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Polêmica marca desfile de bonecos gigantes de Olinda (PE)

O encontro dos bonecos gigantes de Olinda, em Pernambuco, foi marcado por uma polêmica gerada por um empresário que, além de registrar como seu o domínio da marca "bonecos gigantes de Olinda" na internet, ainda fez um desfile paralelo, na segunda-feira (7), ao tradicional, que aconteceu nesta terça-feira (8).  No tradicional encontro desta terça, Alcimar Monteiro, homenageado deste ano, dedicou o desfile deste 8 de março às mulheres.

Batizado de "apoteose dos bonecos gigantes", o desfile paralelo chegou a ser confundido pelos foliões com o evento original, que é realizado há 24 anos pelo artista plástico Silvio Botelho, 52, criador de 872 personagens em 37 anos de trabalho.

"É um oportunismo barato", acusou Botelho. "É a banalização da cultura que levou quase quatro décadas para consolidar os valores da terra", disse, referindo-se aos personagens escolhidos pelo empresário Leandro Bezerra de Castro, 47, para serem retratados como bonecos.

Castro levou às ladeiras de Olinda 50 réplicas gigantes, não apenas de personagens da cultura pernambucana mas também da presidente Dilma Rousseff, do presidente dos EUA, Barack Obama, de Chuck, o boneco assassino, de Frankenstein, Fred Kruger e Michael Jackson.

"É o caos, a tragédia", disse o artista plástico. "Daqui a pouco vamos ter o Ronald Reagan, o Pato Donald, o Mickey e toda a Disneylândia em Olinda", declarou. "O que está acontecendo é uma infiltração trágica no Carnaval, que precisa ser banida".

-Clique na figura e veja galeria de fotos do desfile tradicional desta terça:
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Tradição versus mercado

No encontro desta segunda, Botelho levou cem bonecos para desfilar pelas ladeiras do centro histórico da cidade. Entre eles, figuras tradicionais da folia e cultura pernambucanas, como o garçom Batata, fundador do bloco Bacalhau do Batata, a cantora Lia de Itamaracá e o compositor Capiba.

O empresário se defendeu. Disse que não é oportunista e afirmou que seu desfile traz "propostas bem distintas" das de Botelho, "mas que só engrandecem o Carnaval".

Dono de um ateliê, a Embaixada dos Bonecos Gigantes, em Recife, Castro disse que não trabalha somente nos períodos de folia e que desenvolve projetos, como o de retratar a história do Brasil com seus personagens.

Ele elogiou o trabalho do artista plástico, a quem chamou de "grande amigo", e afirmou que registrou o domínio "bonecos gigantes de Olinda" por "precaução".

"Fiz isso para que não fosse eventualmente proibido de desenvolver meu trabalho", declarou. Ele nega que sua intenção seja vetar iniciativas da concorrência.

Opinião da Prefeitura

A secretária da Cultura de Olinda, Márcia Souto, disse que os bonecos gigantes "estão acima das disputas" e que considera inócua a iniciativa do registro do domínio. "É algo que faz parte do imaginário popular, que não pode ser patenteado."

Souto afirmou que não pode impedir a realização do desfile do empresário porque o Carnaval pernambucano é "aberto". Mas declarou que a prefeitura reconhece o encontro, coordenado por Botelho, como o legítimo desfile dos bonecos gigantes de Olinda.

O desfile tradicional

Mais de 100 bonecos, entre representantes de personalidades, de Ariano Suassuna a John Travolta e homenagens a personagens da cultura local como papangus e passistas de frevo, passearam arrastando uma multidão de foliões desde o Largo de Guadalupe até a fachada da Prefeitura, na Rua 15 de Novembro, nesta terça-feira de carnaval.

O forrozeiro Alcimar Monteiro foi o homenageado da agremiação em 2011, e presenteou o público presente na concentração com um show bastante animado. Ao ver "seu boneco" abrindo o desfile, quando por volta das 11h40 os fogos de artíficios anunciaram o começo do evento, o cantor emocionou-se com a materialização de sua imagem gigante: "Esse é um dos momentos mais emocionantes da minha vida artística, não há dinheiro ou fama que sejam mais importantes do que isso aqui, o prazer de estar vivendo este momento ao lado de vocês", declarou.

Monteiro foi gentil e dividiu seu dia de homenagens com as mulheres, entoando versos que declaravam que "todo dia é dia da mulher", em lembrança ao Dia Internacional da Mulher celebrado a cada 8 de março.

Da redação, com agências