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A futilidade das resoluções do Conselho de Segurança da ONU

Embora o Conselho de Segurança da ONU, que alguns acreditam ser uma das organizações mais democráticas do mundo, tenha votado a favor de uma quarta rodada de sanções contra o Irã por causa de seu programa nuclear, a opinião pública global está ciente do fato de que, das 15 nações que fazem parte dele, cinco têm um inquestionável monopólio e domínio da situação, o que realmente não representa os interesses da comunidade internacional.

Por Kourosh Ziabari, para o Global Research

O Conselho de Segurança, que desde seu estabelecimento tem tomado decisões discriminatórias contra vários países do mundo, especialmente em relação às nações não alinhadas que tentam escapar da hegemonia das superpotências, é notório por seu habitual padrão de um peso e duas medidas e está claro para todo mundo que suas resoluções são, na maioria das vezes, nada mais que fúteis, ineficazes, tendenciosas e não vinculantes.

Desde 1948, o Conselho de Segurança adotou 223 resoluções condenando as violações de Israel à lei internacional, inclusive a ocupação de território palestino, incursões unilaterais em territórios libaneses e sírios, desenvolvimento de armas nucleares, deportação de cidadãos palestinos de seus lares e construção ilegal de assentamentos na Cisjordânia. Curiosamente, o regime israelense não deu atenção a qualquer uma dessas resoluções e o CS nunca colocou em prática as suas exigências para responsabilizar Telavive pela manutenção contínua de flagrante rebeldia em relação às leis internacionais.

Por exemplo, a resolução de número 487 exigiu que Israel colocasse suas instalações nucleares sob abrangente vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Israel nunca atendeu à demanda e o CS nunca processou Israel pela sua desobediência à resolução.

Em outro exemplo, o Conselho de Segurança adotou seis resoluções seguidas, após a invasão do Líbano por Israel, em 1982, exigindo que o país cessasse as atividades militares e retirasse suas forças do território do país vizinho, mas Israel se recusou a aceitar as resoluções, até que a de número 517 foi aprovada, na qual Telavive foi fortemente censurada por sua recusa em obedecer as resoluções do CS emitidas a partir de março de 1982.

O estado criminoso de Israel, desde seu estabelecimento, atacou todas as suas nações vizinhas em várias ocasiões, levando o CS a adotar várias resoluções, entretanto, elas nunca foram além de declarações políticas, que eram no mínimo meras reações espontâneas à brutalidade de Israel no Oriente Médio.

Em 21 de março de 1968, Israel iniciou a chamada Batalha de Karameh, ao atacar a cidade de mesmo nome na Jordânia, do outro lado do rio Jordão. O ataque matou de 40 a 84 jordanianos e de 100 a 200 palestinos. Em seguida ao ataque, o CS adotou a resolução 248, na qual a "flagrante violação à Carta das Nações Unidas" foi energicamente condenada por todos os membros do Conselho de Segurança, até mesmo pelos Estados Unidos. Entretanto, a condenação verbal foi a única reação do Conselho de Segurança à violência de Israel.

Em dezembro de 1968, as Forças de Defesa de Israel (nome fantasia do exército israelense), fizeram um raide no aeroporto Internacional de Beirute, destruindo 13 aeronaves civis que pertenciam à empresa nacional libanesa de aviação Middle East Airlines. O assalto também foi 'condenado' mais uma vez por mais uma resolução do CS, a de número 262. A resolução ameaçava punir Israel de forma categórica se seu exército não se retirasse do local. Porém, a resolução não foi obedecida e outras ações consequentes jamais foram tomadas, mesmo quando Israel repetiu as mesas ações criminosas.

Em 1985 Israel desferiu um ataque aéreo contra a Tunísia, tendo como alvo a liderança da Organização para a Libertação da Palestina. O CS adotou mais uma resolução, condenando Israel e exigindo que Telavive contivesse novos ataques semelhantes. A resolução também destacou que a Tunísia tinha o direito a uma indenização, considerando as perdas de vidas e os danos causados.

Tendo assassinado milhares de civis desde sua criação, o recorde criminoso do regime israelense é claro para o mundo e todo ser humano consciente admite que esse regime brutal merece sofrer as mais enérgicas medidas.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas nunca foi além de declarações propagandísticas em relação às ações ilegais e desumanas de Telavive, da morte de civis inocentes e da violação das leis humanitárias internacionais. Se não fosse a pressão da comunidade internacional, o CS jamais teria emitido essas resoluções, mesmo que frágeis e ineficazes, contra Israel.

O CS jamais aprovou qualquer resolução que impusesse sanções contra Israel, embora as transgressões e crimes do país sejam tão flagrantes e evidentes que ninguém pode negar a alegação de que Israel é o regime mais violento e vicioso do mundo, uma cópia idêntica e indistinguível do regime de apartheid que existiu na África do Sul.

A recente resolução do Conselho de Segurança contra o Irã foi um exercício claro de um peso e duas medidas pelo cada vez mais enfraquecido organismo internacional e deve ser respondida pela república islâmica de forma categórica. A postura de China e Rússia sobre o programa nuclear iraniano e o surpreendente acompanhamento de nações como Gabão, Nigéria, Uganda, Bósnia e Herzogovina e o México da trajetória falaciosa dos cinco grandes não deixam espaço para a continuação da diplomacia e uma interação pacífica com o Irã.

O país persa demonstrou uma cooperação construtiva e produtiva com a AIEA, com o Grupo dos 5 mais 1 (China, Rússia, EUA, Reino Unido e França mais a Alemanha) e com a União Europeia, mantendo as portas abertas para a negociação, porém o tempo da diplomacia chegou ao fim. Agora, depois que as cinco potências tomaram uma postura de confronto, decidindo por um caminho unilateral, o Irã deve mudar sua tática e a solução que pode escolher é retirar-se do Tratado de Não Proliferação Nuclear e da AIEA.

Se o Paquistão, a Índia e Israel podem gozar de impunidade internacional para desenvolver armas atômicas, simplesmente porque não são signatários do TNP, o Irã tem todo o direito de dar prosseguimento ao seu programa retirando-se um tratado que o país ratificou voluntariamente.

Kourosh Ziabari é um jovem jornalista iraniano de 19 anos, nascido no litoral do Mar Cáspio, que já publicou várias traduções do inglês para o persa e entrevistou personalidades como Noam Chomsky, o ex-presidente mexicano Vicente Fox, o prêmio nobel de Física Wolfgang Ketterle, o cartunista brasileiro o jornalista Eric Margolis e o ex-assistente do Departamento do Tesouro dos EUA Paul Craig Roberts, dentre várias outras personalidades mundiais.