Entrevista com Angela Albino

Única representante da Grande Florianópolis na Assembléia Legislativa, Angela Albino afirma que fará um mandato coletivo, com apoio do partido e da comunidade

deputada eleita Angela Albino - jornal Imagem da Ilha

Entrevista concedida pela deputada estadual eleita Angela Albino ao jornal Imagem da Ilha

A base eleitoral da Grande Florianópolis elegeu um único representante na Assembléia Legislativa nas eleições deste ano: Angela Albino (PCdoB). A partir de janeiro, é dela a missão de lutar por melhores condições e trazer recursos para a região. Funcionária de carreira da Justiça do Trabalho e ex-vereadora de Florianópolis (2005-2008), Angela afirma ter consciência da responsabilidade e que se sente preparada para o desafio.

Jornal Imagem da Ilha: Você fez carreira como funcionária pública. O que a levou a entrar na política?

Angela Albino: Meus pais participavam de associação de bairro, de associação de pais e professores. Eu fundei o grêmio na minha escola, participei do movimento de jovens, fiz parte do centro acadêmico na faculdade e me envolvia nas eleições. Eu cresci num ambiente participativo, de buscar soluções coletivas. Em 1988, ingressei como servidora da Justiça do Trabalho, e em 1990 já fazia parte do sindicato. Eu também entrei para a União Brasileira de Mulheres, que eu gosto muito e onde milito até hoje. Mas nunca tinha passado na minha cabeça seguir uma carreira política. Me filiei ao PCdoB em 2002. Antes disso, não era filiada a nenhum partido.

A experiência à frente do sindicato influenciou sua decisão de seguir carreira política?

No sindicato entramos na luta corporativa da categoria, mas vamos entendendo que existe uma luta maior. Não adianta a minha categoria estar bem e a minha cidade estar péssima. Não entrei para o partido pensando em ser candidata, aconteceu de forma natural. Eu estava lá num momento em que para o PCdoB eu representava a melhor chance do partido manter a cadeira na Câmara de Vereadores de Florianópolis. Quando eu vi, já era candidata. Tinha medo de passar vexame. Eu era desconhecida na cidade e fiquei em sétimo lugar. Fui a única mulher na Câmara naquele ano, sendo que na legislatura anterior não teve nenhuma.

Você exerceu apenas um mandato político até hoje, como vereadora de Florianópolis, de 2005 a 2008. Se sente preparada para ser deputada estadual agora?

O rito da Assembléia é completamente diferente do da Câmara, mas já venho com uma experiência, não chego crua. Um elemento que foi fundamental para construir um mandato exitoso na Câmara como vereadora: um coletivo partidário trabalhando junto comigo. O trabalho parece ser meu, mas na verdade é de um coletivo. Não domino todas as áreas, por isso conto com pessoas do partido especializadas que dão esse suporte. É essa participação coletiva que torna o mandato rico.

Você assumiu por duas vezes uma vaga na Assembléia como suplente da deputada Ana Paula Lima (PT). Que impressão ficou do legislativo estadual?

Foram dois meses em 2009, e cinco meses este ano. Na Câmara, como o ambiente é menor, os vereadores usam a sessão para travar debates. A Assembléia tem outro perfil, o debate não existe dessa forma lá, tem deputado que se importa muito pouco com a sessão. Mas é um espaço de poder político muito mais amplo, com certeza, com outras demandas.

Que projetos apresentou nessas oportunidades?

Embora o parlamento seja um espaço primordialmente de constituição legislativa, é também privilegiado para fazer o debate. Construímos várias audiências públicas. Em 2009, o foco foi na mobilidade urbana, que era, e ainda é, um problema muito agudo em Florianópolis. Este ano, trabalhamos bastante direitos humanos e o esporte como ferramenta de inclusão social. Apresentei 14 projetos de lei e duas propostas de emenda constitucional (PEC). Dos 14, quatro já viraram lei. As duas PECs são as mais significativas. A primeira para destinar no mínimo 1,5% do Orçamento do Estado para a Cultura, ter um orçamento fixo para a cultura. E a segunda destina 50% dos royalties do pré-sal para educação e cultura.

Qual a área que será prioridade em Florianópolis?

