Brasil vive o menor patamar de desigualdade dos últimos 50 anos

Por Ana Cristina Cavalcante*

“Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Até quando esperar?

“Até quando esperar”, da Plebe Rude

O Brasil experimenta, hoje, o menor patamar de desigualdade social dos últimos 50 anos. Desde 1960, no distante século 20, o índice de Gini (aquele que mede a distância entre ricos e pobres) não era tão bom. Chegou a 0,5304. Ok, leitor-internauta, guarde esse número depois de soltar um emocionado “U-Hu!”. Afinal, a notícia é mesmo motivo para soquinhos comemorativos no ar. As coisas estão melhorando desde que os governos brasileiros domaram a inflação, fortaleceram a nossa moeda e consolidaram a estabilidade para, finalmente, darem o segundo passo: fazer o desenvolvimento socioeconômico começar a acontecer. Por favor, guarde também essa expressão “começar a acontecer”.

A constatação de que a vida melhorou para a querida brasileira e o querido brasileiro é da Fundação Getulio Vargas (FGV). A instituição preparou o estudo Desigualdade e Renda na Década, no qual atesta que a pobreza encolheu 16% desde a implantação do Plano Real. Mas o número mais revelador é o que mostra a relação entre o avanço da renda de ricos e pobres. Entre os 10% mais pobres a renda subiu 68%. No topo da pirâmide, a expansão é menor: pouco mais de 10% de alta para os 10% mais ricos.

O panorama nacional tão difícil das últimas décadas vem mudando pela ação, na sociedade, de duas importantes políticas públicas: a transferência de renda e investimentos em educação, que elevaram o índice de escolaridade do brasileiro. Com isso, os recursos econômicos da metade mais pobre da população aumentaram 5,5 vezes mais rápido do que a riqueza da parcela mais abastada da sociedade.

Lembra daquele número que pedi para guardar no começo deste comentário? É 0,5304. Pelos padrões internacionais estabelecidos pelo Índice de Gini, que vai de 0 a 1, quanto mais alto este número maior será a concentração de renda, pior a distribuição de riqueza e mais abissal a distância entre ricos e pobres. O desempenho espetacular alcançado pelo País ainda é muito pouco diante do necessário. Não vai além de mais um passo (importante, lógico) a caminho de uma sociedade justa. E sabe aquela expressão “começar a acontecer”? Então, caro leitor-internauta, é exatamente isso. Apenas o começo. Ainda há muito por fazer e muito a avançar. Por enquanto, valem os “U-Hu!”, soquinhos no ar e a certeza de que querer um país mais igual – e para todos – não era sonho!

Por Ana Cristina Cavalcante é jornalista, com diploma, que adora economia, filosofia, rock inglês e futebol.

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