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Racha na CGTB ameaça herança quercista no sindicalismo

Briga interna entre o presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Antônio Neto, e o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR 8), encabeçado pelo vice-presidente da central, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, e o secretário-geral, Carlos Alberto Pereira, pode rachar a entidade. A disputa pelo poder na menor entre as seis centrais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho se arrasta há mais de dois meses.

Em meio a disputas judiciais e nos órgãos de decisão da CGTB, os dois grupos, antes unidos, realizaram congressos separados e declararam-se eleitos. A briga já levou a desfiliação de pelo menos um sindicato, a Federação Nacional dos Trabalhadores Celetistas nas Cooperativas no Brasil (Fenatracoop), que se juntou a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

A Força Sindical também foi procurada por sindicalistas dispostos a mudar de grupo, o que deve dificultar para a CGTB atingir o número de filiados necessário para receber o imposto sindical.

Segundo sindicalistas ouvidos pelo Valor, a representatividade é o principal motivo da briga. A lei que legitimou as centrais e deu a elas 10% do imposto sindical foi assinada em 2008 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde então, o Ministério do Trabalho só reconhece as centrais que representem mais de 7% dos sindicalistas do país. Para atingir esse número, a CGTB iniciou um processo de expansão e saltou de 86 sindicatos em 2006, ano do 5º Congresso Nacional, para 394 neste ano.

O crescimento resultou em briga pelos cargos da nova diretoria. O grupo do MR-8, que participou da fundação da central no final da década de 1980, mas que hoje não está mais ligado a nenhum sindicato específico, exigiu a manutenção dos cargos que tinha – a secretaria-geral, a vice-presidência, a tesouraria, a secretaria de imprensa e a secretaria de relações internacionais – para apoiar a reeleição de Neto.

O presidente, entretanto, tinha prometido espaço para os novos filiados e dizia a aliados que não conseguia governar com o MR-8 no comando dos principais postos. Nesse ponto começou a troca de acusações.

"Estamos expurgando da CGTB aqueles companheiros que não atendem a legislação sindical brasileira. Eles não são sindicalistas de verdade, são parte de um movimento político partidário", afirmou Neto, que integra a Executiva Nacional do PMDB. Antes apoiado pelo ex-governador do PMDB Orestes Quércia (morto no ano passado), o MR 8 trabalha desde 2009 para fundar o Partido da Pátria Livre (PPL) e usa a estrutura da CGTB para ajudar na construção da legenda, segundo sindicalistas.

Para Bira, o discurso não é válido. "Fomos aliados por 26 anos e ele nunca reclamou. O que ocorreu é que ele quis dar um golpe para tomar o controle da central", disse. "Saí do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e dediquei minha vida inteira para a CGTB, ao contrário dele, que passava mais tempo no próprio sindicato [dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação de São Paulo]."

Os dois grupos se dividiram na preparação para o congresso. Neto queria retirar a cobrança de 2% sobre o faturamento dos sindicatos, mais R$ 200 por delegado, para permitir o voto na eleição. O MR 8 foi contra, dizendo que o congresso tinha custos. A proposta foi derrubada na executiva, onde os aliados de Bira são maioria, e referendada na direção, em que o grupo de Neto é maior.

Houve contestação judicial, com vitória do então presidente, o que não evitou a realização de dois congressos – um no Moinho Santo Antônio, na zona leste de São Paulo, feito por Bira, e outro no Hotel Holliday Inn, na zona norte da capital paulista, marcado em cima da hora por Neto, que diz não ter segurança no outro local. Os dois grupos contestam a realização do evento pelo adversário e prometem entrar na Justiça para garantir a posse.

Fonte: Portal Força Sindical