E aí, Dilma? Vamos conversar sobre o futuro?

Ana Cristina Cavalcante*

Sem meias palavras: hoje é um dia feliz para o Brasil! E não apenas para o Nordeste, como estrebucham os intolerantes, preconceituosos e pobres coitados que insuflam-se a atacar o povo daqui para extravasar sua imensa frustração por terem, mais uma vez, perdido as eleições. Embora este portal, esta coluna e esta colunista repudiem e desprezem veementemente tais ignorantes, o Cenário desta segunda-feira histórica prefere falar de futuro em vez de oferecer espaço a quem dá seus últimos suspiros na vida política do Brasil. No lugar deste “trololó”, vamos ter uma conversa franca sobre o que virá.

Antes de preparar os próximos quatro (ou oito) anos do Governo Dilma Rousseff, é preciso, porém, fazer uma leitura rápida sobre o presente. Somos um país virtuoso, desde que o modelo econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu o seu pulo do gato. Isso aconteceu quando o líder máximo brasileiro percebeu que a nação só avançaria se houvesse inclusão social. Não a dos discursos sem práxis; mas a da vida real. Foi Lula quem, com sua própria experiência de migrante nordestino formado torneiro mecânico na grande metrópole, vislumbrou a transferência de renda, a abertura das universidades para quem não podia pagar, a expansão do crédito para os que já tinham trabalho fixo e a ação contínua pela geração de emprego como pilares de uma economia de todos e para todos.

Para um povo tão acostumado a governos cheios de planos mirabolantes e vazios de repercussão positiva na vida do cidadão brasileiro, foi uma surpresa ver que a tecnologia social, implementada nos últimos oito anos, veio transformar. E transformou. Fez o País avançar não só economicamente, mas também (o que é fundamental) sob a perspectiva social. Os críticos de plantão chamam a transferência de renda de “esmola para preguiçosos”. A eles, dê-se o desconto da falta de cultura econômica. No caso de má fé, retire-se a ressalva generosa – afinal, generosidade até é coisa de nordestino, mas burrice definitivamente é “qualidade” alheia a esse povo.

Para desgosto dos esnobes, a lição do estímulo ao consumo inclusivo veio das mais nobres (literalmente) cátedras. Um lorde inglês, Sir John Maynard Keynes, ensinou que o Estado tem papel de indutor do mercado e o pleno emprego é a fórmula mágica de uma economia aquecida e distributiva. Um pouco só de teoria econômica faz perceber que quanto mais pessoas consumindo e atendendo suas demandas, básicas ou não, maior será o crescimento econômico e social de um mercado. As urnas, expressão maior da vontade popular, deram o recado. O Nordeste brasileiro – região que com seu forte mercado interno vem sendo a locomotiva do crescimento do País (mordam-se de inveja, pobres reacionários!) – disse, em alto e bom som, querer a continuidade do modelo econômico de Lula.

O quê o Nordeste quer

A expressiva preferência do Nordeste por Dilma tem uma mensagem clara. A região evoluiu com o modelo econômico em vigor; mas ainda não é suficiente. É preciso avançar e mais políticas compensatórias são indispensáveis para corrigir a imensa injustiça representada sordidamente pela desigualdade regional. Não será paternalismo do Governo Central para com a região. Trata-se de correção de um erro histórico.

Os fatos não permitem argumentação: se, neste século XXI, regiões detêm melhor condição de crescimento que outras, isso não ocorreu por mérito de suas populações pretensamente “mais preparadas”. É consequência de privilégios criminosos concedidos, há exatos 502 anos, por um poder que jamais representou o Brasil em sua totalidade.

Agora é diferente. A Era Lula trouxe uma nova visão de País. Mais ampla, mais completa, mais justa. Há muito para ser feito por Dilma e seus sucessores, quando chegarem num futuro não muito próximo. Mas vale destacar: nosso apoio de agora é um reconhecimento a essa mudança de paradigma. Mas não é só isso. Os esmagadores 80% obtidos pela petista no Nordeste são também um aval às avessas. Dá direito aos nordestinos de cobrarem políticas públicas, ações com foco regional e investimentos maciços nos nove estados da região.

Eis o que nós queremos: os grandes projetos estruturantes, ainda no papel; novos empreendimentos de largo alcance social; infraestrutura; muitas e muitas escolas (sejam escolas técnicas ou universidades); apoio irrestrito à saúde; suporte aos nossos governos estaduais; fortalecimento dos órgãos regionais de fomento como BNB e Sudene; e prestígio aos nossos parlamentares na Câmara e no Senado.

Cara presidente, é com muito orgulho que digo: este é o pontapé inicial do nosso bate-papo com a companheira Dilma Rousseff. Queremos que esta conversa seja franca e aberta durante todo o feliz mandato da primeira mulher presidente do Brasil.

Caixa Preta

O governo Lula usou e abusou de um conceito relativamente novo para dar efetividade às suas ações de inclusão. É a tecnologia social. A Caixa Preta acha importante explicar o que é isso, especialmente para aqueles desavisados que ainda não perceberam, na prática do dia a dia, como é vital para uma economia que todas as pessoas estejam aptas a exercerem sua cidadania.

