Favela da Maré: A Copa do Mundo é de todos

O relógio marca 10h45, já está quase na hora do jogo começar. Dona Helena corre pra cozinha e, em pouco tempo, tem TV, pipoca, pizza e refrigerante na rua enfeitada por bandeirinhas e crianças agitadas. Ela explica que, desta vez, o churrasco da rua foi cancelado, porque a maioria das pessoas precisava voltar ao trabalho depois do jogo. Era a terceira partida da seleção brasileira na Copa, contra a seleção de Portugal, na última sexta-feira.

Por Marília Gonçalves, no Observatório de Favelas

Estamos no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. No primeiro jogo, contra a Coreia, um caldo verde preparado a muitas mãos alimentou a torcida.

Para enfrentar a Costa do Marfim, feijoada era o prato principal do cardápio naquela rua. O esquema é sempre o mesmo, "cada um dá um pouco de dinheiro, aí um faz a farofa, outro faz a couve…", conta Dona Helena enquanto estoura as pipocas na cozinha.

Dos seus 60 anos, Dona Helena passou 34 na Maré. Ela diz que as Copas são sempre assim. Esse clima de solidariedade que fica tão mais evidente de quatro em quatro anos, quando toma conta das ruas da Maré e de tantas outras favelas pela cidade.

"Naquela Copa que foi de madrugada, a gente fazia café da manhã, saía acordando os vizinhos na rua, chamando pra ver o jogo. Não tem religião, nem campeonato, nem nada que junte as pessoas assim", recorda.

A poucos metros dali, conhecemos Selma Peixoto, ou "a presidente da rua". Ela ri do título colocado pelos vizinhos, e explica que é devido à união entre as mulheres que moram ali.

"A gente tenta organizar o máximo que pode pra manter a rua limpinha, né? Não é porque a gente mora em favela que tem que ficar tudo sujo". Selma, que tem 47 anos, vive há 38 na Maré.

Ela faz planos para a partida final da Copa, já contando que a seleção brasileira vai chegar até lá. "A gente quer fazer um bolo com a bandeira do Brasil. Estou chamando todo mundo. Eu quero essa rua cheia!", diz.

Mas como é que fica se o Brasil perder, Selma? "A gente vai continuar a festa ué! A gente é brasileiro, não pode deixar a peteca cair não!".

São muitas televisões em muitas ruas enfeitadas, muitas pessoas, muitas história pra contar. Por aqui, a Copa também é de paz. Por aqui a comunhão dos vizinhos e a felicidade das crianças não saem às ruas só quando a seleção está em campo pelo campeonato mundial, mas é quando fica tudo um pouco mais colorido. Um pouco mais verde e amarelo. Por aqui a gente entende melhor o que é comunidade.