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Grécia: Pacote de arrocho sob risco de rejeição no Parlamento

Ministros gregos exortaram membros indecisos do Partido Socialista no sábado (25) a “fazer o seu trabalho” em uma crucial votação no Parlamento na próxima semana, pedindo que os congressistas apoiem medidas de arrocho que os credores do país exigem e que a classe trabalhadora e os sindicatos repudiam.

O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, ofereceu-se para conversar com qualquer parlamentar que tenha preocupações sobre o projeto. “Creio que o senso de responsabilidade vai prevalecer no fim, o Deus da Grécia é grande,” afirmou o ministro à emissora de televisão Alter.

Imposições dos credores

O “senso de responsabilidade”, no caso, reflete a completa submissão aos interesses e imposições dos bancos credores (especialmente alemães e franceses), representados pelo FMI, Banco Central Europeu e União Europeia, mais conhecidos como a troika. Certamente é a eles que o ministro se refere quando fala em “Deus da Grécia”.

Em nome do euro e do rigor fiscal, a troika impõe aos trabalhadores e trabalhadoras da Grécia um pacote de arrocho considerado inaceitável pelos sindicatos e combatido com energia pelo Partido Comunista (KKE).

Um pacote que traz recessão, desemprego em massa, redução de salários e direitos. No primeiro ano de “socorro” à economia grega por parte do FMI e demais membros da troika o desemprego saltou de 12% quando a “ajuda” e as receitas recessivas foram impostas, em maio de 2010, para mais de 16% em março deste ano.

Mais recessão

O plano que a troika quer empurrar goela abaixo do parlamento e do povo grego aprofunda a recessão que atormenta o país há três anos, arrocha ainda mais os trabalhadores e pode condenar a Grécia a algumas décadas perdidas.

Com a maioria do primeiro-ministro, George Papandreou, reduzida a apenas alguns poucos votos, um deputado do Partido Socialista (Pasok) afirmou na sexta-feira (24) que votaria contra as medidas, juntando-se a outro rebelde da legenda, que anunciou sua oposição neste mês.

O pacote com corte de gastos, privatizações e aumento de impostos exigidos pelos credores internacionais para reduzir o déficit público da Grécia é uma verdadeira declaração de guerra à classe trabalhadora e causou revolta entre a população grega, que tomou as ruas em protestos diários.

Uma greve geral de dois dias está programada para a próxima semana, de modo a coincidir com as votações, após uma série de greves em empresas, inclusive a PPC, a maior produtora de energia na Grécia, que é candidata a ser privatizada no próximo ano.

Às portas da moratória

Os credores estrangeiros (alemães e franceses, principalmente) exigiram um comprometimento claro com o pacote de arrocho e, se o Parlamento não aprovar as medidas de austeridade nos dias 29 e 30 de junho, a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional) podem se recusar a liberar um financiamento de 12 bilhões de euros que a Grécia necessita imediatamente ou poderá não aprovar um novo pacote de ajuda, o que precipitaria o país à moratória.

Atenas aceitou um pacote de 110 bilhões de euros da UE e do FMI em maio de 2010, mas o dinheiro nem chegou a entrar no país, foi direto para o bolso dos banqueiros em pagamento dos juros da dívida externa, que continuou subindo.

Os bancos privados não querem refinanciar os débitos e agora a Grécia “precisa” de um segundo auxílio de valor similar para continuar pagando juros até o final de 2014. O ministro da Justiça, Miltiadis Papaioannou, exortou seu colegas no Congresso a apoiar as impopulares medidas. “Eles precisam tampar seus ouvidos para todas as críticas que estão recebendo e fazer o seu trabalho,” afirmou, em entrevista à emissora de televisão Mega.

Maioria incerta

Apesar da grande pressão de líderes europeus, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, o partido de oposição Nova Democracia recusou-se a apoiar o pacote, o que significa que dois ou três votos para cada lado podem decidir o resultado.

O governo de Papandreou agora tem 155 assentos num Parlamento que possui 300. As medidas de austeridade custaram aos socialistas cinco deserções desde as eleições, em outubro de 2009, quando a legenda tinha 160 parlamentares.

A melhor opção para a Grécia, por mais traumática que possa parecer, é a moratória soberana da dívida externa, que no caso teria de ser acompanhada pela saída da zona do euro e recuperação da soberania sobre a política monetária.

Da Redação, Umberto Martins, com agências