Tecnologia social é coisa de modernos, caro leitor-internauta. Trata-se de um conjunto de mecanismos e ações cujo objetivo é buscar soluções de transformação social. Está direta e intrinsecamente ligada ao desenvolvimento. Prestem atenção: desenvolvimento não é crescimento econômico. Tem mais a ver com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do que com PIB (Produto Interno Bruto). Contempla a participação coletiva, indo além da mera atuação isolada dos governos.

Busca de caminhos apazes de resolver demandas e direitos universais da pessoa humana que são, em tese, deveres do Estado. Entre eles, alimentação, educação, saúde, geração de energia, habitação, distribuição de renda, recursos hídricos e meio ambiente. Além da transferência de renda, que é mais macro, outros exemplos de tecnologia social são: o microcrédito disseminado pelo Nordeste e responsável por uma mudança significativa do perfil econômico da região; o soro caseiro tão difundido desde os anos 1980; e as nossas tradicionais cisternas, espalhadas pelo semiárido nordestino.

ECONOMIA REAL

Dia do câmbio

Não é nenhuma efeméride, caro leitor-internauta. Mas dia 1º de janeiro, quando a nova presidente do Brasil tomar posse, estará sobre sua mesa de trabalho uma importante demanda macroeconômica. É o câmbio. Sequela tanto da crise de 2008/2009 quanto de problemas anteriores – o déficit público gigante dos países europeus praticantes do Welfare State. O imbróglio não é difícil de entender, não. Aliás, nada em economia é difícil de entender, apesar de todas as deliberações em contrário. É assim: as economias norte-americana e europeia precisam crescer urgentemente. Essa retomada depende muito da valorização cambial. Ou melhor, da desvalorização.

Para voltarem a movimentar seus mercados, o dólar e o euro têm que estar baratos. Com isso, tornam os produtos made in USA e made in Europe mais competitivos, no mercado internacional. Vendem mais e aquecem seus mercados internos. Como a moeda do Tio Sam ainda é a referência monetária do mundo globalizado, sua depreciação acaba refletindo no resto do planeta. Países como o Brasil, com economia aquecida e real estável, são diretamente afetados por essa circunstância. E, ao contrário do que ocorre com as mercadorias do hemisfério norte, nossos artigos de exportação ficam muito mais caros, perdendo espaço no comércio mundial e prejudicando nossa balança comercial.

A equipe de Guido Mantega, ministro da Fazenda, e de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, já vem tomando medidas como retirada de dólares do mercado nacional (que são comprados pelo Banco Central) e a política de taxação do capital estrangeiro de curto prazo que vem ao País em busca dos apetitosos juros brasileiros. Essa taxação se dá com o aumento do IOF nessas transações. A ação é paliativa, é bom que se diga. Não se sustenta no médio prazo. Por isso, o dia do câmbio é o mesmo da posse de Dilma e sua equipe econômica. Vamos esperar sem esquecer do compromisso da presidente da República de não mexer no câmbio flutuante.

Sem xurumelas, por favor!

Se tem uma coisa que irrita é falta de informação em discurso repetitivo. Meus queridos leitores-internautas, o Brasil não tem problema de déficit público como os que ocorrem na Europa. Em países como França, Espanha, Portugal e Grécia, protagonistas de uma das duas crises econômicas do momento (a outra é a dificuldade de os Estados Unidos retomarem seu crescimento), há um enorme buraco nas contas públicas resultante de mais de 50 anos de Estado de Bem-Estar Social (o bom Welfare State).

É que, para reconstruírem suas nações, após a Segunda Guerra Mundial, esses países europeus optaram pelo modelo econômico de (olhem isso!) transferência de renda, bancados por sistemas de previdência bastante generosos com os cidadãos. O molde funcionou muito bem até o começo dos anos 2000. Mas alguns processos locais (desindustrialização e baixo consumo – que é uma questão cultural entre os europeus) e outros mundiais (crises econômicas, com destaque para a do subprime) acabaram por afetá-los mortalmente. Os imensos déficits dessas economias impedem seus governos de investir o que se reflete num ritmo econômico quase estagnado.

Lá, os déficits estão na casa dos dois dígitos, entre 10% e 13% do PIB. Aqui, essa relação fica abaixo de 1% da riqueza nacional. Contudo, uma coisa é certa: se não temos esse problema hoje, é inteligente preparar o futuro. Para bancar o sistema previdenciário que temos agora, faz-se necessário mudar as regras paulatinamente e, noutro flanco, estimular a geração de empregos formais continuamente. Na Europa, a população economicamente ativa e que contribui para a previdência está escasseando. Por aqui, ainda não. Mas uma olhadinha nos últimos censos nacionais revela a população envelhecendo. Se não cuidarmos agora, corremos o risco de o Brasil de amanhã ser a França de hoje.

Pensamento Econômico

“Eu posso não ter experiência de governar como eles governaram com estagnação, desigualdade e desemprego, agora governar gerando emprego, distribuição de renda, tirando 24 milhões da pobreza e 31 milhões elevando à classe média, eu sei muito bem fazer.”

Pensamento Econômico inaugura a nova fase com a declaração da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, dita ainda durante a dura campanha que a consagrou como a primeira mulher no comando máximo do País.

*Ana Cristina Cavalcante é Jornalista, com diploma, que adora Economia, Filosofia, rock inglês e futebol.

Fonte: Portal InvestNE

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