Impasse em negociação entre jornalistas e sindicato patronal

Terminou em impasse a terceira rodada de negociação da Campanha Salarial 2010/2011 de Jornais e Revistas. O sindicato patronal se recusou a discutir as cláusulas do vale refeição/alimentação, dos cursos de capacitação e a da comissão paritária de saúde.

Reunião Sindjorce

Para as cláusulas econômicas, foi oferecido reajuste de 5% no piso e 4,81% para demais salários, seguro de vida e reportagem especial. Também ficariam mantidas a cláusula da campanha sindicalização e a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) anterior.

Pela nova contraproposta patronal, o piso seria elevado de R$ 1.293,00 para R$ 1.357,64, o que representa ganho real de somente 0,68%. Já os 4,81% representam ganho real de apenas 0,5% na massa de salários e demais cláusulas, como reportagem especial e seguro de vida. Diante do que foi exposto pelo sindicato patronal na última rodada, realizada dia 24/09, na SRTE-CE, com a presença da mediadora Jeritza Jucá, a negociação ficará suspensa por tempo indeterminado.

Pela primeira vez, o presidente do Sindijornais, Mauro Sales, participou da negociação e afirmou não estar acompanhando a campanha salarial deste ano. Portanto, não teria argumentos suficientes para discutir as propostas apresentadas pelo Sindjorce. Disse que as empresas não têm interesse em negociar cláusulas que não as econômicas. E acrescentou que "não via necessidade de cláusulas como a de capacitação e a da Comissão de Saúde constarem na CCT de Jornais e Revistas".

O discurso patronal é contraditório, uma vez que Mauro Sales admitiu ter sugerido a necessidade de melhoria da qualificação dos jornalistas, na campanha do ano passado. "Sobretudo na área do direito, onde vejo muitas colocações erradas nos jornais". Porém, talvez por desconhecimento da minuta entregue ao patronato no começo da negociação, ele disse que não pode "concordar com uma cláusula que implique em custo para as empresas, engessada na CCT". Na minuta, o Sindjorce pede que as empresas realizem "em parceria com o Sindicato Laboral, cursos permanentes de capacitação dos trabalhadores, mediante convênios, permutas ou parcerias com instituições de ensino e de formação profissional, visando o contínuo desenvolvimento intelectual dos jornalistas". Ou seja, a realização destes pode ser feita por meio de convênios com entidades como SENAI, SENAC e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por exemplo.

O presidente do Sindjorce, Claylson Martins, lembrou que a cláusula de capacitação vem ao encontro das expectativas das empresas, tendo em vista que a Capital cearense vai sediar, nos próximos anos, eventos esportivos internacionais, como a Copa das Confederações, em 2012, e alguns jogos da Copa de 2014. "Com um piso salarial defasado, os jornalistas não têm como arcarem sozinhos com cursos de inglês ou novas mídias, por exemplo", disse. O reajuste salarial de 5% proposto para o piso, equivalente a R$ 64,65 por mês, sequer dá para pagar a mensalidade de um curso de línguas.

Ainda destacando a importância das cláusulas pleiteadas, Claylson lembrou que, no caso do vale refeição/alimentação, foi grande sua aceitação por parte da categoria, que é sacrificada com uma jornada de trabalho, na prática, superior a seis horas/dia, tendo que fazer refeições inapropriadas e sempre em horários corridos. "O vale informal de R$ 4,00, dado pelo Diário do Nordeste para o pessoal que trabalha à noite, será insuficiente, pois os responsáveis pela cantina já anunciaram que reajustarão seus preços em outubro", afirmou. Hoje, o valor dá para comprar, por exemplo, um sanduíche natural e um copo pequeno de suco.

Além da alimentação defasada, os jornalistas cearenses são submetidos a jornadas de trabalho que, na prática, passam das seis horas diárias. Mais uma vez, a remuneração mínima acaba pesando na qualidade de vida e no desempenho profissional do trabalhador. "Com o baixo piso, boa parte dos profissionais tem de trabalhar em mais de um emprego", lembra Claylson. A consequência, além da própria qualidade do produto final, é o alto índice de doenças e afastamentos nas redações, o que por si já justifica a formação da comissão paritária, para tratar de forma preventiva a questão.

Claylson destacou que Mauro Sales poderia, antes de fazer qualquer colocação, ouvir as argumentações das cláusulas colocadas. "Não queremos perder a oportunidade de discutir as demais cláusulas, inclusive melhorando as econômicas, tendo em vista o bom momento pelo qual passam as empresas e a economia do país. Está na hora de escrevermos novos pontos na CCT de impresso, melhorando não só as condições de trabalho da categoria, mas o próprio produto final que chega aos lares de milhares de cearenses", disse.

Mesmo diante da frustração da postura dos representantes patronais, Claylson Martins reafirmou que a atual gestão do Sindjorce está disposta a construir um novo tipo de relacionamento entre os sindicatos patronal e laboral. "Entendemos que o presidente do Sindijornais não esteja acompanhando a negociação, mas queremos conversar em patamares de razoabilidade, para que o acordo seja interessante para a categoria e para as empresas, conforme defendemos no slogan da nossa campanha: ‘Outro jornalismo é possível', com os profissionais em primeiro lugar, fazendo um produto de excelência".

Fonte: Sindjorce