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Sem Aécio e sem Tasso, Serra continua à cata de um vice

O nervosismo demo-tucano-midiático com a falta de um vice para o presidenciável José Serra (PSDB) aproximou-se da histeria nesta semana. O "vice dos sonhos", Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, disse pela enésima vez, na quinta-feira (27), que não será vice. Desta vez, finalmente, acreditaram nele. Mas não aprenderam, pois foram atrás do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que também não aceitou…

Por Bernardo Joffily


Durante sete meses a oposição enalteceu Aécio como o vice ideal, que comporia "a Chapa dos Sonhos", reviveria a "Aliança Café-com-Leite", etcetera e tal. Mas ele tinha um defeito: não topava ser vice. Repetiu incontáveis vezes a negativa. Até que nesta quinta-feira, retornando de um mês de férias na Europa, elevou o tom.

Disse que parte "de uma análise muito profunda do cenário político". Que está "absolutamente convencido" de sua candidatura ao Senado. Que "não houve nenhuma modificação no cenário" e "é preciso que essas ansiedades sejam contidas". E, quando os jornalistas o confrontaram com a opinião de "empresários" não nomeados, citados pela Folha de S.Paulo, de que não aceitar seria "impatriótico", rebateu: "Chega a ser uma piada. Ninguém teve mais gestos de generosidade do que eu" (por ter desistido de disputar com Serra o posto de candidato presidencial).

O pesadelo do 12 de junho sem vice

Só a incontrolável soberba da cúpula do PSDB, hegemonizada pelos tucanos paulistas, explica tamanha demora. Eles acreditavam que Aécio, e Minas, terminariam cedendo. Nessa crença, trabalharam contra os seus próprios interesses, políticos e eleitorais.

Sem o "vice dos sonhos", o bloco da oposição corre o risco de se haver com um pesadelo: chegar sem vice ao 12 de junho, data da Convenção de lançamento de Serra, quando promete reunir 4.500 pessoas em Salvador. Nesta sexta-feira (28) o próprio presidenciável tucano admitiu a possibilidade.

Ocorre que o novo nome escolhido para vice preferencial foi o de Tasso Jereissati. "Se dependesse de mim, o nome era Tasso", disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), depois de se conformar que Aécio é carta fora do baralho. Porém o senador cearense tem o mesmíssimo defeito do ex-governador mineiro.

Ele já foi cogitado em março, em outro momento de desilusão com as chances do governador mineiro dizer "sim". E já deu a resposta: "Não" (expliquei, no início do mês, os motivos de Tasso; veja em Temer deve ser o vice de Dilma; cadê o vice de Serra?).

Palavras proféticas de um jornalista cearense

Errar é humano. Mas a oposição repetiu o erro.

Um outro "não" a caminho, escreveu nesta sexta-feira o editor-executivo de Conjuntura do jornal O Povo (Fortaleza), Guálter George, que conhece bem seu conterrâneo. Vale a pena conhecer a sua análise:

"Alguém terá levado a sério a ideia de que Aécio Neves aceitaria ser vice de José Serra numa chapa pura presidencial do PSDB? A dúvida inclui os jornalistas que andaram escrevendo sobre o assunto e que, parece, fizeram-no mais por torcida do que por análise. Em nome disso, muita bobagem foi reproduzida, como a de que um dos argumentos utilizados ontem para demover o ex-governador mineiro, que reaparecia em público após longa hibernação política, era de que se pediria dele um “espírito patriótico“ para aceitar ser o companheiro de Serra para a disputa presidencial.

Sai um factóide e a cúpula do PSDB, que precisa conter os sinais de desespero com o andar cambaleante das coisas na pré-campanha, imediatamente coloca na mesa outra hipótese pouco provável. Agora, o nome da vez volta a ser o do senador cearense Tasso Jereissati, que já resistiu uma vez, antes, às mesmas pressões.

Quem procura, não encontra um só motivo capaz de encorajar Tasso a largar seu confortável projeto de reeleição para assumir papel de coadjuvante numa campanha que enfrenta problemas evidentes. Este motivo inexiste. É necessário dizer, claro, que as dificuldades momentâneas não tiram a competitividade de Serra, que mantém fortes as chances de vitória.

O problema é o momento em que a decisão sobre o vice está sendo tomada. Serra demorou a se definir como pré-candidato e, agora, paga o preço da estratégia que adotou. O tempo à disposição torna-se exíguo e vai aumentando o quadro de tensão a cada dia perdido. Em outras palavras, o 'não' do Aécio ontem tende, amanhã, a se repetir como 'não' do Tasso."

