Caminhos do emprego em Suape

Serão gerados 78 mil empregos diretos, apenas na operação dos grandes projetos implantados na região

Quem diria, hein? Pernambuco já fabrica navios e também vai montar automóveis, refinar petróleo e produzir insumos petroquímicos, algo impensável até pouco tempo atrás. A chegada do Estaleiro Atlântico Sul, da Fiat, da Refinaria Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape está abrindo novas frentes de trabalho para os pernambucanos.

São empreendimentos-âncoras de novos polos produtivos e trazem a reboque dezenas de empresas fornecedoras e compradoras para o complexo de Suape e seu entorno, além de contribuírem para a expansão de um segmento tradicional e promissor, o logístico.

Se todos os investimentos previstos para Suape forem confirmados, o complexo industrial portuário vai gerar cerca de 100 mil vagas de trabalho nos próximos anos. Qual o caminho para se conseguir uma delas? Não há apenas um caminho, mas vários. E todos eles passam pela qualificação. Somente com profissionais bem preparados Pernambuco poderá surfar nesta nova onda de desenvolvimento. De hoje até o dia 27 de fevereiro, sempre aos domingos, o Diario vai levar a seus leitores os detalhes da implantação e desenvolvimento desses novos polos, indicando quais as categorias profissionais em alta e em que escolas estudar, além de dicas úteis para ajudar na busca pelo emprego no mais novo eldorado do Brasil. Começamos hoje com um perfil de Suape e uma reportagem sobre o polo automobilístico.

Suape. Palavra mágica que ao ser pronunciada faz brilhar os olhinhos de muitos pernambucanos, como se fosse sinônimo de emprego e renda. E é mesmo. Vinte mil pessoas já usufruem do status de poder dizer: ´Eu trabalho em Suape`. Seja nas empresas existentes ou na construção e montagem dos novos empreendimentos. Como Givanildo Lucena de Oliveira, 42 anos, um dos 5,2 mil funcionários do Estaleiro Atlântico Sul. Terceiro de 12 irmãos, ele começou a trabalhar aos nove anos de idade. Foi vendedor de pão e camelô no Centro do Recife, mas hoje diz com orgulho: ´Eu trabalho no estaleiro. Sou montador da indústria naval`.

O Atlântico Sul é o primeiro dos empreendimentos estruturadores do Complexo Industrial Portuário de Suape a entrar em operação e dá uma ideia do que está por vir. Basta imaginar aquela região daqui a cinco anos, quando tudo estiver funcionando. Serão gerados 78 mil empregos diretos apenas na operação dos grandes projetos (Refinaria Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul, PetroquímicaSuape, montadora da Fiat e Companhia Siderúrgica Suape), número que poderá chegar a 100 mil se outros empreendimentos forem confirmados.

Sabemos que não é fácil ´chegar lá`. É preciso, além de capacitação, persistência. Givanildo tem o ensino médio completo e fez cursos de eletricista industrial, operador de empilhadeira e operador de máquinas pesadas. Morador de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, passou por várias empresas e amargou diversos períodos desempregado. ´Tive que aprender a procurar emprego. A primeira lição que aprendi foi que é preciso ir à Agência do Trabalho pelo menos uma vez por mês`, relata. O ingresso no estaleiro foi mais um exercício de persistência. ´Passei quatro dias na fila revezando com meus irmãos para me inscrever`, conta o montador.

Somados todos os investimentos privados em implantação em Suape desde 2007 chega-se a uma cifra mágica: US$ 21 bilhões (cerca de R$ 35 bilhões). Sem contar os fornecedores que estão chegando ao estado a reboque desses empreendimentos. A Fiat, por exemplo, deverá atrair aproximadamente 50 fornecedores. É muito emprego chegando. E isso tem exigido total mobilização por parte do governo do estado em parceria com instituições de ensino, como Senai, UFPE, IFPE e UPE.

´A ideia é fazer um grande planejamento para que a gente tenha profissionais de nível fundamental, médio, técnico e superior a médio prazo e a longo prazo. Não podemos mais enxergar Suape somente pelo que está acontecendo hoje, nem pelo que vai acontecer daqui a quatro anos, mas o que vai acontecer nos próximos 20 anos`, diz Frederico Amâncio, vice-presidente de Suape.

