Messias Pontes – José Serra e Carlos Lacerda: tudo a ver

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Não sei se o candidato demotucano a presidente da República, José Serra, é médium, mas que ele incorporou o espírito golpista do udenista Carlos Lacerda, um dos responsáveis pelo suicídio de Getúlio Vargas e um dos líderes civis do golpe militar de 1º de abril de 1964, não se tem a menor dúvida. Se formos elencar a semelhança de prática entre os dois, este espaço seria pequeno.

Para começar, os dois, na juventude, militaram em partidos de esquerda: Lacerda no Partido Comunista; Serra em Ação Popular. Os dois terminaram na direita mais retrógrada e a serviço do imperialismo ianque. Lacerda tinha obsessão pela Presidência da República, considerando-se o mais preparado; Serra hoje repete a mesma cantilena. Lacerda, quando governador da Guanabara, quis “limpar” as ruas da cidade do Rio de Janeiro mandando jogar os mendigos no Rio da Guarda; Serra, quando prefeito de São Paulo, “limpou” a cidade construindo rampas embaixo dos viadutos, impedindo, assim, que os moradores de rua dormissem ali.

Mas o que mais se assemelha entre os dois é o espírito golpista. Sem condições de ganhar pelo voto popular a Presidência da República, Lacerda disseminou o medo e apelou para o golpe militar; Serra, como toda a direita, o Coisa Ruim (FHC) à frente, disseminou o medo contra Luiz Inácio Lula da Silva e faz o mesmo com relação à Dilma Rousseff. Para operacionalizar o golpe, Lacerda usou a mídia e as Forças Armadas; Serra utiliza a grande mídia conservadora, venal e golpista, e só não apela para as Forças Armadas porque estas, hoje, cumprem o seu papel constitucional e não querem mais se lançar à aventura como a de 1964.

Com relação aos movimentos sociais, o neo-udenista age da mesma forma que o velho canalha da UDN, ou seja, não só o criminaliza, como o demoniza, sempre se utilizando da mentira. Para ambos, todos os sindicatos e centrais sindicais que não lêem em suas cartilhas não passam de entidades pelegas. O Corvo não criminalizou e demonizou o Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem Terra, como o seu discípulo faz hoje porque o MST não existia naquela época.

O medo foi uma poderosa arma utilizada pela direita ao longo da história, “alertando” para o “perigo comunista”, tendo como caldo de cultura a guerra fria. Com a queda do Muro de Berlim, o candidato do Coisa Ruim não pode mais amedrontar os brasileiros com o perigo Soviético, mas apela para o medo acusando o PT e sua candidata de ligação com as Farc e com o “chavismo”.

Serra e todo o demotucanato devem se conscientizar que a “guerra fria” se acabou e que o medo historicamente utilizado pela direita mais reacionária funcionou ainda no pós-ditadura militar em 1989, em 1994 e 1998. Porém fracassou fragorosamente em 2002 e 2006, e que este ano, mais uma vez, o terrorismo do medo não pega mais.

Quem não se lembra de Fernando Collor de Mello afirmando que se Lula ganhasse a eleição iria confiscar o dinheiro da caderneta de poupança? O empresário Mário Amato, presidente da “poderosa” Fiesp, aliado de Collor de Mello, assegurou que se o ex-metalúrgico ganhasse as eleições 800 mil empresários deixariam o País. O Coisa Ruim ganhou as duas eleições presidenciais associando o PT ao naufrágio do Plano Real e ao retorno da inflação. E a Regina Duarte, lembram dela pregando o medo no PT?

O eleitor brasileiro amadureceu muito, notadamente nos últimos oito anos, e certamente derrotará o neo-udenista mais uma vez.

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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