Sem categoria

Carlos Eduardo Novaes: Liberdade de imprensa

Às vésperas de se tornar o ultimo presidente do regime militar, o general Figueiredo anunciou para quem quisesse ouvir: “A liberdade de imprensa é a liberdade do patrão”. Ele talvez não fosse a pessoa mais indicada para falar de liberdade – em qualquer sentido – mas sua afirmação não foi uma bala perdida. Alguma dúvida?

por Carlos Eduardo Novaes, escritor

Que leitor, mais sensível e perspicaz, não percebe a posição dos jornais e revistas – para ficar na imprensa escrita – durante, digamos, uma campanha eleitoral para presidente da República? Não será certamente uma posição determinada pelos gráficos, repórteres, empregados em geral. Em qualquer atividade – seja um jornal ou um supermercado – são os donos do negócio que ditam a política da empresa. Nada mais justo. São eles que investem o capital, correm os riscos e não têm por que democratizar suas decisões ouvindo o pessoal que só entra com o trabalho.

Mas será que essa postura pessoal ou familiar (oito famílias controlam a comunicação no país!) não respinga na tão propalada liberdade de imprensa? Não é raro a informação sair dos trilhos da isenção quando se faz oposição sistemática. No segundo mandato de Getulio Vargas, a imprensa teve tanta liberdade para lhe baixar o cacete que ele jogou a toalha e foi se refugiar na História. Você conhece alguém que tenha apanhado mais da liberdade de imprensa nos últimos 30 anos do que o Lula? Brizola, talvez, enquanto esteve por aqui.

Os grandes jornais dirão sempre que seu compromisso é com a verdade, que não escamoteiam informações, que noticiam tudo doa a quem doer e coisa e tal… Acredito piamente que alguns jornais e revistas fazem o chamado esforço hercúleo para não parecerem tendenciosos. Ocorre que a imparcialidade não existe na imprensa – seja qual for – e, mesmo que o noticiário se restrinja à frieza dos fatos, suas preferências (e interesses) transparecem na diagramação, fotos e títulos espalhados pelo corpo da publicação. Por exemplo: as “boas” notícias estarão sempre nas páginas ímpares (de frente para o leitor); as notícias não tão boas ficam nas pares e as “péssimas” acabam jogadas nos cantos inferiores das páginas. Claro que tal disposição depende do peso da notícia. Uma “péssima” mas importante notícia terá que ganhar destaque, mas os jornais podem compensar escolhendo a pior foto do personagem para ilustrar a matéria.

Não tem jeito. É o dono do negócio que dá o tom e, se você duvida, sugiro folhear alguns jornais do interior, para os quais o preço da liberdade é um anúncio da prefeitura. A imprensa remove montanhas e não por outra razão foi chamada de Quarto Poder. Que o digam José Sarney e o falecido ACM – para citar dois exemplos – que fundaram, cada um a seu tempo, um império midiático para, com certeza, ampliarem a liberdade da imprensa nas suas respectivas paróquias.Quando estive em Salvador, em 1978, e soube do lançamento do Correio da Bahia, corri a uma banca atrás de conhecê- lo. Acredite: nas sete primeiras páginas do jornal havia sete fotos de ACM! Quer mais liberdade de imprensa do que isso?