Jornalista contesta visão preconceituosa da mídia sobre o Irã

 Para jornalista que estudou no Irã em 2006, a imprensa passa "uma imagem fabricada" do país muçulmano.

 Nem tudo que se vê na mídia sobre o Irã deve ser entendido como uma verdade absoluta. É esta a constatação do jornalista brasileiro Omar Nasser Filho, de 40 anos, que passou três meses no país, na cidade de Qom, próxima à capital Teerã. Segundo ele, grande parte da visão de atraso e injustiça que se tem no Ocidente sobre o país islâmico é fruto de "uma imagem fabricada com base em interesses políticos e econômicos". "A imprensa infelizmente tem capacidade de criar preconceito. A verdade é que o Irã é um país que tem uma civilização milenar e um povo muito religioso. Eles não são bárbaros. Têm suas regras, sua constituição votada pelo povo. O Irã é uma das poucas democracias do Oriente Médio", afirma Omar.

O jornalista destaca que, além de estar localizado numa região que é grande produtora de petróleo e gás, o Irã possui tecnologia suficiente para ter satélite de fabricação própria e domínio da tecnologia nuclear, configurando-se num parceiro interessante para o Brasil. Omar também acrescenta que o Irã "é um país muito seguro" e confessa ter sensação de insegurança muito maior em Curitiba, onde vive no Brasil.

Descendente de libaneses, Omar Nasser Filho foi ao Irã em 2006, para estudar ciências islâmicas no centro universitário de Qom. Nesse tempo de contato com a cultura iraniana, o jornalista diz ter lido muitos jornais publicados no país, em inglês, com matérias que criticavam o governo local.

Sobre os casos polêmicos – como a condenação de morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani (acusada de adultério e assassinato do marido), – Omar diz que faz parte das leis do país a pena de morte, com a sentença após um processo, assim como acontece nos Estados Unidos. Segundo ele, o governo iraniano já adiou por várias vezes a execução de Sakineh, o que mostra que o país está mais sensível aos apelos da comunidade internacional do que os Estados Unidos – que "no ano passado condenaram à morte uma doente mental (Teresa Lewis)".

O jornalista vê "com preocupação" o recente alinhamento do Brasil com os Estados Unidos no tratamento das questões iranianas. Omar diz temer um atrelamento automático das posições brasileiras de acordo com os interesses norte-americanos. "Temo que o Brasil volte a se submeter à política externa americana. O que é bom para os Estados Unidos nem sempre é o melhor para o Brasil", diz.

Fonte: Diário do Nordeste