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A controvertida cultura de trabalho do McDonald’s

Pesquisa aponta que o McDonald’s é a empresa que mais contrata no Brasil e uma das cem melhores empresas para se trabalhar no país, segundo avaliação do Instituto Great Place to Work. No entanto, a rede de fast food é alvo de denúncias de funcionários e do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp). As principais denúncias resultam de baixos salários e do ambiente de trabalho degradante.

No último ano, em um acordo firmado com o Ministério Público do Trabalho (MPT) da 2ª Região, em São Paulo, o McDonald’s teve que pagar multa de R$ 13,2 milhões e cumprir uma série de adequações trabalhistas. Na investigação, o MPT comprovou várias irregularidades, como extensas jornadas de trabalho (com prorrogação além das duas horas extras diárias permitidas por lei), ausência do período mínimo de 11 horas de descanso entre dois turnos, falta de descanso contínuo de 24 horas pelo menos uma vez por semana e o cumprimento de toda a jornada em pé, sem local para repouso. Também foi constatado o fornecimento de alimentação inadequada aos seus funcionários, entre outros pontos.

Pesquisa a favor

O McDonald’s há 13 anos está na lista das melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Nos sub-rankings, a empresa ocupa o primeiro lugar nas que mais contratam e com maior número de jovens. Também aparece entre as que possuem o melhor treinamento de funcionários (17º) e com maior número de mulheres (20º). A contratação é uma das práticas culturais analisadas pela pesquisa, como comenta a gerente de marketing do Instituto, Viviane Rocha.

“O que a gente viu no McDonald’s é que, além de ser a que mais contratou, tem um lado de uma preocupação muito grande de contratar alinhado com a cultura dele”.

Ela também aborda o perfil jovem do trabalhador contratado pela rede. O que, para a pesquisa, justificaria a alta rotatividade de funcionários na empresa.

“O McDonald’s tem um estilo de contratar pessoas muito jovens, em início de carreira. É uma marca forte, na qual se consegue fazer um currículo bem feito. Mas para os funcionários, dentro da nossa pesquisa, a gente avalia que é um excelente lugar para trabalhar”.

A metodologia divulgada pelo estudo atribui peso de 67% para a opinião dos funcionários, por meio de 58 afirmativas fechadas e duas perguntas abertas. Os outros 33% são de respostas abertas vindas do setor de recursos humanos das empresas.

A pesquisa está em uma edição especial da revista Época, lançada no dia 20 de agosto, com o título de “Guia Melhores Empresas para Trabalhar 2011-2012”. No Brasil, foram avaliadas 923 empresas. O mesmo estudo é realizado em outros 45 países.

Sindicato contra

O Sinthoresp – que moveu a ação geradora da multa milionária ao McDonald’s –, recebe com frequência denúncias de funcionários. Entre as mais constantes estão aquelas sobre a jornada móvel e variável e a dispensa de mulheres durante a gravidez. O advogado do Sindicato, Rodrigo Rodrigues, explica como é a remuneração neste tipo de jornada aplicada pela rede de fast food.

“Você tem 220 horas mensais para cumprir perante a empresa. Mas você pode trabalhar em um mês 40, 50 horas. E vai receber pelo horário trabalhado. Você pode receber R$ 650, como também R$ 50, R$ 100”.

O valor da hora trabalhada no McDonald’s é de R$ 2,38 – como divulgado em reportagem do jornal Brasil de Fato com o contra-cheque de um funcionário.

Para Rodrigues, a explicação para os índices de entrada e saída de trabalhadores na empresa está nos baixos salários e, também, nas condições precárias de trabalho.

“A rotatividade do McDonald’s chega a 90%. Mais de seis meses, dificilmente eles (os funcionários) ficam. Porque, primeiro, a jornada é muito extenuante. Na verdade, isso não é trabalho, é exploração. Ainda mais quando se trata de crianças e jovens de 14 a 18 anos.”

Atualmente, o Sinthoresp move ação na Justiça pedindo a aplicação da convenção coletiva proposta pelo Sindicato, que tem salários e benefícios melhores aos praticados hoje. Outra ação judicial importante foi a do Ministério Público no Paraná, que ganhou a ação contra a cláusula da jornada móvel e variável no Tribunal Superior do Trabalho no Estado.

*Fonte: Envolverde;  publicado originalmente pela Radioagência NP