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Luciana Santos: PE é símbolo da luta contra desigualdades no país

A pernambucana Luciana Santos aprendeu cedo a enfrentar, como mulher e comunista, as vicissitudes da vida política. E foi nela que construiu sua trajetória. Foi deputada estadual, prefeita eleita e reeleita de Olinda, secretária de Ciência e Tecnologia de seu estado, é vice-presidente nacional do PCdoB e soube aprender com cada uma dessas experiências a arte da boa política. Agora, luta por uma vaga na Câmara, onde pretende casar as necessidades locais com as bandeiras nacionais do PCdoB.

Luciana Santos e cia

Nesta entrevista, ela fala sobre o papel que quer desempenhar na Casa. “Tenho consciência da necessidade de a gente, no Congresso Nacional, jogar um papel importante não apenas para garantir a governabilidade como também para reunir forças suficientes para aprofundar mudanças”, afirma.

“Penso que o estado é o símbolo do enfrentamento das desigualdades”, diz sobre sua terra natal. “Essa será uma temática à qual irei me ater porque não podemos imaginar um projeto nacional de desenvolvimento sem levar em conta o rebatimento desse desenvolvimento para as regiões do país”, explica.

Sobre a disputa nacional, Luciana argumenta que, para além da importância do projeto nacional a que dará continuidade, “a vitória de Dilma terá um efeito subjetivo no imaginário da população a exemplo do que foi o caso de Lula, como operário e nordestino. A candidatura de Dilma é, simbolicamente, algo que cala fundo na afirmação feminina não só política, mas em qualquer outra instância”.

Partido Vivo: Há 12 anos, você disputou sua última eleição a um cargo proporcional (deputada estadual). Depois, disputou e ganhou duas vezes a eleição para a prefeitura de Olinda. Como é retomar à disputa proporcional e o que a difere de uma disputa majoritária em Pernambuco?
Luciana Santos: A disputa majoritária para a prefeitura tem a característica de ser mais focada no município, em que pese o fato de a gente sempre ter feito um debate relacionando o desafio local com o projeto nacional de desenvolvimento. Afinal, os desafios municipais estão necessariamente vinculados a um projeto nacional exitoso, cuja pauta tem repercussão direta na vida das cidades. Além disso, do ponto de vista eleitoral, é uma campanha em que é preciso ter mais da metade dos votos de uma cidade, o que significa ter a capacidade de fazer uma grande aliança política capaz de comportar vários segmentos e correntes de pensamento.

Quando concorri à Prefeitura, pude vivenciar um momento importante em Pernambuco e no Brasil. Em 2000, tínhamos um cenário estadual e nacional muito adverso às nossas forças; era o governo de FHC e, aqui, tínhamos um governador aliado a ele, Jarbas Vasconcelos. Os conservadores anunciaram que em Pernambuco teriam a hegemonia por mais de 20 anos. E aconteceu que, exatamente dois anos depois, João Paulo vence para a prefeitura do Recife – com Luciano Siqueira (PCdoB) como vice – e eu para a de Olinda. O PCdoB estava muito bem posicionado. Aquele foi um momento de virada das nossas forças, antes mesmo da vitória de Lula.

No caso da disputa proporcional, ela é mais voltada para determinados segmentos com que se tem mais identidade política e de pensamento. A disputa para a Câmara precisa ser também um instrumento de apresentação e articulação do partido de maneira mais ampla no estado, interiorizando a campanha para que a gente possa existir de maneira mais pulverizada, nos apresentando como alternativa política nas cidades-pólo.

Partido Vivo: Como tem sido a recepção ao seu nome, e ao PCdoB, em Pernambuco?
LS: Aqui, o presidente Lula é um mito, uma figura de uma popularidade de que não se tem registro histórico semelhante. E o nosso governador segue mais ou menos o mesmo roteiro. Inclusive a disputa no estado, no momento, vai apontando uma vantagem muito maior para Eduardo Campos em relação a Jarbas do que para Dilma Rousseff com relação a José Serra. Ou seja, há um ambiente de muita afinação de nossas forças, de nosso projeto, porque Pernambuco aproveitou bem a agenda de crescimento pautada pelo governo Lula. Basta dizer que em plena crise, Pernambuco cresceu cinco vezes mais o que o Brasil cresceu. Foi feito aqui um complexo industrial, o de Suape, que está para Pernambuco como o ABC está para São Paulo. Temos refinaria – há 25 anos não se construía uma no Brasil – e estado foi o primeiro, no governo Lula, a ter um estaleiro naval. Também assistimos no estado a interiorização do desenvolvimento, com infraestrutura que potencializa suas vocações regionais, como, por exemplo, a Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco. São intervenções que estão virando a página e mudando completamente a matriz econômica de Pernambuco. Portanto, nossa campanha se desenvolve numa onda muito positiva e minha candidatura, em particular, é resultado da visibilidade proporcionada pela vitoriosa gestão de Olinda. E temos boas chances de eleger Luciano Siqueira e Luciano Moura para estadual, além de Nelson Pereira federal também por conta da vitória esmagadora que Eduardo poderá ter. É possível que sua base eleja cerca de 20 dos 25 deputados federais do estado.

