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Mulheres precisam lutar para os homens dividirem o poder

Em abril de 2011, a revista Time colocou Bineta Diop no seu ranking anual das 100 pessoas mais influentes do planeta. Fundadora e diretora da organização não governamental Femmes Africa Solidarité (FAS), dedica-se à proteção de mulheres em zonas de conflito e à  integração feminina nos processos de paz.

A senegalesa começou sua carreira internacional em direitos humanos há 27 anos como coordenadora do programa da Comissão Internacional de Juristas, onde obteve uma vasta experiência em questões de direitos humanos, não apenas em África mas também na Ásia e América Latina.

Em entrevista à IPS, declarou que as mulheres devem desafiar os homens para obter o poder político e econômico. Quando questionada a respeito da Declaração Solene sobre Igualdade de Gênero na África, colocou em xeque a sua implantação, já anunciada por governos europeus, americanos e africanos.

Argumentou: “ A conferência internacional de Dacar não foi apenas mais uma. A Declaração Solene, adotada pela União Africana (UA) em 2004, já entrou em vigor em alguns países. Ruanda e África do Sul a estão implantando. Porém, se realmente queremos que seja realidade, precisamos de um contexto de execução com indicadores que possam ser medidos e um orçamento. A sociedade civil, os governos e a Organização das Nações Unidas (ONU) devem trabalhar em conjunto em um plano de ação que acelere a implantação da declaração”

Em breves palavras, explicou que “os especialistas fizeram seu trabalho, agora é a vez dos políticos”.

Com relação à “monumental” luta para conseguir igualdade de gênero, declarou que a prioridade é garantir que os assuntos femininos sejam considerados em políticas e programas.

“Não estou certa de que a representação dos homens tenha utilidade, nem que eles possam expressar as necessidades das mulheres. A liderança feminina deve estar refletida diretamente nos mecanismos de tomada de decisão. Para que isto ocorra, as mulheres devem falar de seus próprios assuntos. Este é o centro da luta pela igualdade de gênero. A prioridade é atender as mulheres com mais desvantagens e as que são vítimas da violência em zonas de conflito. Também é preciso ajudar a elevar a voz das que não podem ser ouvidas”, conclamou.

Defendeu a importância das mulheres engrossarem as fileiras militares, garantindo seu papel na segurança e possibilitando soluções para a insegurança e o conflito. Além disso, contou que a sua organização “também se dedica a projetos com vistas à implantação da Resolução 1325 da ONU, que exorta as mulheres a se colocarem no coração das estruturas militares, judiciais e políticas para transformá-las”

Finalmente, explicou que a representação feminina na tomada de decisões evoluiu: ”Se observarmos o progresso que houve entre a adoção da Plataforma de Pequim, em 1995, e agora, veremos os êxitos. Não se pode negar nem dizer que o documento foi ignorado. A Resolução 1325 permitiu às mulheres sentarem-se à mesa de negociações da ONU, dialogar com o Conselho de Segurança em questões fundamentais. Esse documento permitiu que mulheres como eu estejam no fórum mundial, com o secretário-geral, Ban Ki-moon, e falemos sobre paz e segurança. Junto com Mary Robinson, ex-presidente irlandesa, influímos no Conselho de Segurança. Claro, ainda há muito a ser feito. Concordo que as mulheres do campo continuam sofrendo apesar do duro trabalho feito para que mais da metade do parlamento de Ruanda fosse ocupado por mulheres. O avanço é muito lento”.

Colocando êxitos e lentidão dos processos na balanço, o saldo ainda é positivo e continuar, sem dúvida, é preciso: “as mulheres não esperam de braços cruzados, ainda que o poder econômico e político esteja nas mãos dos homens. É, precisamente, nesse campo que se deve lutar. E não o fazemos pegando em armas. Desafiamos os homens a compartilharem o bolo, o poder econômico e político.

Redação com informações da Envolverde/IPS (FIN/2011)