Alexandre Lucas – A dimensão educativa e política na arte

.

Os coletivos de artistas e agregados (produtores culturais, pesquisadores, ativistas, etc) vem crescendo no Brasil. A maioria tem como foco a relação política/educativa e artística/estética se caracterizando por ações de rua e de trabalhos colaborativos junto aos movimentos sociais, além de manterem uma relação de aproximação com a arte contemporânea (ou ser a própria arte contemporânea), utilizando os novos suportes e conceitos estéticos/artísticos, além do envolvimento com as várias áreas do conhecimento e a confluência de linguagens artísticas.

Esses grupos são agrupamentos conscientes que têm vida orgânica e outros se reúnem para ações esporádicas, fazendo comumente abordagens a partir de uma determinada compreensão de mundo amparada em conceitos teóricos ou não. Um dos elos desses coletivos são as afinidades entre os membros e com outros coletivos nos fazeres e pensares artísticos/estéticos, bem como o compartilhamento de ações e ideias formando uma espécie de teia social.

A gestão dos coletivos ocorre normalmente de forma colegiada (não hierárquica) e com visão horizontalizada: as opiniões e a experiências individuais são valorizadas enquanto potencial coletivo.

A arte coletiva, colaborativa, interativa e marcada por uma série construções e de possibilidades sociais, artísticas e estéticas vai permear a compreensão e a dimensão educativa e política dessas novas formas de organização de artistas e de pessoas agregadas ao mundo da arte. Merece destacar que os coletivos não se propõem a ser entidade de representação da categoria dos profissionais da arte.

A dimensão política reside na tomada de posição e na efetivação das ideias enquanto reflexão e apreensão da realidade social. Se todo ser social é um ser político, na compreensão aristotélica, por conseguinte ele deve ter um posicionamento no qual se veja como agente de transformação do meio e vislumbre esse meio como agente de sua própria transformação, para que ele entenda a necessidade de tomar partido. Os Coletivos desempenham esse papel de tomar partido, de defender uma causa, uma ideia e de fazer uso da liberdade para questionar as realidades sociais.

Já a dimensão educativa encontra-se no reconhecimento de que a educação é uma exigência para mediar o trabalho, no entendimento de que o trabalho é uma condição humana de adaptar a natureza as nossas necessidades a partir do processo intencional de: idealização da ação (intenção), a concretização desta ação (materialização da ação). Como aponta o pedagogo Dermeval Saviani, “dizer, pois que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho” (Pedagogia Histórico-crítica Primeiras Aproximações).

Entretanto, o que dará uma característica diferenciada a especificidade do processo de educação informal dos coletivos de artistas será a requisição dos vários campos do conhecimento (geografia, direito, biologia, economia, história, publicidade, informática, urbanismo, filosofia, sociologia, etc) e das particularidades técnicas e conceituais das linguagens artísticas como parte integrante para efetivação do trabalho artístico. Recorrendo mais uma vez a Saviani: “O objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, do outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo”.

Devemos considerar que as duas dimensões, educativa e política nos coletivos, são inseparáveis e mantém uma relação de dependência, porém, apresentam feições distintas. A Educação se caracteriza pela busca do convencimento e do ensino e a Política pela disputa e tomada de posição diante da realidade. Ambas fazem parte da mesma prática: a prática social.

Notoriamente, a pretensão aqui não é abranger e fechar conceitos sobre a complexidade do vasto campo de atuação dos coletivos, mas suscitar algumas evidências características destas novas formas educativas e políticas de organização dos indivíduos ligados ao campo das artes.
Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo, artista/educador e membro do Conselho Municipal da Cultura

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Portal Vermelho