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A falácia da Selic e da velha mídia contra "crescimento chinês"

Para se ter uma ideia do grau de manipulação do mercado e da velha mídia com a taxa Selic, confira os dados abaixo. Sugiro trazerem para os comentários as análises de jornalistas e economistas afirmando que o Brasil não tolera taxas de crescimento de 9% ao ano. Todas eles visam criar condições junto à opinião pública para legitimar a alta nas taxas Selic.

Por Luis Nassif, em seu blog

Os argumentos giram em torno da falta de infraestrutura, da falta de investimentos e da falta de poupança externa. Quando se fala na insustentabilidade de um crescimento de 9% ao ano, só tem lógica se se supusesse que o ritmo de alta do primeiro trimestre se repetiria durante todo o ano. Isso porque o crescimento do primeiro trimestre foi em cima de uma base rebaixada.

Vamos às contas, preparadas pelo Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa, como uma demonstração clara esse jogo de desinformação valendo-se da falta de conhecimento de parte dos analistas. Em janeiro, as previsões do mercado para o crescimento do PIB no ano: 7,5%.

O cálculo do PIB é em cima de uma média das elevações trimestrais. Se se começa com 9% no primeiro trimestre, significa que para alcançar o resultado final de 7,5%, o PIB deveria crescer em média apenas um ponto percentual por trimestre. Ou seja, após esse primeiro trimestre atípico — devido a inúmeros fatores que abordo na Coluna Econômica de hoje —, a economia irá rodar entre 4% a 4,5% ao ano, segundo as estimativas do próprio mercado.

Então, não há nenhum risco de superaquecimento.

Atropelando os números

Um outro tipo de sofisma tem sido gerada na Faculdade de Economia da USP, junto ao time que Barbosa chama de Igreja da Microeconomia dos Últimos Dias. Hoje, no Bom Dia Brasil, um dos pastores rezava que o problema do aquecimento da economia residia, na verdade, na falta de poupança e de investimento interno.

No próprio relatório do IBGE se lê que a taxa de investimento no Brasil (formação bruta de capital fixo / PIB) passou de 16,3% no primeiro trimestre do ano passado para 18% deste ano, uma alta de 1,7 ponto percentual. Na mesma página do IBGE, a informação de que a poupança interna aumentou 1,5 ponto percentual. Logo, a externa foi responsável por um aumento de 0,2 ponto.

E aí se entra na questão central da macroeconomia. Há anos, os mercadistas sustentam que o país não pode crescer por falta de poupança; há anos os neokeynesianos racionais (em contraposição aos que não vêem importância na responsabiliudade fiscal) sustentam que a poupança é gerada pelo crescimento.

Poupança é resultado da renda menos consumo. Houve aumento de renda do governo (aumento da arrecadaçlão fiscal), das famílias e do lucro das empresas, graças às políticas contracíclicas. Com isso, aumento a poupança interna. De 1,7 ponto de aumento da poupança, 1,5 foi gerada no país.