Até lá, outras 100 empresas devem estar desembarcando na área, caracterizando um novo polo de desenvolvimento no país. O Senai, que nos últimos três anos formou cerca de 25 mil pessoas com foco em Suape, diz que está preparado. ´A única coisa que pedimos é que as demandas sejam apresentadas com antecedência`, diz o diretor técnico do Senai-PE, Uaci Matias.

Transformação continua



Em um quadro de superaquecimento da economia, como o que estamos vivendo em Pernambuco, é comum haver ´apagão` de mão de obra. Não porque falta gente para trabalhar, mas porque a mão de obra não é adequada à demanda. Nas obras de terraplenagem da refinaria, por exemplo, foi preciso treinar às pressas 1,1 mil operadores de máquinas pesadas. Falamos de nível básico. O desafio agora é maior, porque as vagas operacionais exigem maior qualificação.

No esforço hercúleo para formar 3,5 mil pessoas para o Estaleiro Atlântico Sul, entre elas Givanildo, cortadores de cana tiveram que virar soldadores praticamente da noite para o dia. E essa ´transformação` deve continuar para atender aos demais empreendimentos de Suape. Balconistas, porteiros, atendentes, vendedores e office-boys vão precisar se qualificar caso queiram disputar as vagas de Suape.

´O apagão de mão de obra é um pouco lenda e um pouco verdade. O país saiu da curva normal de desenvolvimento, particularmente Pernambuco, crescendo o PIB de 2% a 3% para 7% ou8%, e é comum existirem gargalos. O primeiro é em infraestrutura, o segundo em eletricidade e o terceiro em educação profissional`, diz o diretor técnico do Senai, Uaci Matias.

Segundo ele, quando o superaquecimento acontece na base industrial, ocorre um fenômeno que é o descasar dos perfis existentes com os requeridos. ´Não falta mão de obra, até porque no banco de currículos da Agência do Trabalho tem cerca de 100 mil desempregados. Muitos foram balconistas ou vieram de outras atividades. O desafio é transformar essas pessoas em profissionais da área`, observa Uaci Matias.

´O desafio é maior ainda quando pensamos no segundo e terceiro níveis dessas cadeias. Fornecedores. E fornecedores de fornecedores`, pontua Frederico Amâncio, vice-presidente de Suape. Mas aqui vão umas dicas. No geral, todos vão precisar de profissionais das áreas de saúde, meio ambiente e segurança (SMS). Técnicos? Em quase todas as áreas – mecânica, mecatrônica, elétrica, eletrônica, manutenção, automação. E engenheiros. Muitos engenheiros. (M.B.)

Fiat vai definir qual a demanda no Etado



Pernambuco se ressentiu quando a Ford decidiu ir para Camaçari (BA), na década de 1990. Mas agora chegou a nossa vez. A partir de 2014, o estado vai estar produzindo carros e os pernambucanos poderão disputar uma vaga na fábrica da Fiat. Basta se preparar. Serão gerados cerca de 3,5 mil empregos diretos no mais novo polo automobilístico do Brasil, fora as vagas que virão com os fornecedores. O governo do estado anuncia a chegada de pelo menos 50 empresas sistemistas.

A Fiat ainda não apresentou as bases de seu programa de treinamento de recursos humanos. Deve fazê-lo em breve. Executivos da companhia já estiveram duas vezes em Pernambuco após o lançamento da pedra fundamental do empreendimento, no fim de dezembro. Conheceram as instalações do Senai e se reuniram com representantes de diversas entidades, entre elas Fiepe, UFPE, IFPE e UPE.

Ao conversar com o reitor da UFPE Amaro Lins, na última quarta-feira, o diretor de Relações Industriais Adauto Duarte disse que a empresa chega ao estado com a missão de construir uma gestão local, formada principalmente por pernambucanos. Ao presidente da Fiepe, Jorge Côrte Real, o executivo afirmou que a montadora está disposta a contratar o máximo de pernambucanos, até o nível gerencial.

O Senai Santo Amaro, que abriga o maior centro de treinamento automotivo do Norte/Nordeste, oferece capacitação em eletromecânica em parceria com a Universidade Corporativa Fiat (SVOR). Mas é um treinamento voltado para o pós-venda, ou seja, para as necessidades da rede de concessionárias, no âmbito do programa social Árvore da Vida. ´Nossa grade de cursos terá que ser adaptada para atender às necessidades da fábrica`, antecipa o diretor técnico do Senai-PE, Uaci Matias. Nessa escola, das mais de 2,4 mil matrículas realizadas em 2010 na área automotiva, 831 foram para cursos de aperfeiçoamento voltados para os carros Fiat.

