Empresa piorou merenda em São Paulo para fazer caixa

Segundo investigações do Ministério Público, o dinheiro economizado teria bancado propina e doações a campanhas eleitorais.

A Verdurama, pivô do suposto esquema de fraude na merenda em Pindamonhangaba que envolve Paulo César Ribeiro, cunhado do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), piorou a qualidade dos produtos nas escolas para fazer caixa.

A informação consta de um dos depoimentos prestados ao Ministério Público Estadual, em julho do ano passado, pelo ex-diretor da empresa Genivaldo dos Santos.

Nos documentos, há exemplos de troca de produtos, como a substituição de arroz tipo 1 pelo tipo 3 (com mais impurezas e mais grãos quebrados), e carne por ovos, que tem menos proteína e vitaminas, como a B12.

Outros produtos do cardápio, que inclui leite e hortifrutigranjeiros, também teriam sido trocados.

A lista de alimentos que compõem a merenda é estipulada no edital da concorrência e segue diretrizes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Segundo Genivaldo, houve reclamação das escolas, mas "nunca foi tomada providência" pela prefeitura.

De acordo com ele, foi negociado aumento de preços na tabela de alimentos para juntar dinheiro que seria usado na campanha do prefeito reeleito, João Ribeiro (PPS). Ele nega as acusações.

Genivaldo afirmou que, elevando valores da tabela, a diferença seria repassada à campanha. Não há registros das doações.


Esquema da merenda

Ele afirmou que a campanha do prefeito solicitou doações em 2008 e, a partir daí, surgiu a proposta de alterar os produtos do cardápio.

O contrato, no valor corrigido de R$ 6,8 milhões, foi aditado em fevereiro de 2009. Segundo ele, o "esquema da merenda" começou em 2004 no município.

No depoimento, Genivaldo diz que a proposta foi feita por Eloízio Durães, dono da SP Alimentação. Durães chegou a ser preso por acusação de fraude na merenda.

Segundo ele, além de fazer caixa dois, a intenção do esquema era socorrer financeiramente a SP Alimentação, que, afirma, atuava em conluio com a Verdurama.

O argumento é que a empresa sofria com a suspensão de um contrato com a Prefeitura de São Paulo, em 2008. A SP Alimentação nega.

De acordo com depoimento do ex-secretário Sílvio Serrano, exonerado do cargo por conta das denúncias, quem fazia o transporte da merenda para a Verdurama era a empresa de Lucas Ribeiro, sobrinho da primeira-dama de São Paulo, Lu Alckmin.

O cunhado do governador é investigado por suspeita de ter intermediado a suposta fraude na licitação em favor da Verdurama.

Reação

A assessoria da Prefeitura de Pindamonhangaba afirmou que "nunca houve baixa na qualidade da comida e que a merenda é um diferencial na cidade". Disse ainda que, a partir de fevereiro, a própria prefeitura irá gerir a merenda local.

Também negou, por meio de sua assessoria, que a campanha do prefeito João Ribeiro (PPS) tenha recebido recursos não declarados durante a eleição.

A Verdurama disse, em nota encaminhada à reportagem, que mudou o cardápio por conta de uma grave crise financeira decorrente de inadimplência de prefeituras, mas que "manteve a qualidade e o valor nutricional".

"Por tal decisão a companhia foi penalizada e assumiu a responsabilidade pagando multa prevista no contrato", afirma trecho da nota.

A Verdurama declarou ainda que "não utiliza intermediários na gestão de seus contratos com prefeituras", em referência à suposta intermediação na concorrência de Paulo César Ribeiro, cunhado do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

A SP Alimentação afirmou que nunca prestou serviços à Prefeitura de Pindamonhangaba e que é "uma empresa diferente" da Verdurama.

A empresa disse ainda que processará criminalmente Genivaldo Marques dos Santos.

Fonte: Folha de S. Paulo