Artigo: Expandir o transporte público em SP com visão estratégica

No Seminário Rumos e Desafios para a cidade de São Paulo do PCdoB, realizado no dia 2/04 na Capital, apresentamos quatro projetos para superar problemas crônicos da cidade e que podem contribuir para o crescimento econômico e desenvolvimento urbano bem como o desenvolvimento humano de grandes parcelas da população paulistana. O segundo artigo da série segue abaixo e versa sobre transportes.

*Por Rosana Helena Miranda

Os congestionamentos nas ruas de São Paulo são tão importantes na vida da cidade que merecem até uma rádio que informa de minuto a minuto os pontos de estrangulamento, os acidentes, o carro quebrado, a falta de gasolina, etc. e o assunto está na pauta das inúmeras outras rádios da capital que incluem na sua programação diária informações do trânsito transmitidas pelos próprios ouvintes reféns dos congestionamentos.

Leia também o primeiro artigo da série: Um projeto para os bairros centrais da cidade de SP

A cidade atingiu a marca dos 7 milhões de veículos, fruto em parte do crescimento econômico do país mas principalmente porque a opção do automóvel ainda é mais vantajosa do que o transporte público disponível na cidade. Não há nenhuma novidade nestes fatos para o cidadão paulistano, para os especialistas em transporte e mobilidade urbana.

Ocorre que, os erros do passado permanecem como prática nas soluções para estes problemas. Quem cuida do sistema viário, se preocupa preferencialmente com fluxo dos automóveis e quem projeta linhas de metrô busca ao atendimento de uma demanda já saturada, correndo atrás do prejuízo.

São Paulo parou de crescer, no centro e na periferia ou cresce a taxas muito pequenas e às vezes até negativa, e começou a envelhecer no bom sentido do que isto possa significar, então mais do que nunca é necessário e possível projetar para o futuro. E o futuro é logo ali. 2012 com a revisão do Plano Diretor da cidade e 2014 com a copa do mundo, um evento internacional, onde os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil e para a maior metrópole da América Latina.

O automóvel só sairá das ruas com um investimento de peso no transporte público, para isso é preciso radicalizar. É preciso diminuir o espaço do automóvel com novas linhas de transportes sobre trilhos nos principais eixos viários de ligação da cidade, com ciclovias segregadas e mais linhas de metrô.

As intervenções cirúrgicas na infra-estrutura viária de São Paulo sempre seguiram a lógica do automóvel e deixaram o pedestre em segundo plano, agora é a hora de um pacto entre os três níveis de governo no sentido de integrar os projetos, unificar a visão da cidade que queremos no futuro e mais imediatamente para a copa de 2014. Por isso algumas ações devem ser concentradas dentro de um único plano com ação conjunta dos diferentes órgãos envolvidos nos projetos de infra-estrutura.

Podemos elencar algumas delas sempre pensando que a estrutura viária deve servir às grandes linhas de transporte de grande capacidade.

A expansão das linhas do metrô deve se orientar como fator de indução de desenvolvimento e não apenas para atender demanda existente. Neste sentido a ligação da Estação de Itaquera com o Aeroporto de Cumbica e a ligação de Congonhas com a Estação da Luz são linhas prioritárias.

Os corredores de ônibus devem ter prioridade no sistema viário.

As ciclovias segregadas devem fazer parte de uma intervenção cirúrgica na cidade de maneira radical em detrimento do automóvel nas grandes avenidas.

Criar um anel metropolitano do metrô ligando as ferrovias na zona leste da capital ao Aeroporto de Cumbica e à Estação do Metrô Tucuruvi.

Levar o transporte de alta capacidade para áreas densamente ocupadas onde certamente causará um impacto positivo na geração de empregos e desenvolvimento local.

Requalificar o espaço do pedestre reconstruindo as calçadas e melhorando o espaço de grandes aglomerados como terminais de ônibus e praças públicas.

E finalmente, os projetos estratégicos para o desenvolvimento da cidade não podem ser encarados como posse de uma gestão temporária, há que se criar uma nova visão de estado onde as grandes questões urbanas tenham continuidade técnica e administrativa e sejam cumulativas nas soluções dos problemas.

*Arquiteta Rosana Miranda.
Profa Dra. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
rosanamiranda@usp.br