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Alimentos pressionam e inflação é maior para os mais pobres

A variação dos preços dos alimentos voltou a dar o tom da inflação em novembro. O grupo Alimentação e bebidas registrou alta de 2,22% dentro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,83% no mês passado, o maior avanço desde o 0,87% de abril de 2005. No ano, o grupo contribui com 2,02 pontos percentuais da alta de 5,25% do IPCA.

"Este ano está muito clara, muito forte, a influência dos alimentos sobre o IPCA", frisou a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos.

Renda e consumo

O fenômeno tem mais de uma causa, estando associado a problemas de oferta e demanda em todo o mundo, especulação e inflação do dólar decorrente da política monetária estadunidense. Mas o fato é que quem mais sofre com a alta dos alimentos são as famílias mais pobres.
Os alimentos ficaram 2,62% mais caros em novembro para as famílias com renda mensal entre 1 e 2,5 salários mínimos. O custo da alimentação subiu 9,21% para esse grupo nos últimos 12 meses. As famílias nesta faixa de renda gastam em média 39,62% do que ganham com alimentos, enquanto a média geral (considerando as famílias com renda entre 1 e 33 salários mínimos) consome 27,49% da receita com tais produtos.

Quanto maior a renda menor as despesas relativas com alimentação. O problema é que a disparidade na evolução dos preços dos alimentos em relação à inflação em geral não começou agora. Entre janeiro de 2007 e novembro deste ano, a inflação acumulada pelo grupo alimentação e bebidas é de 38,38% enquanto o IPCA avançou 21,45%. Ou seja, a inflação é maior para os pobres, que sofreram e estão sofrendo bem mais com a alta dos preços.

Carnes

Os alimentos confirmam, assim, uma tendência de alta acima do índice cheio que persiste desde 2007, com exceção verificada no ano passado. Dentro do grupo, as carnes mostraram forte crescimento tanto em novembro quanto no acumulado do ano. No mês passado, o item subiu 10,67%, acumulando 26,79% em 2010.

No ano, as carnes são o principal item em termos de contribuição para o IPCA, com impacto de 0,58 ponto percentual. Empregado doméstico subiu 11,02% entre janeiro e novembro e contribuiu com 0,37 ponto percentual para o índice cheio, mesma contribuição da refeição, que acumula alta de 8,47% em 2010. Os colégios vieram na sequencia, com elevação de 6,64% e contribuição de 0,32 ponto percentual.

"A questão da carne é entressafra, com alta das demandas interna e externa. O mundo está consumindo mais carne e mais alimentos em geral", ressaltou Eulina.

Leite

O impacto dos alimentos sobre a inflação em 2010 pode ser medido pela análise de 39 produtos que, juntos, contribuíram com 4,73 pontos percentuais para o IPCA de 5,25% entre janeiro e novembro. Nesse grupo, 13 itens são ligados à alimentação, com contribuição de 1,81 ponto percentual no ano. Além das carnes e da refeição, tiveram destaque o leite pasteurizado, com alta de 17,04% e contribuição de 0,16 ponto percentual, e o feijão carioca, que subiu 95,85% no ano e teve impacto de 0,15 ponto percentual no IPCA.

Eulina ponderou que uma contrapartida ao avanço dos preços dos alimentos em 2010 foi o setor de transporte, com peso de cerca de 20% no índice.

"O automóvel novo teve redução do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] por vários meses. Mesmo depois do fim da desoneração, o preço não subiu. Os combustíveis também contribuem", destacou Eulina. "O próprio ônibus urbano só sofreu reajuste em 5 das 11 regiões pesquisadas", acrescentou, lembrando que, no ano, Transportes subiram apenas 2,11%, com contribuição de 0,41 ponto percentual para o IPCA.

Da redação, com agências