José Cícero – O que está por trás do assassinato de Bin Laden

Depois do absoluto desserviço e da toda falta de criatividade demonstrada recentemente pela imprensa brasileira e da mídia mundial por excelência durante a cobertura do casamento do príncipe herdeiro da coroa britânica, amanhecemos esta segunda-feira, dia 2 de maio, como espectadores de mais um ‘shownalismo’ planetário.

Destes enfeitados nos seus mínimos detalhes, por conseguinte, repleto de segundas intenções. Produzido justamente para não informar e não produzir reflexões. Razão pela qual é preciso lê-lo com esforço nas suas entrelinhas…

Desta feita dando conta do assassinato pela tropa de elite norte-americana do mega terrorista Osama Bin Laden há muito escondido nas bibocas do Afeganistão. Mais uma nação, aliás, como tantas outras espalhadas pelo globo, que foi reduzida à pior das misérias humanas pelos Estados Unidos: guerra, pobreza, ignorância e fome.

De novo, agora e como sempre, a imprensa do Brasil e do mundo fala pela boca do Pentágono. Reproduzindo assim, ipsis literis, o que dizem, o que escrevem, o que querem e o que pensam as agências de notícias internacionais, capitaneadas e teleguiadas pelos interesses do governo dos EUA.

Ora, qualquer um, a grosso modo, poderá dizer sem mais reflexão:

– Pôxa, mais o Bin Laden morto. Isso é bom!
E eu o indagaria:
– Bom para quem e para que?

E mais: Quem são os verdadeiros interessados no assassinato do terrorista? Que outros interessem estarão por trás deste fato? Será que com o assassinato de Bin Laden acaba-se também com o terrorismo no mundo? Evidente que não.

No entanto, a ideia (deles) é justamente esta. Fazer com as pessoas absorvam este episódio como um ato heróico e monumental promovido pelo governo ianque. Ou seja, como se os militares norte-americanos estivessem prestando um grande serviço à humanidade. O que não é verdade.

E como perguntar não ofende: – Por que será que o Bin Laden fora assassinato justamente agora quando o presidente Barack Obama começava a ter sua (re)eleição seriamente ameaçada? Quando sua popularidade caía vertiginosamente, principalmente junto ao eleitorado que o consagrou nas urnas?

Confesso que não costumo acreditar em coincidência. Simplesmente por uma razão muito óbvia: ela não existe. Ora, Bin Laden era um trunfo que os EUA tinham como certo não de agora. Seu paradeiro não era desconhecido de ninguém dentro das forças militares e do governo. Era tido apenas, como “Top Secret”, isto é, segredo de estado.

De forma que o assassinato do temível terrorista e chefe supremo da Al Qaeda, no fundo, representa mais uma farsa montada, peça por peça, no sentido de enganar a opinião pública mundial. Com o propósito de esconder os verdadeiros interesses espúrios dos EUA no mundo. Desviando as atenções do planeta no tocante a sua política belicista e sua cruel ofensiva no mapa do Oriente Médio em busca de sugar à força, o petróleo daquela região.

Ainda fazer com que o mundo se esqueça das barbaridades que eles fizeram com o povo iraquiano, assim como o apoio continuado ofertado ainda hoje a Israel para a promoção do massacre que realiza contra os palestinos – o que se configura como um autêntico genocídio pós-moderno.

Bin Laden, assim como tantos outros assassinos e ditadores da história mundial, foi ‘cria’ desta política expansionista, sangrenta, espoliativa e mentirosa que o governo norte-americano agora finge ser inimigo e combater.

Com o assassinato de Bin Laden ninguém em sã consciência será capaz de garantir que o terrorismo no mundo terminou. Até porque, o pior do terrorismo continua sendo aquele praticado pelo próprio governo dos EUA, isto é, o terrorismo de estado.

O assassinato de Bin Laden tem, portanto, outro direcionamento que a mídia não está autorizada a nos dizer. Dentre os quais, amenizar o descontentamento por conta da crise financeira dentro e fora daquele país. Elevar a popularidade de Obama a tempo de não inviabilizar a sua reeleição e a sua posição de líder maior do imperialismo mundial. Como igualmente, recuperar os espaços perdidos para nações crescentes como a China.

Contudo, diria que Bin Laden e tantos outros que elegeram atos criminosos como o terrorismo à guisa de forma de luta, só estarão mortos efetivamente quando os EUA e seus aliados pararem com a velha política de exploração e desrespeito ao direito de autonomia dos povos pelo mundo afora. Quando pararem de se intrometerem na soberania de outras nações democráticas do planeta. Quando pararem de apoiar e financiar sub-repticiamente a miséria e a guerra, além de diversos governos antipopulares e ditaduras sanguinolentas.

Só depois disso é que Bin Laden deixará de atormentar o governo dos EUA e seus asseclas. Porque de outro jeito, todo o resto é pura mentira sustentada por uma grande farsa distribuída em rede mundial diariamente nos nossos lares.

Com o assassinato de Bin Laden “eles” ingenuamente desejam faturar e passar um recado imperial ao mundo. Como quem nos dissesse: Estão vendo? Nós somos os maiores. Os verdadeiros donos do planeta. Mas não acreditemos nessa bobagem. Pois é mais uma mentira.

José Cícero é professor, poeta e escritor

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