Morro das Placas: Risco de desabamento assusta moradores

Uma realidade já conhecida em Fortaleza: barracos, famílias morando neles, inverno e o medo de perder o único teto. Esta é a situação de muitos moradores do Morro das Placas, no bairro Vicente Pinzón. Apesar de estar classificada, pela Defesa Civil, como uma das 91 áreas de risco de Fortaleza, com 611 casas em situação precária, esta localidade ainda não recebeu algumas das ações preventivas de limpeza. A previsão para inserção destas famílias em um plano habitacional não está definida.

Um sinal de alerta levou uma das moradoras do Morro a acionar a equipe de atendimento da Defesa Civil na manhã da última segunda-feira (17/01). Os técnicos do órgão foram até a casa, localizada na Rua da Lua, Nº 488. Felizmente, a ocorrência era apenas preventiva, reflexo da angústia da dúvida sobre a quantidade da chuva e quais serão seus efeitos. A água que cai do céu e escorre morro abaixo, entra nas casas e deixa ainda mais caótico o cenário desestruturado das moradias.

A Defesa Civil identificou a moradora apenas como senhora “Bia” e, segundo o coordenador de ações preventivas do órgão, Franklin Nascimento, ela não estava em casa quando os técnicos chegaram. “Orientamos que fossem feitos alguns reparos e fizemos recomendações preventivas. Ela [Bia] entrou em contato porque temia que houvesse um deslizamento. Aquela área nunca deveria ter sido ocupada. A casas estão localizadas em local alto, na encosta do morro, e a técnica construtiva também não é adequada”, explicou.

Quem vive com medo

Dona Marlene Oliveira de Sousa, 70, mora no lugar há 10 anos. Entre as vielas de areia e entulho que dividem as casas, ela apontava o que era “perigoso de cair”. “Pobre faz uma casa em cima da outra e são feitas apenas com madeira. Se um muro ou parede cair, as outras 10 casas ao redor serão atingidas”, analisou a idosa. O conhecimento não tinha bases técnicas, mas a precisão com que ela falava exibia uma sabedoria adquirida após muitos invernos, e muitas dificuldades.

“O ano passado a parede da minha cozinha caiu, me mandaram colocar uns ferros e eu gastei mil reais. Mas fiz. Desta vez, é o muro do lado de fora que está sendo forçado pela parede da casa que fica embaixo da minha. Hoje, quando a Defesa Civil veio verificar a casa da Bia, eu chamei os homens [técnicos] para avaliar minha casa. Eles disseram para colocar uns ferros mais uma vez. Só que agora não tenho dinheiro”, contou Marlene. Acima do muro que, segundo ela, ameaça desabar, a visão dos monumentais prédios, perto do mar, exibe outra realidade habitacional.

Esperança pela mudança

A expectativa por um “salvamento” ou desastre assola também a aposentada Rita Germana da Silva, que é uma das delegadas do Orçamento Participativo. Quando mostrava sua casa, o chão de terra e as paredes com desenhos e nomes de propaganda denunciavam a precariedade do direito à moradia. A chuva de 16,4 milímetros registrada ontem já causou danos a Rita. Roupas e utensílios, que estavam dentro de caixas molharam e, sem local para colocá-los para secar, o jeito foi deixá-los no quintal, no chão.
O quintal de Rita é compartilhado por mais oito famílias, que também moram em casas que não possuem tijolos. Crianças, cachorros, insetos e baratas dividiam o espaço destinado às brincadeiras dos pequenos. “Aqui moram famílias inteiras. Em um vão de madeira chegam a morar oito pessoas. Já recorri à Habitafor (Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza) várias vezes, conversei, inclusive, com o secretário Roberto Gomes. Nada foi feito. A Defesa Civil, quando veio aqui hoje, sequer olhou as outras casas, só foi naquela que tinha suspeita de desabamento. Só que aqui no Morro, todas as casas correm este risco”, desabafou.

Prevenções

A problemática de moradia no Morro das Placas é de conhecimento da Prefeitura de Fortaleza. Porém, algumas medidas que podem prevenir desabamentos na área ainda não foram executadas. A Defesa Civil, ao mapear as áreas de risco de Fortaleza, recomenda que as Secretarias Executivas Regionais façam a limpeza e desobstrução de bocas de lobo e galerias, além de capinação e recolhimento de entulho. No Morro onde moram Marlene e Rita, esta ação ainda não foi iniciada. De acordo com informações da Secretaria Executiva Regional II, ainda esta semana será feita a limpeza e recuperação das sobretampas das bocas de lobo.

O assessor técnico da Habitafor, João Sérgio Queiroz de Lima, explicou que o plano habitacional do Morro das Placas faz parte das prioridades do projeto de urbanização de assentamentos precários, categoria do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). “Em 2010 foram enviados 13 propostas dentro desta categoria para o Governo Federal, mas apenas uma foi aprovada e duas pré-selecionadas”, disse. João ressaltou que análises técnicas priorizaram outras áreas de risco da Capital a serem atendidas. “Porém, vale destacar que a prioridade pode mudar de acordo com eventuais situações de necessidade”, garantiu.

Fonte: Jornal O Estado