Paulo Fonteles Filho denuncia as ameaças da reação no Sul do Pará

Paulo Fonteles do GTT – Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa, denuncia as ameaças de intimidação feitas por agentes da reação a sua pessoa e a membros da Comissão da Verdade.

Denuncias foi entregue a Superintendência da Polícia Federal de Marabá. Leia abaixo o conteúdo do documento.

lmo. Senhor Superintendente
da Polícia Federal de Marabá.

Eu, Paulo César Fonteles de Lima Filho, brasileiro, domiciliado à Rua Curuça 1097, Belém do Pará, portador do Rg 2254926 Ssp Pa, Ouvidor do Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa designado pela Direção Nacional do Partido Comunista do Brasil e Conselheiro da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, vem, respeitosamente, relatar os seguintes fatos que ensejam a atuação desta Superintendência:

Senhor Delegado,

No curso das expedições do Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa, instrumento criado pelo Governo Federal para cumprir com a decisão judicial da Juíza Federal Solange Salgado, de Brasília, que sentenciou a União no sentido de que o estado nacional brasileiro localize, identifique e entregue para as devidas famílias os desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia (1972-1975), bem como, em que condições estes brasileiros, cujo único crime era o de lutar pelo restabelecimento da democracia e das liberdades públicas, foram mortos pelos agentes de segurança da repressão política em nossos anos-de-chumbo (1964-1985), temos observado através de fatos, que ora relato, acontecimentos que têm em sua origem o claro interesse de intimidar tal missão federal e, por conseguinte, inviabilizar o cumprimento da sentença tão necessária para o aprofundamento da democracia em nosso país.

Acontece que tais fatos intimidatórios iniciaram-se no final do primeiro semestre de 2010, durante a segunda expedição do GTT-Md, e o primeiro alvo dos recalcitrantes foi o camponês Euclides Pereira de Souza, o “Beca”, morador da região do Patuá, Município de São Domingos do Araguaia. Tal lavrador, violentamente torturado pela repressão política e assíduo colaborador do GTT-Md, fora informado da presença na região da Santa Cruz, Município de São Geraldo do Araguaia, através de Antônio “Galego”, filho de Pedro “Galego” e sobrinho de Iomar “Galego”, antigos colaboradores da ditadura militar, da presença naqueles sertões de dois remanescentes dos tempos da tortura e da infâmia, os “doutores” Marcos e Ivan. Para quem conhece a linguajem daqueles tempos sabe exatamente o que eram tais “doutores”.

Sabe-se que o “doutor” Marcos foi um dos principais torturadores no Araguaia, sempre contra guerrilheiros e camponeses da região. Tendo, inclusive, participado das sádicas seções contra a integridade física e moral do camponês “Beca”. Segundo aquele lavrador, o vaqueiro Antônio “Galego” levava um recado dos algozes para que Euclides Pereira de Souza, o “Beca”, “não revelasse nada porque senão se veria com eles”.

Ainda por este período soubemos que Iomar “Galego”, que até hoje parece ter amplas relações com os antigos agentes da repressão, andou ameaçando, em São Geraldo do Araguaia, outro colaborador da missão federal, José Maria Alves de Oliveira, o “Zeca do Jorge”, e que se o mesmo prestasse informações ao GTT-Md “iria sobrar para ele”.

Na conclusão dos trabalhos de 2010, abordei as ameaças, dei nomes e as localidades onde se processaram tais eventos em meu relatório das atividades (em anexo). Afirmei em documento encaminhado ao Ministério da Defesa que “estamos diante de algo absolutamente grave porque tais investidas intimidatórias criam um clima de terror na região e inviabilizam o recolhimento de maiores informações para o pleno êxito desta missão governamental”.
No nascedouro de 2011, nos dias 26 e 27 de fevereiro do corrente ano vim até Marabá para acompanhar pelo GTT-Md o encontro dos ex-soldados e ex-funcionários do Incra que atuaram na repressão ao movimento insurgente das matas do Pará. Participei de tal encontro em conjunto com o dirigente comunista Aldo Arantes e com diretores da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA).

