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Cesare Battisti: “Me derrotar também é derrotar o Lula”

Pela primeira vez após o então presidente Lula negar o pedido para extraditar o refugiado Cesare Battisti, o italiano falou à imprensa sobre como reagiu à decisão. Em entrevista ao Brasil de Fato, que será publicada na quinta (27), Battisti disse que Lula foi “corajoso”, mas que agora seu caso fugiu da esfera jurídica e é usado como moeda de troca da política internacional e munição para atacar o governo federal, a ponto de colocar em xeque a soberania nacional e as competências da Presidência.

"Se o Lula desse essa decisão antes, iam em cima dele, porque me derrotar também é derrotar o Lula. Agora, o objetivo principal da direita brasileira, nesse caso, é afetar o governo Dilma”, afirmou.

Battisti, que está preso no Brasil desde março de 2007, foi julgado em 2009 pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a extradição, mas decidiu que a palavra final caberia ao presidente. Desse modo, no último dia de seu mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter o italiano no Brasil, acatando um parecer da AGU (Advocacia-Geral da União).

A Itália, no entanto, não desistiu de conseguir a extradição de Battisti. Na quinta-feira (20), os representantes italianos no Parlamento Europeu apresentaram uma resolução que pede para o governo brasileiro rever sua decisão, apesar de o ato ter validade somente se enderaçado à uma nação-membro.

O texto foi aprovado por 86 votos a favor, um contra e duas abstenções. Do total de votos favoráveis, 77 era de italianos. Na prática, a recomendação foi aprovada por somente 11% dos membros do Parlamento, formado por 736 deputados.

Antecipando a publicação, a Agência Brasil de Fato apresenta parte da entrevista com Battisti. Confira abaixo.

Brasil de Fato: Como o senhor tem visto a repercussão do seu caso na Itália e no Brasil?
Cesare Battisti: É difícil falar disso, essa é a razão pela qual fiquei traumatizado e precisei de um psiquiatra. Só de ver alguma coisa, que não tem muito diretamente a ver comigo, eu já fico… meu coração dispara, já não me controlo, fico em um estado semi-consciente. Ontem, por exemplo, passou no SBT uma informação do Berlusconi com suas prostitutas. Só com o anúncio da notícia “Itália”, eu fiquei assim [trêmulo]. Fabricaram um monstro que não tem nada a ver comigo.

Brasil de Fato: Qual é o interesse nisso?
CB: Me perseguem porque sou escritor, tenho imagem pública. Se eu não fosse isso, seria mais um, como vários italianos que saíram do país pelo mesmo motivo. Sou perseguido pelo Estado italiano e pelo Judiciário brasileiro. Essa perseguição não é grátis. Não se desrespeitaria por nada uma decisão do presidente da República.

Não existe um país no mundo onde a extradição não é decidida pelo chefe do Executivo. Imagina se essa decisão tomada pelo Judiciário brasileiro acontecesse em outro país, como na França, por exemplo. Seria um absurdo, impensável. E quando eu virei um caso internacional, virei uma moeda de troca para muitas coisas. Se o Lula desse essa decisão antes, iam em cima dele, porque me derrotar também é derrotar o Lula. Agora, o objetivo principal da direita brasileira, nesse caso, é afetar o governo Dilma.

Brasil de Fato: Como o senhor recebeu a decisão do Lula?
CB: Foi um ato de coragem. Por ser um chefe de Estado do tamanho do Lula, com a responsabilidade que tem, envolvido na geopolítica. Claro que a escolha do momento não foi por acaso. O caso Battisti foi usado com outras razões políticas.