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José Ruy: 11/9 foi pretexto dos EUA para aumentar agressões

Os ataques contra Nova York e Washington foram o pretexto para o aumento da agressão contra países do Oriente Médio, provocando um aumento na tensão e na insegurança, levando o mundo várias vezes à beira de uma guerra generalizada.

Por José Carlos Ruy

Torres gêmeas ardem antes de entrar em colapso no 11 de Setembro

“Ou você está conosco, ou estão com os terroristas. Deste dia em diante, qualquer nação que continue a abrigar ou apoiar o terrorismo vai ser considerada pelos Estados Unidos como um regime hostil” – com estas palavras do então presidente George Bush na mensagem ao Congresso dos Estados Unidos em 20 de setembro de 2001 (nove dias depois do ataque ao World Trade Center, em Nova York) ameaçou todos aqueles que não se alinhassem em sua chamada guerra contra o terrorismo. E impunha às nações uma única opção: apoiar as ações dos EUA contra os povos.

Esta foi a consequência mais visível e terrível dos ataques contra o território americano ocorridos no dia 11 de setembro de 2001 (que derrubaram as torres do World Trade Center, em Nova York) e que completam quinze anos sob uma enxurrada de badalações pró-americanas na mídia, apresentando aquelas ações como terrorismo sem sentido contra os EUA. É uma forma de ver que não ajuda a entender a complexidade daqueles acontecimentos.

Toda ação terrorista é condenável; é uma forma de luta distanciada das grandes massas e quase sempre fere civis inocentes. Mas um ataque como o de 11 de setembro de 2001 não pode ser entendido como uma ação isolada, mas parte de uma guerra sendo uma resposta – condenável, é preciso repetir – a ações igualmente violentas e terroristas cometidas por tropas dos EUA contra nações desde o século 19. Neste sentido, o ataque de 11 de Setembro foi um ato de guerra que tem atrás de si uma longa história de invasões, ocupações, intervenções realizadas em todo o mundo por tropas dos EUA.

Um balanço provisório mostra que foram cerca de 130 agressões a países estrangeiros desde a guerra contra o México iniciada em 1846 após a anexação do Texas aos EUA. Há um padrão neste conjunto de agressões feitas para defender os interesses geopolíticos, garantir suprimentos para a economia (particularmente petróleo) e defender os privilégios econômicos dos capitalistas dos EUA.

Mais de 50 delas ocorreram nas Américas Central e do Sul impedindo que os povos conquistassem regimes democráticos e soberanos. Outra marca foi o combate ao comunismo, que levou à proliferação de bases militares na Europa e Ásia para estabelecer um cordão em torno da então União Soviética e da China Popular.

Uma terceira característica foi a subordinação dos povos do Oriente Médio a governos dóceis aos EUA para garantir o acesso às fontes de petróleo. Estas agressões cresceram depois da década de 1950 e, particularmente, dos anos 70 quando os governos árabes reforçaram o controle sobre o petróleo e aumentaram seu preço. Foram quase trinta intervenções no Oriente Médio deste então, com guerras prolongadas para apoiar ditadores pró-EUA ou derrubar governos democráticos e nacionalistas, como ocorreu no Irã em 1953, com o primeiro-ministro Mohamed Mossadegh, que havia nacionalizado petróleo. E também para garantir a integridade de Israel, a cunha do imperialismo no Oriente Médio e um mortífero cão de guarda contra palestinos e demais nações árabes.

Os ataques de 11 de setembro estão diretamente ligados a essas agressões imperialistas. Foram agentes dos EUA que financiaram e fortaleceram as milícias fundamentalistas islâmicas (que chamavam, então de “guerreiros da liberdade”) para lutar contra o governo democrático do Afeganistão na década de 1970 e, a partir daí, usadas contra governos nacionalistas e soberanos. Após a derrota do regime democrático do Afeganistão, em 1979, as contradições com os EUA emergiram, com uma feição de fundo religioso e elas se refletiram numa espiral de violência que inclui os ataques contra Nova York e Washington em 2001.

Depois de 2001 o unilateralismo dos EUA cresceu, mas não era novo: em 1965 o Congresso dos EUA já havia reconhecido o “direito” do país intervir em qualquer nação, principalmente no continente americano. Era a época da ascensão da guerra do Vietnã, que terminou com a derrota americana em 1975.

O unilateralismo e o desprezo ao direito internacional cresceram depois de 2001, ameaçando como nunca a segurança e a estabilidade do mundo, que ficou mais perigoso devido às pretensões hegemônicas do imperialismo dos EUA. As agressões contra o Afeganistão (invadido em 2001) e o Iraque (ocupado desde 2003), o vandalismo israelense contra os palestinos e a fúria anti-islâmica sustentada pelo imperialismo foram o fermento desse perigo que ameaça os povos.

Mesmo a crise econômica que marcou a década e aprofundou-se desde 2007 está ligada àqueles acontecimentos. O preço do petróleo disparou, pulando de 28 dólares o barril em 2000 para 40 dólares em 2004 e mais de 100 dólares em 2008. Frente às dificuldades econômicas, o governo dos EUA afrouxou os impostos dos ricos, desregulamentou o sistema financeiro e ampliou o crédito mesmo para emprestadores em condições duvidosas, criando o canteiro onde a crise floresceu.

A chantagem americana contra os povos traduziu-se também em ataques contra a democracia cujo epicentro era o próprio EUA, onde o Patriot Act, aprovado por Bush em 26 de outubro de 2001 para combate o terror, foi um golpe contra as liberdades civis e deu amplos poderes para a polícia invadir residências, espionar cidadãos, prender e torturar suspeitos, limitou o direito de defesa dos acusados, e permitiu que toda ação que as autoridades considerem antigovernamentais seja vista como terrorista. A interpretação do 11 de setembro como uma ação terrorista islâmica passou a ser, desde então, o principal pretexto tanto para a agressão aos povos no Oriente Médio como para a implantação do estado policial dentro das fronteiras dos EUA. E que afirma isto não é nenhum militante antiamericano: é o economista Paul Craig Roberts, que foi editor do Wall Street Journal e secretário assistente do Tesouro dos EUA sob a presidência conservadora de Ronaldo Reagan. “Os norte-americanos”, disse ele, “encontram-se reduzidos à versão do 11 de Setembro como ataque terrorista muçulmano porque ela justifica o massacre das populações civis em vários países muçulmanos e, internamente, um Estado policial apresentado como o único meio de nos proteger dos terroristas”.