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Como Lula e Cristina Kirchner mudaram os conceitos econômicos

As economias do Brasil e da Argentina vivem um momento histórico, marcado por um crescimento entre 7% a 9%, pela queda na taxa de desemprego e redução da pobreza e da indigência. Além disso, os dois países têm consumo vigoroso, acumularam reservas internacionais e são vistos pelo mundo como uma região propícia a receber investimentos.

O balanço foi feito nesta segunda-feira (15) pela ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, durante encontro que reuniu, na embaixada brasileira em Buenos Aires, empresários dos dois países para a troca de experiência e análises sobre a atual perspectiva de investimentos bilaterais. Segundo a ministra, o bom momento vivido pelos dois países é resultado de mudanças de conceitos econômicos promovidas pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Kirchner.

Débora disse que essas mudanças envolveram a radical alteração da cultura da especulação financeira e a definição da integração produtiva das economias brasileira e argentina como prioridade. Essa visão, segundo a ministra, permitiu que a relação bilateral buscasse um projeto que incentivasse a produção e o trabalho, na busca da inclusão social e da igualdade das oportunidades.

Ela se lembrou de encontro entre Lula e Cristina ocorrido logo no início da pior crise financeira vivida pelo mundo nos últimos 80 anos. “O mundo estava caindo aos pedaços, havia corte de investimentos e a queda do comércio estava afetando as economias do Brasil e da Argentina”, destacou Débora. Segundo ela, Lula e Cristina Kirchner buscaram uma estratégia que mantivesse os mercados internos “tonificados” e voltasse a dinamizar o comércio.

O trabalhador respondendo à crise

A ministra ressaltou que, naquele momento de crise, Lula lembrou à Cristina Kirchner visita que tinha feito a uma pequena fábrica do Nordeste. Os operários informaram ao presidente que devido ao medo de perder o emprego não estavam mais gastando dinheiro em compras. De acordo com a ministra, Lula “respondeu aos operários que, se eles continuassem sem consumir, esse seria um caminho para o desemprego”.

“Claramente, nessa definição, o presidente Lula captava o que havia sido posto em marcha na Argentina para atravessar a crise financeira de forma privilegiada. Ou seja, ver em cada trabalhador um consumidor em potencial, que permitiria a manutenção das fábricas e o comércio aberto, mantendo um aparato produtivo em funcionamento mesmo naquele contexto internacional adverso”, acrescentou.

Hoje, segundo a ministra argentina da Indústria, o Brasil e a Argentina têm um fluxo de comércio que, neste ano, estará entre US$ 33 bilhões e US$ 34 bilhões. “Bateremos o recorde registrado em 2008, de US$ 31 bilhões — mas com algo muito interessante: 80% do comércio são feitos entre as nossas indústrias. O resultado disso é uma boa performance dos investimentos brasileiros na Argentina. Para o biênio 2009-1010, os anúncios de investimentos de empresas brasileiras chegam a US% 5 bilhões.”

Para Débora, a integração produtiva entre o Brasil e a Argentina significa aproveitar os benefícios do comércio bilateral proporcionado pelo Mercosul. “Isso poderá compensar as contas pendentes que ainda temos na distribuição dos benefícios que uma mesma união aduaneira implica”, disse. “Estamos preparados para a livre circulação de bens, a eliminação da dupla cobrança de impostos e o código aduaneiro do Mercosul, benefícios que levamos muitos anos para alcançar”.

Recorde

Antes da existência do Mercosul, o intercâmbio comercial entre o Brasil e a Argentina não passava de US$ 3 milhões. Foram necessários 11 anos – de 1991, quando o bloco comercial foi criado, até 2002 – para que os números chegassem a US$ 7 milhões. Em 2008, o intercâmbio recorde alcançou US$ 30 milhões. No ano seguinte, houve uma pequena diminuição da atividade comercial devido à redução da produção e da demanda nos dois países por causa da crise financeira.

Mas em 2010, apesar de os números ainda não estarem fechados, já é possível perceber um crescimento consistente na atividade comercial entre o Brasil e a Argentina em torno de 40% a 50% a cada mês, em comparação com os números do ano passado. Isso significa que os dois países alcançarão um novo recorde comercial, de US$ 33 milhões a US$ 34 milhões.

O balanço é do embaixador brasileiro na Argentina, Enio Cordeiro, e foi apresentado também na segunda (15), no mesmo encontro. Cordeiro ressaltou que o Brasil e a Argentina não desenvolvem apenas uma relação comercial — mas, principalmente, a integração produtiva entre muitos setores da economia, como é o caso do automotivo.

Esse setor, segundo o diplomata, talvez seja o mais representativo da integração produtiva — mas repete-se em outras áreas da economia. “Ao contrário do que normalmente se acredita, setores sensíveis da economia dos dois países são igualmente mais abertos à integração. As câmara setoriais dos ministérios da Indústria do Brasil e da Argentina conduzem a integração em áreas como a têxtil, de calçados, móveis, madeira e petróleo e gás.”

“Mão dupla”

Cordeiro enfatiza que os investimentos produtivos dos dois países já ultrapassaram US$ 11 bilhões nos últimos oito anos, devendo ser ampliados, pelo menos, em mais US$ 5 bilhões nos próximos dois anos. “É um caminho de mão dupla”, destacou. “O agronegócio brasileiro, por exemplo, movimenta-se com investimentos argentinos em tecnologia, sobretudo no que se refere à distribuição de sementes e à logística de transporte de grãos.”

O embaixador acrescentou que o desafio colocado diante dos dois países é que os governos brasileiro e argentino estimulem e ajudem os fluxos de comércio e de investimentos para o aumento da integração produtiva. “Com isso, será possível fortalecer as respectivas indústrias e dar maior competitividade ao Mercosul como plataforma para exportações a outros países.”

Da Redação, com informações da Agência Brasil