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Niko Schvarz: Dois projetos se enfrentam no Brasil

O comando de campanha de Dilma Roussef afirma que as eleições de 3 de outubro constituiram uma grande vitória do povo brasileiro e conclama todas as forças ao trabalho para a votação decisiva de 31 de outubro.

Por Niko Scharz

O lema da coalizão é "Para que o Brasil siga mudando" e afirma em seu chamado à mobilização para o segundo turno que Dilma Rousseff e Michel Temer obtiveram mais de 47 milhões de votos (47.651.434, ou 46,91% do total), um nível semelhante aos de Lula no primeiro turno de 2002 e 2006 (que foram de 46,47% e 48,61%)

Os partidos da coalizão vitoriosa elegeram 11 governadores e disputam o segundo turno em outros 10 estados. Houve uma reversão da situação na Camara dos Deputados e no Senado, onde hoje o governo é minoria e na próxima legislatura passara a ocupar a maioria em ambas as casas, com os setores aliados e coligados, facilitando a aprovação dos projetos do Executivo. A conclusão é que "estão reunidas todas as condições para a vitória definitiva no dia 31 de outubro".

A base para este segundo turno consiste em continuar e aprofundar a grande obra transformadora do atual governo, definida nos seguintes traços: "O Brasil de Lula, hoje, e de Dilma amanhã, é e será o país do crescimento acelerado, que gera cada vez mais emprego e recursos. Um país que cresce porque há distribuição de renda. Que tirou 28 milhões de homens e mulheres da pobreza. Que possibilitou a ascensão social de 36 milhões de brasileiros. Que criou mais de 14 milhões de empregos formais. Que expandiu o crédito, sobretudo para os setores de baixa renda. Que multiplicou por 7 os recursos para a agricultura familiar. Tudo isso sem inflação e sem ameaça dela. O Brasil de Lula e Dilma é o que possui uma das mais mais baixas dívidas internas do mundo. Que deixou de ser devedor internacional, passando à condição de credor. Que não é mais servo do FMI. Que enfrentou com tranquilidade a mais grave crise econômica mundial, sendo o último a sofrer seus efeitos e o primeiro a sair dela". Como confirmação, acaba de se anunciar que o Brasil passou a ser a oitava economia do mundo.

O programa diz também que Dilma continuará a fortalecer o Estado e a valorizar seus funcionários. Inclui neste capítulo que "a construção acelerada da infraestrutura energética, os portos e o tráfico ferroviário, incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2)". Também faz referência ao Brasil do Pre-Sal (a exploração das gigantescas jazidas petrolíferas próximas do litoral do Atlântico). A Bolsa Família, o programa Minha Casa, Minha Vida, prioridade que continuará no tema da moradia. Em contrário, o programa de José Serra, o candidato da oposição, propõe a privatização do Pré-Sal.

Segue uma descrição dos grandes avanços em relação a educação, a criação de universidades federais e escolas técnicas em proporção maior que em todos os períodos anteriores juntos, a melhoria dos salários dos professores, a aposta na ciência e na tecnologia com muito mais recursos. A educação de qualidade será um centro de preocupação, desde a pré-escola à pós-graduação, o mesmo que a proteção à maternidade e às mulheres da violência doméstica, a promoção de igualdade racial e a extensão dos programas de saúde. Há referências concretas a uma política de desenvolvimento ambientalmente equilibrado, como se demonstrou no combate ao desmatamento e ao incentivo de uso de energias limpas, posição que será mantida nos debates internacionais sobre a mudança climática.

Esses aspectos estão resumidos em um pequeno folheto que condensa as 13 razões para votar em Dilma (com o número 13 que a distingue). São eles: fim da miséria, mais postos de trabalho, melhores salários, mais Bolsa-Família, mais educação, mais saúde, mais segurança, mais combate à droga, mas creches, mais moradias populares, mais apoio ao campo, mais crédito, mais respeito ao Brasil.

Em contraposição, a candidatura Serra se define como o retorno ao passado, ao retrocesso, à paralisia econômica, o gigantesco endividamento interno e também o retorno da dívida externa e a submissão ao FMI. Era na qual o Brasil saltou de uma carga tributária de 27% para 35%, o Brasil dos apagões. Da privatização que deu de graça as empresas públicas e desmontou o Estado, do desemprego, das universidades à beira do colapso, o país que esteve à beira da falência nas crises mundiais e, sobretudo, era o "país dos desesperançados, dos governantes de costas a seus vizinhos na América Latina e submisos a potências estrangeiras".

O chamado denuncia também aqueles que "pretendem explorar cinicamente a religiosidade do povo brasileiro com fins eleitorais" e sublinha que "procura introduzir o ódio entre as comunidades religiosas, violando a boa tradição de tolerância do povo brasileiro". Diz, em seguida, que o "Brasil republicano é um estado laico que respeita todas as convicções religiosas. O Brasil de Dilma, assim como o de Lula, é e será uma terra de liberdade onde todos poderão, sem nenhum tipo de censura, expressar suas ideias e convicções".

Destaca também a declaração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que “lamenta profundamente o uso indevido da Igreja Católica e de temas religiosos na campanha eleitoral". Além disso, lemos numerosas cartas de evangélicos que repudiam a campanha caluniosa e proclamam seu voto por Dilma.

Por último, o chamado coloca o Brasil no mundo como um país soberano, solidário com seus vizinhos, que luta pela paz mundial, pela democracia e respeito aos Direitos Humanos, uma nova ordem econômica e política mundial, mais justa e equilibrada.

O pré-sal

A exploração do pré-sal gerará grandes recursos, que serão destinados aos planos do novo governo em matéria de educação e outros destinos. A participação do Estado na Petrobras (que está a cargo desta tarefa) aumentou depois de uma capitalização de dimensões quase inéditas. No programa de Serra já se anuncia a privatização do pré-sal.

Publicado no jornal La República, do Uruguai