Herança maldita na segurança

Iniciativas erradas ou insuficientes ao longo de quatro gestões resultaram em aumento da criminalidade no Paraná. Estado é o nono com o maior número de homicídios

por* Luiz Felipe Marques

O acúmulo de políticas equivocadas ou insuficientes na área de segurança pública durante boa parte das últimas duas décadas deixou um quadro preocupante da criminalidade no Paraná. Em dez anos, o número de homicídios aumentou em 111,4% – de 1.633, em 1998, para 3.453, em 2008 – e o Paraná passou a figurar como o nono estado brasileiro com o maior número de assassinatos por 100 mil habitantes (com 32,6 casos), de acordo com dados do Ministério da Justiça.
Também foram nesses anos que Curitiba deixou de ser a 18.ª capital mais violenta do país, em 1998, para se tornar a 6.ª, em 2008. Na classificação de violência entre todos os municípios brasileiros, ganharam destaque as cidades paranaenses de Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, hoje 3.ª colocada no ranking de taxa de homicídios por habitantes, e Guaíra, no Oeste do estado, em 10.º lugar.
6.° lugar
é a posição de Curitiba entre as capitais mais violentas do país.
9.° lugar
é a posição do Paraná entre os estados mais violentos.
111,4%
foi o quanto aumentou o número de homicídios no Paraná entre 1998 e 2008.
32,6
a cada 100 mil habitantes é a taxa de homícidios do Paraná.
Pouca atividade e crises marcaram o governo Lerner

No balanço dos dois últimos governos estaduais, o que mais se encontra são críticas generalizadas à falta de atuação da Secretaria de Estado da Segurança Pública e à troca de acusações entre os ocupantes dos cargos.

Passados os oito anos do governo Jaime Lerner (1995-2003), quando pouquíssimo foi feito, e mais os sete anos de Roberto Requião (2003-2010), nos quais a falta de melhoras efetivas deixou os problemas maiores, a atual gestão herda uma situação problemática e que demanda esforços rápidos e atenção prioritária no setor. Este cenário é unanimidade entre os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Desafios

Os maiores desafios do governo vão desde a necessidade de au­­mentar os investimentos no setor e em áreas de base (como a educação, a saúde e o emprego), passam pela demanda de uma melhor estrutura de administração e investigação da Polícia Civil e têm como ponto crucial melhorar a relação de confiança da população com a polícia. Em todos esses pontos, os últimos governos deixaram a desejar.

“Estamos colhendo os maus frutos de gestões anteriores, que vêm se acumulando há mais de uma década”, define a presidente da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), Priscilla Placha de Sá. “Os últimos governos não implantaram políticas de estrutura social que poderiam fazer com que os crimes diminuíssem em médio e longo prazo, e também falharam na presença estatal do dia a dia, no trabalho das polícias civil e militar.” Na avaliação dela, a falta de atuação das duas gestões anteriores fez com que a situação piorasse: enquanto não foram apresentadas soluções para a violência, ela acabou evoluindo.

“Em vez de adotar as medidas ideais – que passariam por uma diversidade de programas sociais e também pela capacitação dos policiais, por exemplo –, foram aplicados projetos ‘cosméticos’ ou midiáticos, que apenas geravam uma falsa sensação de segurança e que, no fim, contribuíram para o aumento dos crimes no estado nos últimos anos”, analisa Paulo Pedron, presidente da ONG Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha).

Entre os fatores que motivariam a falta de projetos eficazes estão o alto valor de alguns investimentos necessários e principalmente a visão de que parte dos resultados seriam alcançados apenas em longo prazo, ou seja, acabariam sendo colhidos em outras gestões – o que desagrada aos egos políticos, como argumenta Priscilla.
publicado: Gazeta do Povo 25/07/2011.