No encontro, tomamos ciência de que Valdim Pereira de Souza, ex-militar, motorista do Major Curió entre os anos de 1976-1983,
também estava sendo ameaçado.Tais ameaças iniciaram-se em dezembro de 2010 depois que aquele ex-militar passou a colaborar com os trabalhos do GTT-Md.

Na reunião de fevereiro gravamos um extenso depoimento de Valdim Pereira (anexada a esta denúncia) onde, o mesmo, revela ter participado de uma macabra “operação-limpeza” em 1976 em diversas localidades na região do Araguaia. Disse, ainda, que o responsável pelas ameaças que vêm sofrendo é de responsabilidade do Major Sebastião Curió.
Dias depois do encontro com os ex-militares, já em março, alguns fatos graves voltam a acontecer contra os trabalhos de elucidação promovidos pelo GTT-Md.

Em primeiro de março duas ligações anônimas são desferidas ao celular de Valdim Pereira, sempre em chamadas confidenciais. No dia seguinte, uma caminhonete peliculada, rondou de forma suspeita, insistentemente, nas imediações de sua casa em Macapá-Ap.
No mesmo dia, dois de março, por volta das 12 horas, uma caminhonete cabine dupla, também peliculada, com quatro elementos estranhos parou em frente à casa de Sezostrys Alves da Costa, dirigente da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia, em São Domingos do Araguaia. Um dos elementos perguntou a Daiana dos Santos Ferreira, esposa de Sezostrys, sobre o nosso paradeiro.

Em levantamento realizado podemos tomar conhecimento que o referido carro, S 10, cabine dupla de cor prata, não pertence a nenhum comerciante ou fazendeiro do município, únicos segmentos sociais, naquela cidade, capazes de possuir tal veículo.

Dias depois soubemos através de Abel Honorato de Jesus, o “Abelinho”, que quem esteve circulando pela região, recentemente, é um tal de “doutor” Alceu, ex-capitão do Exército, ligadíssimo ao Major Curió e, que depois da guerrilha, o mesmo, agente da repressão, havia comprado terras em Rondon do Pará, distante uns duzentos quilômetros de Marabá.
Tais informações, relatadas por nós ao dirigente comunista Aldo Arantes, foram repassadas tanto ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim e ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A atitude do ex-Deputado Federal constituinte do PC do B é no sentido de promover as condições para que possamos realizar nosso trabalho em segurança.

Há três dias, 27 de março, outro episódio de maior gravidade aconteceu. Ontem, pela parte da tarde, recebo à informação, através de Diva Santana, da Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça que Merces Castro, irmã de Antônio Teodoro Castro, desaparecido político no Araguaia e, como nós, é membro atuante do GTT-Md sofreu um misterioso acidente em Marabá.

Fui informado que as cinco porcas de um dos pneus da caminhonete em que ela estava, alugada pelo Ministério da Defesa em Marabá, fora afrouxada. Um dos pneus do veículo foi cuspido e o acidente só não gerou vítimas pela baixa velocidade imprimida pelo condutor, militar indicado pelo Ministério da Defesa, e pelo fato de ter acontecido nesta cidade de Marabá.
Diante do exposto, considerando que os fatos acima narrados caracterizam, em tese, um atentado às instituições republicanas e uma vil tentativa de intimidar os investigadores federais do GTT-Md, como também de seus colaboradores, e inviabilizar o cumprimento da sentença da Juíza Federal Solange Salgado, pedimos a imediata investigação por parte da Polícia Federal de Marabá para apurar tais ameaças, bem como prender os responsáveis por tantas intimidações.

Sabemos que nossas vidas, dos membros do GTT-Md, de camponeses e de ex-militares estão sob ameaça e se nada for feito, tenho certeza, um episódio ainda mais grave poderá ocorrer.
Requeiro a esta Superintendência da Polícia Federal que sejam tomadas as providências cabíveis.