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Em visita à Argentina, Dilma defende "século da América Latina"

Em sua primeira viagem internacional desde a posse, em 1º de janeiro, a presidente Dilma Rousseff defendeu nesta segunda-feira (31), em Buenos Aires (Argentina), a importância de "antecessores com sensatez", que, de acordo com ela, foram responsáveis por impor uma nova visão de mundo que enfatizasse a importância regional e o crescimento de nações em desenvolvimento. Dilma defendeu que o século 21 seja "o século da América Latina".

Dilma e Cristina Kirchner na Argentina

"Considero que Argentina e Brasil são cruciais para que possamos transformar esse século 21 no século da América Latina. São os dois maiores países e representam grande potencial de desenvolvimento. Mas eles não conquistaram por evolução natural das coisas, mas pelo empenho político de governantes que tiveram a sensatez e coragem para perceber que o mundo havia mudado, (propiciando) crescimento econômico, afirmação da inclusão social, da nossa sociedade, do meio ambiente", disse Dilma.

“E estou falando necessariamente em transformar os povos brasileiro e argentino e também os [demais] da América Latina”, completou.

Ao lado da presidente argentina, Cristina Kirchner, a mandatária brasileira defendeu ainda projetos de cooperação na área econômica, com exploração do potencial agrícola e por meio de projetos voltados à tecnologia, ciência e inovação, políticas nas áreas nuclear, de biocombustíveis, de habitações populares e de saneamento.

Mulheres no poder

Após reunião ampliada com ministros brasileiros e argentinos, Dilma Rousseff, emocionada, relembrou também o simbolismo de ela e Kirchner serem as primeiras mulheres a serem eleitas democraticamente em seus países e afirmou defender o desenvolvimento das nações também aliado a questões de gênero.

"Para nós, que somos duas mulheres eleitas diretamente nos nossos países, também assumimos papel muito importante na questão da garantia da participação de gênero. Uma sociedade pode ser medida pelo seu avanço e modernidade desde que também assegure a participação das mulheres e a não-discriminação das mulheres. (Significa) demonstrar com isso que esses países, que são os nossos, são países com sociedades desenvolvidas, capazes de eleger duas mulheres", salientou. "Este é o primeiro de muitos encontros, e como é o primeiro, estamos um pouco emocionadas", acrescentou.

A presidente observou que o Salão dos Pensadores Argentinos em que estavam dando a declaração, no Palácio da Casa Rosada, sede do governo argentino, era dedicada a escritores e cientistas. "Acho uma simbiose estar aqui. Este é o sentimento da nossa cooperação", afirmou.

Mães e Avós da Praça de Maio

Por sua parte, Cristina Kirchner ratificou que a visita de Dilma valoriza tanto a integração produtiva de ambas as nações como a relação bilateral, caracterizada também – disse – por um profundo conteúdo político, social e humano.

A chefe de Estado da Argentina agradeceu de modo particular o que definiu como gesto maravilhoso de Dilma Rousseff de reunir-se com representantes das Mães e Avós da Praça de Maio e de outras organizações de direitos humanos. O movimento foi criado por mulheres que tiveram os filhos desaparecidos durante o período de ditadura militar na Argentina. (Leia mais sobre este encontro aqui)

"Este é um gesto que a distingue como mulher, como política, como mãe e como sujeito histórico da América do Sul", assinalou Cristina.

Cristina disse ainda que a "presidenta Rousseff" teve consciência histórica, ao escolher a Argentina como primeiro país que visitou.

Para ela, o destino da Argentina está indisoluvelmente ligado ao Brasil, e assegurou que, com duas mulheres na presidência, ambos países estarão mais unidos.

"Se algo nos identifica é saber que o crescimento econômico é bom só se puder chegar a todos os homens e mulheres da nação através do trabalho, da educação, da saúde e da moradia", afirmou a presidente argentina.

Homenagem a Kirchner

A presidente fez uma homenagem ao ex-presidente argentino Nestor Kirchner, marido de Cristina, morto em outubro do ano passado. Em sua avaliação, além de ser "um grande argentino", Kirchner soube conduzir a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) – composto por 12 países sul-americanos – e fortalecer o Mercosul – grupo formado por Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil. A presidente salientou que é preciso continuar este esforço.

“Nós, Brasil e Argentina, podemos dar nossa contribuição não só no Mercosul mas também na Unasul. Na construção de unidade e desenvolvimento. […] Nesse momento abrimos um caminho com novos pactos de cooperação. E essa cooperação é no sentido de nos fortalecer, criar uma integração de plataformas produtivas, que nos levará a construir cada vez mais o bem-estar dos nossos países”, disse.

Dilma também destacou o interesse brasileiro em manter a regularidade dos contatos de alto nível, incluindo os do Mecanismo de Integração e Coordenação Brasil-Argentina (MICBA).

Após a declaração conjunta, as presidentes, que não responderam a perguntas de jornalistas, seguiram para um almoço no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina. De lá, a presidente Dilma embarcaria de volta para o Brasil.

Parceria estratégica

A primeira viagem internacional de Dilma desde a posse é, segundo autoridades brasileiras, uma demonstração da importância estratégica que tem a Argentina, principal parceiro comercial do governo brasileiro no Mercosul e um dos maiores no mundo, atrás somente de China e Estados Unidos.

O Brasil é o principal destino das exportações argentinas e o principal fornecedor da Argentina. Em 2010, o intercâmbio bilateral chegou a cerca de US$ 33 bilhões, superando o recorde histórico de US$ 30,8 bilhões, registrado em 2008. Mais de 80% do intercâmbio comercial é composto por bens industrializados.

“Entre 80% e 90% [desse comércio] é composto por manufaturados (…), então é um comércio muito interessante, pois é um comércio que gera emprego de carteira assinada, que gera prosperidade nos dois países e gera, sobretudo, uma interdependência econômica que é extremante importante para alavancar o desenvolvimento da relação também em outras áreas”, disse o embaixador Antonio Simões, subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe, em briefing à imprensa concedido no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF).

Acordos bilaterais

Brasil e Argentina assinaram uma série de medidas que visam estreitar as relações entre os dois países tanto no campo do comércio quanto das relações econômico-sociais, dentre as quais destacam-se convênios para a construção de reatores nucleares e de duas usinas hidrelétricas e um programa bilateral de habitação.

Dilma Rousseff e Cristina Kirchner também assinaram uma declaração para a promoção da igualdade de gênero e proteção às mulheres, um memorando sobre bioenergia, um protocolo adicional para trabalhar de forma mais aprofundada a questão das fronteiras e a construção de uma ponte sobre o rio Peperi-Guaçu, que liga Santa Catarina à província argentina de Misiones.

Além disso, informou Simões, será instituído um fórum de altos executivos Brasil e Argentina, instância onde se discutirá o desenvolvimento dos dois países sob a ótica empresarial, e no campo econômico-social, um memorando para promoção comercial conjunta entre os dois países em diversos mercados.

“Esses [acordos] dão bem o caráter estratégico que estamos trabalhando. A gente tem pela frente um horizonte de aprofundamento da relação [bilateral] muito interessante. Nós temos de um lado coisas que vinham do governo passado, mas nós temos novos horizontes sendo abertos também pelas duas presidentas”, afirmou Simões.

Da redação,
Com agências