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SP: Governo quer comprar presença de alunos em aulas

Matéria da Folha de S. Paulo de sexta-feira (13) trazia a informação de que o governo de São Paulo vai pagar até R$ 50 a alunos do ensino fundamental (11 e 12 anos) com notas baixas que participem de aulas de reforço em matemática – disciplina em que os resultados da rede estadual são piores. O sindicato dos professores classifica a medida de "eleitoreira" e educadores a consideram "preocupante", e um estímulo a notas baixas.

O dinheiro seria dado diretamente ao estudante, e não a sua família. O valor seria proporcional à presença nas atividades, realizadas duas vezes por semana, em sessões de 90 minutos, por três meses. Se não faltar nenhuma vez, o aluno ganharia R$ 50 ao final do período.

A Secretaria da Educação informou, na própria sexta-feira (13), que os R$ 50 a serem dados a alunos que participem do reforço em matemática só poderão ser gastos em produtos específicos, como cadernos, CDs, livros ou itens semelhantes. Segundo o jornalista Fábio Takahashi, esse detalhamento não estava presente nos textos de divulgação da pasta nem foi citado em entrevista dada à reportagem. A quantia foi tratada apenas como "vale-presente".

O pagamento a alunos com dificuldade integra o projeto da Secretaria da Educação em que 400 bons estudantes do ensino médio da rede estadual darão tutoria (atividades de reforço) em matemática para 1.200 alunos do 6º e 7º anos.

A gestão Alberto Goldman (PSDB) decidiu dar o "vale-presente" aos alunos com notas baixas para estimular a presença às atividades, que não são obrigatórias. Durante o desenvolvimento do projeto, levantou-se a possibilidade de que houvesse muitas faltas dos estudantes e até mesmo desistências. Chegou-se a pensar em sorteios de notebooks.

Apeoesp contra o "vale-presente"

A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Isabel Noronha, diz que o projeto como um todo é ruim porque a questão principal do problema não está sendo combatida. Uma delas é oferecer uma remuneração adequada para os professores e, com isso, estimular a procura à carreira de profissionais de qualidade, principalmente de matemática, em deficit na rede.

"O Bolsa Família tenta combater o trabalho infantil, é uma outra discussão. Mas pagar para um aluno ter aulas é uma coisa que eu nunca vi”, afirmou ela que diz ver um "caráter eleitoreiro".

O reforço começa no mês que vem. O projeto é piloto e pode ser ampliado. A rede tem 4,2 milhões de alunos.

A Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo informou que abriu procedimento para verificar se há irregularidades na distribuição dos vales em período eleitoral.

Médias Baixas

Exames estaduais e nacionais mostram que matemática é o ponto mais crítico do ensino público, tanto em São Paulo como no país. Na última avaliação paulista, chegou a haver recuo na média no ensino médio.

A Folha conversou com professores da rede, que mostraram preocupação com o pagamento aos alunos. A principal é que eles poderão tirar notas baixas apenas para integrar o reforço e ganhar o dinheiro.

Os participantes do projeto serão escolhidos com base nas notas do Saresp e boletins escolares. As inscrições começaram no dia 4 e terminaram na sexta-feira (13), pelo site www.multiplicandosaber.org.br.

Para isso, é preciso que a escola do estudante tenha sido uma das 441 escolhidas. Os estudantes-tutores ganharão bolsa de R$ 115.

O projeto é financiado pelo governo, Banco Interamericano de Desenvolvimento e parceiros. Também participam a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e docentes da USP.

Da redação, Luana Bonone, com Folha de São Paulo e Apeoesp