Por enquanto, pelo menos até a apresentação de um histograma contendo as categorias profissionais requeridas, quantidades e prazos para formação, a Fiat não tem conversado com jornalistas sobre o assunto. Mas o Diario pesquisou e encontrou no site www.vagas.com.br  algumas categorias que a Fiat costuma contratar para a área operacional, nível técnico e superior. Confira no quadro ao lado e comece a se capacitar.

O investimento da Fiat em Pernambuco, de R$ 3 bilhões, será para produzir 200 mil veículos por ano. Faz parte de um pacote de R$ 10 bilhões anunciado para o Brasil até 2014, dos quais R$ 7 bilhões serão aplicados na expansão da capacidade da unidade de Betim (MG), dos atuais 800 mil para 950 mil veículos/ano. Com a conclusão da nova fábrica, a capacidade produtiva da Fiat no país será de 1,15 milhão de carros/ano.

A montadora italiana quer produzir aqui uma nova família de veículos, um modelo compacto para enfrentar sobretudo a concorrência chinesa. Além da fábrica, será construído um centro de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e plataformas, incluindo uma pista de testes. (M.B.) 

Suape em números


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Investimentos públicos em infraestrutura

2007-2010

R$ 1,4 bilhão

2011-2014

R$ 3 bilhões

Empresas instaladas

Cerca de 100
Mais de 20 mil empregos gerados

Empresas em instalação

Cerca de 40
Entre elas: Refinaria Abreu e Lima, PetroquímicaSuape, Fiat, Companhia Siderúrgica Suape
US$ 21 bilhões em investimentos

Empregos na construção:

40 mil
Empregos na operação: 48,6 mil diretos e indiretos

Os investimentos recentes que estão sendo feitos em Suape estão dando origem a novos polos produtivos que serão abordados nesta série

1. Polo automobilístico

Iniciado com a central de importação e distribuição da General Motors (GM), se consolida com a chegada da Fiat, que deve atrair cerca de 50 sistemistas. Também foram anunciadas montadoras da Shineray (motocicletas) e XCMG (máquinas pesadas)
Âncora: Montadora da Fiat
Empregos: 3,5 mil
Investimento: R$ 3 bilhões
Início das atividades: 2014

2. Polo naval e offshore

Iniciado com o Estaleiro Atlântico Sul, já em operação, e conta com outros dois confirmados – o Promar e o Schahin-Tomé
Âncora: Estaleiro Atlântico Sul
Empregos: pode chegar a 8 mil ainda este ano
Investimento: R$ 1,8 bilhão
Em operação

3. Polo de refino

É puxado pela Refinaria Abreu e Lima, em construção, e está atraindo dezenas de empresas nas áreas de óleo e gás para Suape e seu entorno (Suape Global)
Âncora: Refinaria Abreu e Lima
Empregos na construção: 30 mil
Empregos na operação: 1,5 mil
Investimento: R$ 23 bilhões
Início das atividades: dezembro de 2012

4. Polo petroquímico e têxtil

Capitaneado pela PetroquímicaSuape, que está erguendo um complexo com três plantas: uma de PTA, outra de PET e uma terceira de fios de poliéster
Âncora: PetroquímicaSuape
Empregos na construção: de 7 a 8 mil
Empregos na operação: 1,8 mil diretos e 5 mil indiretos
Investimento: R$ 4 bilhões
Início das atividades: 2011

5. Polo logístico

Atividade tradicional no ramo portuário, está se expandindo cada vez mais para dar suporte ao crescimento de Suape. É formado pelos terminais alfandegados (Tecon, Suata, Atlânticos e Suape/CMV) e empresas de logística (Transpaz, Windrose, Rapidão Cometa, Suata Log/Addlog, Andaluz, Bino Transportes, Brasitrans, Koomboogie e Trade)

Se todos os investimentos previstos forem confirmados, Suape vai gerar mais 100 MIL empregos diretos e indiretos nos próximos anos

Fonte: Diario de Pernambuco