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Com o PSDB, Educação em SP é "poço sem fundo de desvio de verbas"

Um funcionário de confiança da Secretaria de Educação de São Paulo – estado governado há 16 anos pelo PSDB – torce como poucos pela derrota do partido nas eleições ao governo paulista. Em entrevista exclusiva ao Vermelho, concedida sob a condição do anonimato, ele revela como a gestão tucana transformou a Educação num “poço sem fundo de desvio de verbas”, que “não resiste a uma auditoria, ainda que superficial”.

Por André Cintra

As negociatas, iniciadas já no governo Mário Covas (1995-2001), proliferaram com a posse de José Serra no Palácio do Morumbi (2007) e se fortaleceram ainda mais com a nomeação do ex-ministro Paulo Renato de Souza para a Secretaria de Educação (abril de 2009).

O novo secretário emergiu em meio a uma crise que alçou a pasta ao centro do noticiário: 500 mil livros didáticos distribuídos à rede estadual continham erros incríveis, como o célebre mapa da América do Sul sem o Equador – mas com dois “Paraguais”.

Com Paulo Renato, os problemas em materiais didáticos persistiram. Há 12 dias, soube-se que uma apostila orientava alunos do ensino médio a acessar o site pornográfico www.newsonline.com. A página, indicada para aprimorar o aprendizado da língua inglesa, mostra apresentadoras de telejornais se despindo à medida que leem notícias.

“Seria um escândalo se não fosse rotina”, diz o funcionário de confiança ouvido pelo Vermelho. “Porém, a verdadeira pornografia não é essa – mas os contratos suspeitíssimos com a Fundação Carlos Vanzolini. Os valores envolvem mais números do que possam imaginar nossa vã filosofia. A orgia mais explícita é a relação carnal com a Editora Abril e com o grupo COC.”

O esquema de lobbies envolve até a PR Consultoras – empresa que tem o próprio Paulo Renato como sócio. “Não escapa sequer o Conselho Estadual de Educação, dominado por representantes de escolas privadas e de empresas financiadoras das campanhas eleitorais do PSDB.”

Confira abaixo trechos da entrevista

Vermelho: Os alunos da rede estadual já receberam mapas distorcidos e livros com palavrões. Agora, foram recomendados a acessarem um site pornô. O que explica tantos erros em tão pouco tempo?
Seria um escândalo se não fosse rotina. A gestão tucana faz ouvidos de mercador para o verdadeiro massacre a que autores importantes de nossa literatura são submetidos por grupos fundamentalistas – em que se incluem alguns poucos mas barulhentos dirigentes de ensino filiados ao PSDB, ao DEM, ao PPS e a setores ultraconservadores de algumas religiões ultrapassados pelo tempo.

Enquanto isso, o governo envia aos alunos das escolas públicas do estado milhares de atlas com múltiplos Paraguais, cartilhas para professores e alunos plenas erros conceituais, de português e de digitação, elaboradas pela insuspeita Fundação Carlos Vanzolini e impressas pelo grupo Positivo – a preços que fazem corar mesmo os departamentos comerciais das mais gulosas editoras.

A Secretaria de Educação vacila sobre o muro na defesa de obras consagradas de Manuel de Barros, Jorge Amado, Inácio de Loyola Brandão, entre outras, em face de ataques histéricos desferidos contra elas por setores reacionários incrustados na administração tucana. Mas Paulo Renato assina a remessa de livros de conteúdo adulto para crianças em fase de alfabetização e de apostila que recomenda explicitamente o acesso de alunos da rede pública a site pornográfico.

Vermelho: Mas a indicação do site erótico não um erro ainda mais grave da secretaria?
No caso dessa indicação do site impróprio na apostila, não se pode ser ir além dos que o evento significa: um descuido lamentável que sequer pode ser debitado, estrito senso, na conta de Paulo Ranto, uma vez que seria humanamente impossível que ele lesse tudo que é enviado à rede.

Porém, a verdadeira pornografia não é essa – mas os contratos suspeitíssimos com a Fundação Carlos Vanzolini. Os valores envolvem mais números do que possam imaginar nossa vã filosofia. A orgia mais explícita é a relação carnal com a Editora Abril e com o grupo COC.

Vermelho: São relações ilícitas?
A bem da verdade, a gestão tucana em São Paulo, no que tange ao poço sem fundo de desvio de verbas na área da Educação, não resiste a uma auditoria, ainda que superficial. Daí o temor de que um segundo turno e uma eventual vitória de Aloízio Mercadante (nas eleições para o governo do estado) destampe a verdadeira “caixinha de Pandora” de irregularidades. Sobre ela se senta atualmente Paulo Renato, sabidamente lobista da Editora Abril, do Sistema Positivo, do Grupo Santillana e, não tão discretamente, do Sistema COC.

Vermelho: “Não tão discretamente”?
O COC teve como consultora uma subordinada de confiança do Paulo Renato, Maria Inês Fini, que – contam as línguas boas e más – ainda é informalmente consultora do grupo. Não é à toa que o COC cada vez abocanha mais escolas do interior do estado, para as quais são enviadas suas apostilas a preço de ouro, em substituição do material didático enviado de graça às escolas pelo governo federal.

Vermelho: Quem mais está envolvido no esquema?
Não escapa sequer o Conselho Estadual de Educação, dominado por representantes de escolas privadas e de empresas financiadoras das campanhas eleitorais do PSDB. É um rol de promiscuidade entre a gestão publica e interesses cabulosos, em que se inclui a PR Consultores, empresa de consultoria do próprio secretário da Educação. A PR Consultores finge que está morta, mas seu idealizador, Paulo Renato, e seus parceiros são vivos até demais.

Vermelho: É verdade que a Secretaria da Educação rachou, a ponto de vários funcionários declararem abertamente que votarão em Mercadante?
A secretaria se encontra hoje à deriva. A derrota fragorosa de Serra é dada como certa pelo primeiro, segundo, terceiro, quarto e enésimo escalões do governo do estado. Isso significa que o grupo montado por ele para catapultá-lo ao Planalto está se desmilinguindo e já incorporou completamente o espírito de fim de feira.

O medo da cúpula tucana é que um segundo turno para o governo de São Paulo abra a possibilidade de derrota. Uma vez derrotada, a administração tucana perderia a blindagem da imprensa neoliberal de São Paulo e seria aberta à visitação pública. Não se estaria diante de uma “caixinha de Pandora” – mas em face de um caixão lacrado cujos segredos impublicáveis, confinados por mais de década e meia, saltariam à luz assim que libertados pela derrota.