Messias Pontes – Quem é atrasado e autoritário no Ceará?

.

O quadro sucessório no Ceará está definido: o governador Cid Gomes (PSB) disputa a reeleição apoiado por mais 15 partidos, representando o centro-esquerda; Marcos Cals (PSDB) juntamente com o DEMO, representando a direita; Lúcio Alcântara (PR) e mais o PPS, do centro-direita; e Soraya Tupinambá, da extrema-esquerda. Marcelo Silva, do centrista PV, decide hoje se será candidato, mas apenas para dar palanque à Marina Silva.

Esse quadro era impensável há um mês, e até falava-se em W.O, dado que Cid Gomes disputaria praticamente sem concorrente, visto que a candidatura do PSOL é apenas para marcar posição. Os hoje adversários (inimigos?) Cid Gomes e o senador Tasso Jereissati trocavam elogios, o primeiro enfatizando que “Cid faz um grande governo e por isso merece ser reeleito”; e este declarando que a raposa tucana “é o maior homem público do Ceará”.

Mas como a política é dinâmica, o impensável tornou-se realidade e agora Cid deixou de ser um grande governador e por isso não merece ser reeleito, já que adota “práticas coronelistas e, portanto, está retrocedendo”. Durante três anos e meio o PSDB participou com dois secretários – Marcos Cals, da Justiça e Cidadania; e Bismarck Maia, do Turismo. Este continua no governo e até participou da convenção do último domingo que homologou a candidatura de Cid; e Luis de Abreu Dantas, que substitui Marcos Cals, permanece no cargo.

Outros tucanos, igualmente, permanecem ocupando cargos de segundo e terceiro escalões. Pelo menos até ontem. Nenhum tucano pediu para os correligionários deixarem os cargos que ainda ocupam, e tampouco o Governador sinalizou que vai exonerá-los.

Enquanto Tasso e seus parceiros não economizam críticas ao governador, Cid declarou com muita ênfase que não responderia aos neo-opositores que somente agora passaram a enxergar defeitos na sua administração. Numa demonstração explícita de incoerência, Jereissati afirmou, durante a convenção do seu partido que “não dormia tranqüilo quando apoiava Cid Gomes”, e que “salvaria o meu mandato, mas mataria a minha história” se continuasse apoiando o atual governador.

Essas e outras afirmações do guru tucano soam muito falsas. Na realidade, o senador estaria defendendo a reeleição de Cid com todo fervor se este tivesse garantido apoio à sua reeleição, mesmo que informalmente. Na Assembleia Legislativa, alguns deputados tucanos afirmavam “em off” que Jereissati estava preocupado apenas consigo mesmo. Por isso passaram a pressioná-lo para que exigisse uma definição do governador. Eles queriam a formalização de uma coligação proporcional, já que a bancada vem minguando a cada eleição. Dos atuais 13 deputados (foram eleitos 14), pelo menos seis devem “dançar” nas urnas de três de outubro.

Nos seus três mandatos de governador, Jereissati foi ultra centralizador e muito autoritário, reprimindo com extrema violência os movimentos sociais, notadamente o MST, e não dialogando jamais com os servidores públicos estaduais. Quem não se lembra da ação da Casa Militar do governo tassista sitiando centenas de trabalhadores rurais na Avenida Bezerra de Menezes , em frente à Secretaria de Agricultura? A ordem era impedir a entrada de água e alimentos para os camponeses. Quem ousasse o contrário era brutalmente reprimido. Nesse episódio, os então deputados estaduais Inácio Arruda (PCdoB) e Mário Mamede (PT) foram agredidos fisicamente por truculentos policiais militares, mesmo se identificando como parlamentares.

Já Cid Gomes soube dialogar com os servidores públicos, com os estudantes e com os movimentos sociais. Questionado por estudantes sobre a qualidade da alimentação servida na UECE, durante a inauguração da ampliação da biblioteca daquela universidade, Cid entrou na fila do Restaurante Universitário, no Itaperi, e comeu o que era servido para todos. Isto sem nada combinado. Isto Tasso Jereissati jamais faria. Nem mesmo em sonho.

Diante do exposto, quem é autoritário e atrasado no Ceará?

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Portal Vermelho