Ana C. Cavalcante – Mais uma que a gente já sabia!

 Brasil ainda padece de uma grave desigualdade regional.

O Ipea, braço governamental responsável por conferir in loco a quantas anda o desenvolvimento socioeconômico do País, apontou no começo da semana que os brasileiros sem conta em banco somam quase 40% (são precisamente 39,5%). Na ponta do lápis, 53,3 milhões de cidadãos à margem do sistema bancário. A pesquisa conferiu dados nas cinco regiões para atestar que a bancarização à brasileira não é eficiente. Até aqui, nada que uma boa olhada para o mercado altamente concentrado já não revelasse sem a necessidade da lupa dos pesquisadores.

O dado mais importante apontado pelo levantamento do Ipea, infelizmente, é apenas mais uma comprovação do que esta Coluna repete incansavelmente: o Brasil padece de uma grave desigualdade regional. Senão vejamos: no Nordeste, 52,6% não possuem uma conta em banco; no Norte, os desbancarizados são 50%. Nas abastadas e historicamente privilegiadas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os números falam por si: 30%, 34% e 37,7%., respectivamente.

Se o leitor-internauta permite, aí vai mais uma forte evidência da desigualdade: a inclusão é maior entre os que possuem mais escolaridade. Segundo o Ipea, 88,5% dos que têm curso superior incompleto, completo ou pós-graduação possuem conta – e 63,6% possuem conta há mais de cinco anos. Entre os que estudaram até a 4ª série do 1º grau, 44,4% têm conta e 32,4% estão no sistema há mais de cinco anos.

Outra conclusão emblemática obtida pela pesquisa diz respeito à vontade do brasileiro de ter conta em banco. Os técnicos perguntaram aos excluídos do sistema bancário se eles gostariam entrar para o clube. A resposta: 40,6% desejam ter conta em banco. Também de acordo com o levantamento, apenas 26,6% acreditam ter condições financeiras necessárias e atrativas para os bancos. A maior parte são mulheres, jovens (menos de 24 anos de idade), com ensino fundamental completo, renda de até dois salários mínimos e moradoras de onde? Das regiões Norte e Nordeste, ora!

Parece óbvio que as regiões com as menores rendas, piores desempenhos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Índice de Gini marcando a desigualdade da qual sofrem há séculos também sejam as marginalizadas do sistema bancário nacional. Afinal, em vez de cumprirem seu papel social de devolver à sociedade o ouro que retiram dela, os bancos só pensam em incentivar o “consumo consciente” de cartões de crédito, seguros, títulos de capitalização… É o paradigma da periferia ainda tatuando a sociedade brasileira. Passou da hora de melhorar.

Eles, elas e o crédito

Outros dados apurados pelo Ipea podem dimensionar o gargalo bancário nacional. De acordo com o instituto, 39% dos entrevistados têm contas jovens – entre um e cinco anos; 16,1%, há mais de cinco anos; e 5,4% há menos de um ano. A parcela de homens que possuem conta em banco é maior do que a de mulheres. A pesquisa apontou que 66% deles têm conta hoje, contra 55,5% delas.

E, ao contrário do que muitos pensam, a expansão do crédito dos últimos anos não foi indutora da bancarização. Pouquíssimos bancarizados atribuem aos bancos a função de “emprestar dinheiro” – apenas 4,5% dos entrevistados do Ipea. Contrassenso à parte, 62,1% responderam que a principal função de um banco é movimentar ou guardar dinheiro. Outros 29,5% marcaram a opção “oferecer produtos e serviços”.

Caixa Preta 

A propósito do que vem sendo dito e repetido à exaustão neste espaço, vem a calhar saber um pouco mais sobre o Índice (ou Coeficiente) de Gini. Por isso, a Caixa Preta traz uma definição bem simples para o indicador de um problema complexo.

O Índice de Gini mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). Ganhou esse nome por ter sido desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini. Seu estudo foi publicado no documento "Variabilità e mutabilità" ("Variabilidade e mutabilidade", traduzido do italiano), em 1912. Ah, o Índice de Gini do Nordeste é de 0,535, contra 0,540 do Centro-Oeste; 0,495, do Sudeste; e 0,482, do Sul.

Ana Cristina Cavalcante é jornalista, com diploma, que adora economia, filosofia, rock inglês e futebol.

Fonte: InvestNE

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