Vem a Copa e eu vou… torcer pela África do Sul

O objetivo do Especial do Vermelho para a Copa de 2010 é o de aquecer a torcida enquanto a bola não rola pelos gramados de Nelson Mandela. Como a bola inicia sua parábola esta semana, encerro com este artigo minha colaboração neste Especial.

Por Jeosafá Fernandez Gonçalves

Seja qual for a seleção a erguer a taça desta Copa, os campeões já estão decididos: são Nelson Mandela, sua África do Sul e todos os democratas do planeta. O simbolismo implícito na realização do principal torneio mundial de futebol – que só perde em interesse de público para as Olimpíadas – em um país que sacudiu recentemente de seu corpo o punhal envenenado do apartheid é algo que permeará cada partida, cada lance, cada apito, cada eco das milhares de vuvuzelas sopradas pelos estádios, pelas ruas e favelas de lá e do mundo.

A campeã África do Sul recebe em seu solo, regado pelo sangue dos movimentos de resistência ao racismo e por justiça social, torcedores e turistas de todas as partes do globo, e a todos acolhe com o sorriso daqueles que aprenderam com as maiores amarguras a sorver cada gota de mel que a vida tem para dar.

Seria de se esperar, e seria mesmo justificável, que uma nação e um povo tão expostos a verdadeiros martírios durante o século 20 exibisse no olhar e nas feições do rosto as marcas do sofrimento e das perdas imensamente dolorosas. Porém, não é o que ocorre, ao menos em público.

Tal como o já mitológico Nelson Mandela, cuja face sempre surge sorridente nas entrevistas, às quais só se ausenta por motivo de doença, os sul-africanos capricham nas brincadeiras, nas cantorias e nas risadas plásticas e sonoras diante das câmeras de televisão do mundo. É como se dissessem, respondendo positivamente a Paulo Vanzolini, do outro lado do Atlântico: já levantei, já sacudi a poeira, já dei a volta por cima.

É extremamente comovente, ao acompanhar o noticiário das últimas semanas, ver estádios lotados para simples treinos, em cujas arquibancadas uma gente calorosa, brincalhona, musical e barulhenta faz um carnaval de verdadeiros campões com suas cornetas que libertam o grito da garganta.

Porém, confesso que durante o período que se abre com o apito do árbitro esta semana, na primeira partida, estarei apreensivo, torcendo com o coração na mão para que nada, absolutamente nada, estrague essa festa de humanidade que os sul-africanos oferecem para seus convidados – que coincide de ser o planeta inteiro.

Torço para que o solo sul-africano não seja profanado por atos temerários, uma vez que não se responde com traição a quem ofereceu a todos o seu ainda pouco, mas melhor, leite e mel.

Peço a todos os orixás, inclusive o meu, que recebam com amor a oferenda do povo generoso de Steve Bantu Biko e Nelson Mandela, que protejam as delegações do torneio e todos profissionais e torcedores envolvidos na Copa, e que devolvam em prosperidade à África do Sul cada gesto de afeto dessa gente sincera, corajosa e que ensina o mundo a sorrir sonoramente. Êpa, Babá.