Alexandre Lucas – Apanhei, não quero mais…

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Uma coisa é certa: quem apanha quer se ver livre de qualquer porrada! Lembro de muitas surras que levei na vida e me lembro de cada uma delas, como se fosse aquele beijo inesquecível… do qual jamais podemos nos esquecer… A surra é bem diferente do beijo. O beijo é tão bom, mas a surra dói, deixa marcas, traumas.

Se for para escolher não temos dúvidas, vamos decidir por muitos beijos e, nenhuma pancada. Porém não nos afastemos das lembranças de tantas cacetadas que já recebemos, essas lembranças nos servem como aqueles despertadores que sempre nos acordam do sono profundo.

Comecei a beijar muito cedo, aprendi que isso era muito prazeroso, porém comecei a apanhar antes mesmo de aprender a beijar. É, não tinha como correr, tinha que apanhar mesmo, pelo menos por um bom tempo, apanhei não porque Mainha e Painho me batiam, mas apanhei como muitos filhos deste país. Não da mão pesada dos adultos, mas da mão pesada das injustiças sociais, apanhei do pão nosso que nos falta a cada dia.

Filho de Costureira e Sapateiro, aprendi como é difícil sobreviver num país capitalista. Não é preciso entender de política ou de economia para saber o quanto maltrata ver um pingado de gente se banhando de dinheiro e uma grande multidão só vendo o espetáculo sem poder participar da festa.

Minha mãe, uma Maria, oprimida e explorada, como tantas marias do Brasil, que nunca participou de política, me deu talvez o maior beijo da minha vida. Quando tinha aproximadamente uns nove anos, perguntei:  “Mãe, o que é comunista?”. E ela me disse: “É esse povo que defende a igualdade, muitos já foram presos ”.

Talvez esse beijo tenha me despertado sensações e convicções. Quando comecei a participar de política, nem votava ainda. Mas já me indignava com um governador de bico grande e de olhos azuis que implantou no Estado do Ceará um sistema de Educação cronometrado e por televisão, como se o nosso povo fosse um conjunto de robôs. Essa foi uma tremenda lapada na nossa vida de estudante de escola pública.

O meu batismo de indignação provavelmente tenha ocorrido numa manifestação que aconteceu quando o então presidente FHC esteve no Cariri/CE. É, eu estava lá e fui espancado pela Polícia juntamente com vários camaradas que discordavam do modelo de Governo antipopular, entreguista e neoliberal do PSDB.

Lembro-me ainda que neste período de FHC, um dia chorei de raiva ao assistir TV e ver um jovem com o nariz ensangüentado. Tinha sido agredido por defender o patrimônio do nosso país, a Vale do Rio Doce vendida pelos tucanos ao interesses estrangeiros. Esse jovem era o Kerison Lopes, na época presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES.

Também lembro quando outro Governo do PSDB no Ceará desrespeitou o resultado de consulta para reitor da Universidade Regional do Cariri – URCA. É, mas dizem que são democráticos.

Nestas eleições fiquei admirado com essa turma do PSDB que sempre criminalizou a luta organizada do nosso povo e agora se coloca como salvadores da pátria. Esses dias assisti ao Programa do Serra, ele tecia vários elogios à luta ecológica de Chico Mendes e da Marina Silva. Ele só esqueceu de dizer que esses ecologistas eram do Partido da Dilma e que foram combatidos pelo PSDB e Demos. Mas ele elogiava até o Lula, mas porque será que ele não bate no Lula e fala tão bem da Marina?

É, sei o quanto esse Brasil cresceu, poderia ter crescido mais. A vida do povo simples melhorou… Esse povo possivelmente tenha beijado mais e apanhado menos.

Esse é um momento para decidimos, só temos uma escolha. De um lado tem a surra que serra a alma e do outro a Dilma. Eu vou votar na Dilma, ela não é uma comunista, nem vai fazer revolução socialista, é uma pena. Mas ela é a opção que temos para apanharmos menos.

Alexandre Lucas é Pedagogo, artista/educador e Coordenador do Coletivo Camaradas

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