Palavras proféticas. Indagado na noite desta sexta-feira sobre a vice, pela TV Jangadeiro, de sua propriedade, Tasso repetiu a recusa: "Não penso nisso. Eu sou candidato a senador. Quero continuar trabalhando pelo povo do Ceará", declarou.

O último parágrafo de George levanta um fator importante. Os tucanos, apesar de sua fama da partido "em cima do muro", desta vez estão premidos pelo tempo. A convenção está marcada, para o dia 12. E além dela há a data fatal, fixada pela lei, para o registro de candidaturas: 5 de julho, daqui a exatos 38 dias.

Isso obrigará a oposição a se convencer do 'não' de Tasso mais depressa que no caso de Aécio. Os observadores avaliam que a falta de vice já está causando desgaste, num momento em que Serra cai nas pesquisas e já aparece empatado ou em desvantagem no confronto com a candidata de Lula, Dilma Rousseff.

As alternativas e seus complicadores

As alternativas, porém, não são simples.

O terceiro nome mais cogitado ao longo do ano para compor a chapa foi o do presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), aliás primo de Aécio. Porém o PP participa da base do governo Lula e resiste a se coligar com a oposição. No máximo, ficará sem candidato formal. Além disso, Dornelles queimou o seu filme durante a votação do projeto da Lei da Ficha Limpa, introduzindo uma emenda que impedirá sua efetivação imediata. Hoje, acredita-se que ele tiraria votos.

O quarto nome é o do ex-presidente Itamar Franco, hoje no PPS e cobiçando uma vaga no Senado. Seria uma ponte com Minas e seus 14 milhões de eleitores. Acontece que o primeiro critério para a escolha, segunto Sérgio Guerra, é que "o escolhido terá de ter aprovação total do Serra". E Serra fez uma observação nesta sexta-feira que parece ter sido feita sob medida como um veto branco a Itamar.

Em Pernambuco (onde perde para Dilma por 53% a 24%, segundo a pesquisa Vox Populi), onde participou do lançamento do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB filotucano) ao governo, Serra elogiou o Senador Marco Antônio Maciel (DEM-PE), que para ele foi um vice perfeito de Fernando Henrique Cardoso, "quieto, discreto e cooperativo". E aí emendou: "A pior coisa que existe é um vice que faz aporrinhação".

Ora, Itamar, ainda na véspera, puxara a orelha do pretendente tucano por andar elogiando Lula. "Se o governador Serra não quer falar mal do Lula, fica quieto. Se começa a elogiar muito o presidente Lula, o pessoal começa a perguntar: por que vamos mudar?", ponderou o ex-presidente, que, por seus defeitos e suas virtudes, dificilmente se enquadraria como um vice "quieto, discreto e cooperativo" que não faz "aporrinhação".

O quinto nome é a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Seu partido já proclamou que, caso fracassasse a chapa pura Serra-Aécio, reivindicaria a vice para si, por ser o maior aliado do PSDB, o que mais contribui com o tempo de TV no horário eleitoral, e além disso um aliado histórico e estratégico.

Porém "a Musa da Motosserra", inimiga da reforma agrária e da defesa ambiental, conforme o jornal O Globo "encontra resistência dentro do PSDB e no núcleo próximo de Serra, por sua forte identificação com o setor ruralista, geralmente identificado como de direita" (ela preside a CNA, entidade empresarial dos grandes senhores de terras). Além de ser de um estado pequeno, com apenas 0,6% do eleitorado do país. Ou seja, é outra que pode tirar mais votos do que atrai.

Roberto Freire: "Não sei que alternativa temos"

Abaixo de Kátia Abreu a imprensa lembra numerosos outros vicepresidenciáveis para completar a chapa de Serra. Porém com a densidade político-eleitoral fica mais rarefeita:

Entre os tucanos, há o próprio Sérgio Guerra, ou a irmã de Aécio, Andrea Neves. Os senadores Agripino Maia (RN) ou Demostenes Torres (GO), os deputados José Carlos Aleluia (BA) ou Ronaldo caiado, são citados caso a vice fique com o DEM.

A síntese da situação foi dada pelo ex-comunista, serrista de carteirinha e há duas décadas presidente do PPS, Roberto Freire: "O que poderia ser uma solução agora começa a ser um problema. Não sei que alternativa temos", admitiu ele no Globo. O próprio Freire não se sente atraido pela vice de Serra. Prefere tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, desta vez por São Paulo.