A mobilidade é o problema mais importante hoje na cidade. Vamos defender a abertura da Paulo Fontes. O recado que as urnas deram é não ao fechamento. Meu sonho, como florianopolitana, é que do Parque da Luz até o Hospital de Caridade seja construído um corredor histórico da cidade, revitalizar, humanizar toda a região. Mas não podemos fazer isso com cones, porque aí você pune a cidade. É um projeto de longo prazo, construído em etapas. Em uma cidade que está virando o caos como Florianópolis, sempre que você fecha uma porta tem que abrir uma janela.

Que outras áreas você enxerga como prioritárias na cidade?

Educação, saúde e principalmente segurança, que é um problema alarmante hoje. A segurança foi um compromisso meu com os comerciantes da região de Canasvieiras, do Campeche e da Trindade. Temos que atacar de duas formas: com repressão e prevenção. Reforçar a atuação dos Consegs, ter mais policiamento nas ruas ajuda, mas também é preciso gerar oportunidades para os jovens. As soluções legislativas para isso são muito modestas, mas a força política é bastante significativa nessas questões. Floripa não tem força política, precisa ampliar essa força. Vai ter agora um concurso público para 2.000 policiais, e só 40 vêm para Florianópolis.

Seu partido é de oposição. Qual será sua postura na Assembléia?

Foi um governo que se legitimou amplamente por ser eleito no primeiro turno. Isso traz uma responsabilidade na posição obviamente crítica que vamos ter. Não gosto de caracterizar já como oposição, parece muito irresponsável. Se os projetos forem bons, vamos apoiar. Não estou dizendo participar de governo, mas boas iniciativas terão nosso apoio. Torcemos por isso, embora a experiência que temos desse grupo político não é essa.

Como vê a participação da mulher na política?

Tem me parecido que ser mulher é um diferencial positivo hoje na política. Em 2004, quando fui candidata à vereadora, ouvi pessoas dizerem que política não era lugar de mulher. E não ouvi mais isso. As duas candidaturas de mulheres ao governo de Santa Catarina foram fortes. O Lula ter escolhido uma mulher para lhe suceder é também uma percepção deste momento que as mulheres vivem hoje. A participação da mulher tem crescido mais lento do que gostaríamos, com certeza. Numericamente a nossa representação caiu, decresceu um pouco, mas subjetivamente ampliamos nossa participação política e a percepção de que as mulheres podem fazer política.

Você foi candidata à prefeita em 2008 em Florianópolis. Podemos esperá-la candidata novamente nas eleições de 2012?

Afirmo com toda serenidade que se a eleição fosse amanhã, eu era candidata, mas daqui até lá muita coisa vai rolar. Tem muita gente antecipando demais o debate e pessoalizando o debate. Acredito que tivemos uma votação que nos insere necessariamente no processo eleitoral como protagonista de 2012, juntamente com outros candidatos eleitos que tiveram uma expressiva votação.


Qual foi o projeto de sua autoria como vereadora de Florianópolis, e ainda em vigor, que considera mais representativo?

Uma das coisas das quais mais me orgulho foi transformar o Parque da Luz em área verde de lazer. Na época, a Prefeitura queria construir sua sede administrativa no local, que era uma área comunitária institucional. Por iniciativa da Associação Amigos do Parque da Luz, o projeto foi levado à Câmara e aprovado por todos os vereadores.

Quais os projetos anunciados na sua campanha que serão colocados em prática já no início do mandato?

Ainda estamos debatendo com o partido. Eu nasci em Florianópolis, meus filhos nasceram aqui, meu neto vai nascer aqui. Minha tendência é governar pela cidade, mas tenho um compromisso com todo o Estado.

O incentivo ao esporte é uma de suas principais bandeiras? Você tem acompanhado o impasse na Lagoa, com a possibilidade do fim do vôo livre na região por conta da construção de um loteamento de prédios? Vai se posicionar de alguma forma?

É uma área de grande valor econômico, uma propriedade privada, e a constituição garante o direito à propriedade privada. Mas por outro lado tem outras áreas na cidade onde a conquista começou assim, com reivindicação, como o Parque da Luz. Todo direito é conquistado a partir da luta. Não tem nenhum direito escrito em constituição de país nenhum que veio naturalmente. Acredito que a mudança acontece quando se constrói um movimento e um espaço institucional que abra a porta, que é o papel que eu quero fazer.

Andréa Fischer
Jornal Imagem da Ilha

nota do Vermelho/SC: embora informado no jornal que apenas Angela Albino foi eleita pela região da grande Florianópolis, também foi reeleito o deputado César Souza Júnior, do DEM.