Partido Vivo: Pernambuco é um bom exemplo da decadência da direita – os candidatos desse campo não emplacam e parecem já se conformar com o cenário. Por que a situação se tornou tão complicada para os conservadores?
LS: Acho que foi a junção da falta de discurso – a exemplo do projeto político em nível nacional que Serra representa – com a grande força do presidente Lula e com esses investimentos estruturantes no estado que são muito inclusivos. Basta dizer, por exemplo, que tivemos a interiorização de universidades tanto por parte do governo Lula como por parte do governo do estado. Fui secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Eduardo Campos durante nove meses e pude participar, como gestora, da interiorização da Universidade de Pernambuco, que levou cursos como os de Direito, Odontologia e Medicina para regiões do Sertão e do Agreste. No caso do governo federal, foi implantada a Universidade do Vale do São Francisco, um marco numa região marcada pela falta de oportunidades. O Vale conseguiu encontrar um caminho de sustentabilidade econômica com a fruticultura irrigada e não tínhamos um equipamento como a universidade pública que ajudasse não só a formar quadros profissionais para aquelas vocações, mas também para a manutenção das pessoas em suas regiões. Em quatro anos, foram criadas sete escolas técnicas, o que é muita coisa, e foram montadas as UPAs, que embora sejam uma iniciativa federal, aqui o governo estadual deu agilidade e multiplicou as Unidades de Pronto Atendimento na região metropolitana onde tínhamos um gargalo muito grande no serviço de saúde. Para completar, as forças de oposição no estado, além de não ter discurso, se posicionaram de maneira contundente contra Lula. Jarbas, enquanto senador, foi porta-voz da oposição, não se escondeu – está se escondendo agora, nas eleições – mas ele fez uma oposição muito veemente.

Partido Vivo: Você ocupou a prefeitura de Olinda duas vezes e depois, a secretaria de CeT e Meio Ambiente de Pernambuco. O que essas experiências no Executivo trouxeram para você e podem agregar a uma atuação na Câmara?

LS: Já fui deputada estadual por quatro anos, mas confesso que em um ano na Prefeitura de Olinda amadureci muito porque tive mais contato com aquilo que a gente chama de realidade concreta; por mais que você legisle, fiscalize, debata os assuntos, a responsabilidade de gerir traz uma experiência muito importante. É óbvio que agora, para a Câmara, também é diferente. O mandato tem uma dimensão nacional. É preciso que a futura bancada do PCdoB encampe as reformas que o partido tem defendido e que são parte de nosso Programa Socialista dentro de um novo contexto de vitória de Dilma Rousseff. Sem dúvida será um mandato mais exigente porque terá o caráter de contribuir objetivamente para esse aprofundamento das mudanças que será tão exigido pelo povo brasileiro.
Tenho consciência da necessidade de a gente, no Congresso Nacional, jogar um papel importante não apenas para garantir a governabilidade como também para reunir forças suficientes para aprofundar as mudanças; afinal, não é fácil romper com interesses que até hoje impediram que essas reformas, apesar da força política de Lula, fossem adiante. A administração em Olinda trouxe experiências que certamente me ajudarão a contribuir no exercício de um bom mandato.

Partido Vivo: Que bandeiras devem ser seu carro-chefe caso vença as eleições para a Câmara? Como suas bandeiras se ligam ao Programa Socialista do PCdoB e, ao mesmo tempo, às necessidades do estado?
LS: Essa ligação se dá exatamente porque Pernambuco só vingará se continuar no caminho do aprofundamento das mudanças do país. Penso que o estado é o símbolo do enfrentamento das desigualdades. Essa será uma temática à qual irei me ater porque não podemos imaginar um projeto nacional de desenvolvimento sem levar em conta o rebatimento desse desenvolvimento para as regiões do país. E acho que hoje há um melhor entendimento dos diversos atores sociais, políticos e culturais de que ao contrário do que se formulava antes sobre a política regional, temos que ter uma política nacional com cortes regionais vinculadas ao governo de Dilma Rousseff. As reformas que apresentamos (política, educacional, tributária, agrária, urbana, meios de comunicação, além do fortalecimento do SUS, da seguridade social e da segurança pública) são centrais na relação entre o local e o nacional.

Partido Vivo: Neste ano, temos duas mulheres entre as três principais candidaturas à Presidência; pelos estados, elas também disputam vagas nos governos, Senado, Câmara e assembleias. Parece ter havido uma evolução na participação das mulheres, embora ainda continue desproporcional em relação aos homens. Como você vê isso? E como avalia a preocupação do PCdoB com a maior participação das mulheres nos espaços de poder?
LS: Nosso partido é exemplar nessa questão. Somos – e o Renato (Rabelo), nosso presidente nacional, sempre destaca isso – um partido feminino e jovem. Objetivamente, o partido tem forjado lideranças femininas de grande peso em várias regiões do país. Elas são, sem dúvida, fundamentais na equação política de vários estados; são pessoas que entram nesse jogo político com muita força. Acho que este é um grande diferencial do PCdoB e vai ser ainda mais com a reeleição de muitas deputadas e a chegada de novas, além da possibilidade de eleição da Vanessa (Grazziotin) ao Senado, que poderá dar maior visibilidade à participação feminina na tomada de decisões políticas no país. Mas, sem dúvida, a vitória de Dilma terá um efeito subjetivo no imaginário da população a exemplo do que foi o caso de Lula, como operário e nordestino. A candidatura de Dilma é, simbolicamente, algo que cala fundo na afirmação feminina não só política, mas em qualquer outra instância da sociedade.

Da redação,
Priscila Lobregatte