Messias Pontes – A eleição no Ceará promete ser animada

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Finalmente acabou o dilema hamletiano no ninho tucano: numa chapa puro sangue, o deputado Marcos Cals será o candidato a governador, tendo o radialista Paulo Oliveira na vice e o senador Tasso Jereissati confirmando a sua candidatura à reeleição. O ex-governador Lúcio Alcântara, do PR (ex-PSDB) também entrará na disputa, tendo como vice o empresário Alexandre Pereira, do PPS e o também empresário Robson Silva candidato ao Senado.

O governador Cid Gomes, que se encontra na África do Sul e chegar amanhã, deverá fechar a sua chapa até sexta-feira. O deputado peemedebista Eunício Oliveira já está definido para o Senado e o segundo nome para a Câmara Alta deve ser mesmo o deputado e ex-ministro da Previdência José Pimentel. A dúvida é com relação ao nome que completará a chapa na vice, que tanto poderá ser de um partido aliado, como o PCdoB que colocou o nome do advogado Hélio Leitão, ou do PDT, que indicou o seu presidente de honra Flávio Torres.

Não será surpresa se o vice de Cid for um socialista da sua inteira confiança, como o deputado Mauro Filho ou o ex-secretário e ex-deputado Antonio Balmhan. O Governador conta com 15 partidos apoiando a sua reeleição e é o favorito na disputa. Na última pesquisa divulgada, ele tem mais que o dobro sobre Lúcio Alcântara, e 48 a 25 contra Tasso Jereissati. Mas isso foi há seis meses e política é como nuvem, como dizem os mineiros, logo pode mudar de configuração.

Com o quadro posto, resta ao PT local criar juízo e compreender que ele não pode ocupar duas vagas numa chapa de quatro quando tem 15 partidos na base cidista. Ademais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que é uma questão estratégica eleger uma boa bancada no Senado para dar tranqüilidade e garantir a governabilidade a Dilma Rousseff na hipótese dela ser eleita presidente da República. A questão nacional, segundo o presidente Lula, deve ser priorizada. Por isso a eleição de Eunício Oliveira e José Pimentel deve ser priorizada.

A disputa promete ser levada em alto nível, até porque o deputado Marcos Cals, além de ser um gentleman, foi secretário de Cid até abril último, e a bancada tucana na Assembléia Legislativa apoiou incondicionalmente o Governador durante três anos e meio. Além disso, o senador Tasso Jereissati enfatizou há pouco que Cid era um grande governador e merecia ser reeleito. Lúcio Alcântara, por sua vez, deve ser mais cáustico com relação a Cid, mas não é do seu estilo baixar o nível.

Marcos Cals presidiu a Assembleia Legislativa por dois períodos, período em que foi bem avaliado pelos colegas de todos os partidos dado a forma democrática como se conduziu. Como secretário de Justiça e Cidadania realizou uma boa gestão. Tem trânsito livre em todos os partidos, é bem relacionado na sociedade e esbanja simpatia.

No entanto, não será fácil convencer o eleitorado cearense que o governo Cid Gomes deve ser mudado a partir de janeiro do próximo ano, pois o líder maior do tucanato cearense, senador Tasso Jereissati, até há dois meses não poupava adjetivos para elogiar o Governador. Também não será fácil para Marcos Cals defender o seu candidato a presidente da República, José Serra, já que este é estigmatizado no Nordeste, e em especial no Ceará. Ainda está muito viva na memória de todos a infeliz e preconceituosa afirmação do candidato tucano de que o problema de São Paulo e do Brasil são os nordestinos. Além do mais, ser contra o presidente Lula aqui é rejeitado pela esmagadora maioria da população.

No tocante ao ex-governador Lúcio Alcântara, este tem moral para criticar o Governo estadual, pois vem fazendo isto há muito tempo, e, no que pese ter perdido a eleição para Cid Gomes, terminou o seu governo bem avaliado, tendo a aceitação de mais de 60% dos cearenses. Hoje no Partido da República (PR), oferecerá o seu palanque para Dilma Rousseff que tem a preferência dos cearenses. Contudo, falta-lhe estrutura partidária e o seu tempo de rádio e televisão é muito pequeno.

A favor de Cid Gomes tem a boa aceitação do seu governo, 15 partidos aliados e o apoio incondicional do presidente Lula que aqui tem aproximadamente 90% de aceitação. O seu tempo de rádio e televisão é mais que o dobro da soma dos demais concorrentes. E ainda tem a seu favor mais de três mil importantes obras em andamento em todo o estado. O favoritismo de Cid não será fácil reverter.

Com o novo quadro político criado a partir do rompimento de Tasso com o Governador, tudo leva a crer que a disputa sucessória cearense será bem animada.

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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