Alemão: Vamos estimular a consciência internacionalista no PCdoB

Há nove meses à frente da Secretaria de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu brinca dizendo que o período não chegou a marcar uma gestão, mas “uma gestação”. Apesar do pouco tempo à frente da pasta responsável por manter a veia internacionalista do PCdoB, o dirigente sabe quais devem ser os próximos passos para fortalecer ainda mais o trabalho da SRI. Um deles é “transformar o internacionalismo em atividade cotidiana da nossa militância”.

Alemão capa - Priscila Lobregatte
Para Alemão, é preciso dar à luta pelas causas de outros povos – como a dos palestinos, por exemplo – “um caráter mais popular e de massas”. É papel dos comunistas, segundo ele, “ter uma ação mais pública e solidária no sentido de alertar a população sobre a importância desses temas. E o internacionalismo pode estar presente em nossa atuação nos movimentos sociais, bem como nas câmaras, assembleias, no Congresso, no Executivo, no campo da luta de ideias etc.”

A defesa feita por Alemão tem por base não apenas o espírito de união entre os trabalhadores de todo o mundo, que deve permear as ações dos partidos comunistas, como também a relevância que o Brasil e o PCdoB vêm ganhando no cenário mundial. É com base neste cenário que saíram as ações desses nove meses de atuação e de onde parte o planejamento para os próximos três anos.

Auge da SRI

Em 2010, Alemão deu continuidade às ações da gestão passada, encerrada no 12º Congresso do partido, ocorrido em novembro de 2009. “O balanço é muito rico. Foi uma fase de auge do nosso trabalho internacional que acho que teve como espécie de marco inicial o artigo escrito por João Amazonas em 1992, logo após o 8º Congresso, chamado Pela unidade do movimento comunista. Nele, Amazonas define uma nova linha de política internacional para o PCdoB”.

Como toda a atividade política do partido, lembra o dirigente, “a internacionalista visa, antes de tudo, contribuir para o alcance de nosso maior objetivo programático, a transição para o socialismo na dinâmica concreta da revolução brasileira. Por isso, é preciso reafirmar e fazer o permanente processo de atualização da política internacional, planejar e orientar o trabalho de relações internacionais e de solidariedade do PCdoB, partindo dessa premissa”.

Uma das propostas do secretário, a ser apresentada ao Comitê Central do partido, é a realização, em 2011, de um novo encontro nacional “abordando as relações internacionais de amizade, solidariedade, intercâmbio e cooperação, envolvendo os quadros e militantes partidários dedicados à atividade internacionalista”, explica.

Mas o foco da política partidária – adianta Alemão – é priorizar a América Latina e manter compromisso com o movimento comunista internacional, “tudo isso no bojo da luta antiimperialista e numa nova fase de luta pelo socialismo”. No que diz respeito às relações com os partidos, o secretário destaca dois dos mais importantes espaços de articulação internacional nos quais o PCdoB tem atuado ativamente: o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários e o Foro de São Paulo.

O Brasil e a América Latina no mundo

O quadro político aberto na América Latina especialmente desde 1998, quando a esquerda passou a ocupar ou compor o governo central de diversos países, o continente ganhou ainda mais atenção dos comunistas brasileiros, o que se potencializou com a chegada de Lula à Presidência, em 2003, quando o país inaugurou uma nova fase de sua política externa.

De lá para cá, o Brasil deixou de ocupar posição subordinada às grandes potências, como fora até então, e passou a exercer maior influência no plano mundial tendo como ponto de partida uma política soberana e de valorização das relações com as nações vizinhas e com os países do hemisfério sul, ignorados pelo governo durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.
“Queremos promover nossa atuação internacionalista para nivelá-la ao novo papel do Brasil e da América Latina no mundo”, reforça Alemão. “Este talvez seja um dos aspectos mais importantes e inovadores a marcar nossa atuação porque este papel cresceu muito nos últimos anos, especialmente depois da posição que o Brasil ocupou no acordo de Teerã, entre o Ibas e os Bric, na reunião deste grupo de países em Brasília e com o maior protagonismo do presidente Lula em âmbito mundial”.

Tendo estas referências orientando seu campo de atuação, a SRI estipulou cinco áreas primordiais de trabalho: acompanhar a situação política internacional; impulsionar a elaboração teórica e política sobre temas internacionais e fazer mais propaganda desta produção, buscando contribuir com a constante atualização e desenvolvimento do marxismo e da teoria revolucionária; manter e ampliar as relações com partidos políticos tendo como prioridade os comunistas e os latino-americanos; apoiar a participação do PCdoB no Congresso Nacional no que tange a temas internacionais, bem como no governo Dilma e intensificar as relações com governos e embaixadas e, por fim, ampliar a atuação de quadros e militantes nos movimentos pela paz e de solidariedade internacional e nos movimentos sociais em nível internacional, dando destaque também para a atuação dos comunistas no Cebrapaz e no Conselho Mundial da Paz.

Do ponto de vista geográfico, além de priorizar a América Latina, a Secretaria espera se aprofundar em sete outras áreas: África; Oriente Médio e países árabes; Ásia e Pacífico; Rússia e países da ex-União Soviética; Europa, EUA e Canadá.

Para Alemão, partindo dessas linhas gerais de atuação, será possível avançar no trabalho da Secretaria, mantendo a linha que tem sido responsável pelo destaque do trabalho do PCdoB. “O prestígio do partido é crescente, especialmente após o Encontro de Partidos Comunistas e Operários realizado aqui, em São Paulo, em 2008”.

Com a eleição de Dilma Rousseff, o dirigente avalia que tende a se ampliar o reconhecimento de outras organizações políticas com relação ao trabalho do PCdoB. “Isso nos traz mais responsabilidades porque o partido precisa, a partir do êxito conquistado, ter maior e melhor atuação internacional correspondendo ao novo papel que o Brasil e a esquerda brasileira têm no mundo. Por sermos comunistas, espera-se mais do partido em nível internacional”.

Da redação,
Priscila Lobregatte