomará um par de anos", disse.

Ainda que a reforma não tenha sucedido, ao menos por decisão da Casa Branca, foi posta uma trava às deportações de não documentados por causas simples; por exemplo, cometer uma infração de trânsito.

"Gutierrez disse que ia trabalhar muito duro para reeleger o atual presidente. Quem tem visto os debates entre os aspirantes republicanos, já se deu conta de que não temos amigos no outro lado", insistiu.

Criticadas por muitos e pouco consideradas por alguns políticos, as pesquisas tratam de ajudar aos indecisos e independentes a eleger qual a menos má entre as duas formações políticas do país: democratas ou republicanos.

Uma recente consulta realizada pela televisora CNN/ORC Internacional descobriu que os estadounidenses confiam mais no presidente Obama que nos republicanos no Congresso para manejar a economia.

Por uma margem de 43 a 35%, os perguntados aprovam o programa econômico para impulsionar o emprego que o mandatário promove desde inícios desse mês.

A maioria dos estadounidenses estão de acordo em que estimular o emprego é o mais importante agora, algo que para os hispânicos é fundamental, pois segundo dados do Escritório do Censo a taxa de pobreza entre eles se incrementou a 26,6% em 2010, algo que é proporcional a seus níveis de desemprego.

No geral, a sondagem refletiu uma sombria percepção sobre as condições do país. A maioria disse que a situação agora não é melhor que há três anos e, em maior proporção ainda, expressaram estar mais enojados e assustados pela maneira como vão as coisas.

Particularizando um estado que enfrenta uma séria crise e que ademais é o que mais votos contribui ao colégio eleitoral que elege o presidente (a Califórnia), se vê um exemplo de como se projetará o voto.

Ainda que nos últimos meses tenha aumentado a desaprovação do desempenho do presidente de 40% em junho a 44% em setembro, é ilustrativo que 49% se pronuncie por reelegê-lo, segundo uma pesquisa do Instituto Field.

O mandatário "está sentindo o efeito do que acontece na economia do país", comentou no marco da pesquisa o presidente do Instituto Field, Mark DiCamillo. "Os eleitores da Califórnia vêem o presidente como um dirigente de boa vontade, mas com deficiências", agregou.

Estas críticas afloram contra Obama, mas também os olhares se voltam ao lado republicano, onde há uma encarniçada disputa entre vários aspirantes que até agora só esboçam ideia para revogar a reforma de saúde, ou o Obama Care, como eles o chamam; e impulsionar políticas fiscais que só beneficiem os mais ricos.

Os hispânicos têm uma qualidade de vida cada vez mais precária, de acordo com a informação difundida pelo Escritório do Censo. Depois da recessão, a comunidade tem experimentado um aumento de pessoas na pobreza e uma diminuição da rensa média.

Em seu novo relatório sobre Rendimento, pobreza e cobertura de seguro médico nos Estados Unidos: 2010, o Censo mostrou que a taxa nacional de pobreza subiu quase um ponto percentual, chegando a 15,1%.

Isto se traduziu em 46,2 milhões de pessoas vivendo em condições precárias no país. Três milhões a mais que em 2009; o número maior nos 52 anos desde que publica-se este tipo de índice. Cerca de 7,6 milhões de estrangeiros nos Estados Unidos estão neste grupo.

Para arrematar, 13,2 milhões de hispânicos viram-se afetados por este problema em 2010, representando 26% dos indivíduos pobres no país. Um aumento de cerca de um milhão nos últimos 12 meses.

"O crescimento da pobreza entre a comunidade hispânica tem sido enorme", assegurou Arloc Sherman, do Centro para o Estudo de Prioridades Orçamentárias (CBPP) ao diário The Opinion.

"Entre outras coisas, porque, como quase sempre, durante as recessões, os menos preparados levam a pior parte e porque a crise tem afetado principalmente setores como o da construção, onde a comunidade hispânica tem uma presença importante", disse.

Por outra parte, no tema da renda média a nível nacional, os latinos marcham atrasados em comparação com a média do país. No oeste, o rendimento foi de 53.142 em 2010, enquanto no caso dos latinos, a cifra atingiu os 37.759 dólares, em comparação com os 38.667 registrados em 2009. Foi o segundo grupo minoritário de inferiores rendimentos, antecedido só pela população afroamericana com 32 mil 68 dólares.

Ainda que estes algarismos alarmem qualquer um que aspire seguir à frente da maior economia do mundo, Obama tem ainda mais apoio dos hispânicos que qualquer um de seus rivais republicanos, segundo uma pesquisa.

Apesar de uma queda entre os votantes que favorecem sua reeleição em estados como Flórida, Colorado e Novo México, o governante ainda mantém uma diferença com a oposição que o manteria na Casa Branca, indica a pesquisa realizada pelos grupos conservadores Resurgent Republic e Hispanic Leadership Network, de filiação republicana.

O estudo mostra que apesar da baixa do mandatário, os oponentes não levam vantagem alguma no seio de uma comunidade que critica sua negativa a oferecer uma solução ao tema migratório, entre outras.

Por exemplo, na Flórida, onde o presidente derrotou o republicano John McCain por uma margem de 57 contra 42% em 2008, agora 46% o apoiaria em uma eleição geral e 48% favorecem sua reeleição.

Se as eleições fossem agora, 46% na Flórida, 59% no Colorado e 58% no Novo México elegeriam Obama em detrimento de seu oponente republicano, o qual só receberia 36%, 27% e 28% nesses estados, respectivamente, diz a pesquisa.

Os resultados do estudo serão analisados na conferência "Reconstruindo o sonho americano", que será realizada pelos republicanos em Albuquerque, Novo México, nos dias 23 e 24 de setembro.

Segundo Leslie Sánchez, da junta diretiva de Resurgent Republic, o governante ainda é popular entre a maioria hispânica, apesar de um crescente número estimar que o país vai na direção equivocada e se preocuparem com a economia, o desemprego e a educação.

Os republicanos precisam ao menos o 40% desse voto para manteemr-se competitivos, agregou a encuesta.

David Axelrod, o principal assessor de Obama na contenda pela Casa Branca, opina que o mandatário tem o respaldo necessário para derrotar qualquer dos possíveis rivais republicanos, apesar da situação econômica do país, crítica com um índice de desempregos.

No desemprego de 9,1%, uma alta dívida e crescente déficit fiscal, parece estar a resposta aos que buscam decantar seu voto.

Mas nem Rick Perry, governador de Texas, ou Mitt Romney, ex governador de Massachussets, as principais estrelas opositoras, parecem motivar a inclinação dos eleitores a seu favor, menos ainda por suas posturas sobre o tema migratório.

* Jornalista da redação norte-americana da Prensa Latina.