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Somente assim concordamos, madame Clinton

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quinta-feira (27) que os Estados Unidos e o Brasil têm "sérias divergências" em relação ao programa nuclear iraniano.

Somente assim concordamos, madame.

Por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho

As últimas semanas foram repletas de fatos que atestam a veracidade das declarações da secretária estadunidense. Brasil e Estados Unidos se postaram em trincheiras opostas, mas não só no que se refere à questão nuclear iraniana. Já na Conferência sobre segurança nuclear, convocada pelo presidente Barak Obama, os dois países assumiram posições distintas. O Brasil acentuou sua posição em favor do desarmamento total, enquanto que os Estados Unidos ficaram em busca de bodes expiatórios pela insegurança que as armas nucleares provocam no mundo. Obama armou um cenário para fazer acusações falsas ao Irã e à Coreia do Norte, além de difundir fantasiosas ameaças de ataques nucleares provenientes de “redes terroristas”.

Maiores divergências ainda entre a superpotência do norte e o gigante do Cruzeiro do Sul manifestaram-se durante a Conferência das Nações Unidas de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear. O imperialismo estadunidense acentuou ainda mais a sua posição em favor do congelamento do poder nuclear nas mãos das cinco potências nucleares reconhecidas pelo TNP, defendeu a interposição de obstáculos ao uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos, setor sobre o qual também pretende exercer monopólio, negou-se taxativamente a estabelecer prazos para o desarmamento, recusou-se a declarar que não será o primeiro a agredir qualquer país com armas nucleares e forcejou para que o Brasil e outros países assinem o protocolo adicional do TNP, um documento aviltante da soberania nacional e do equilíbrio internacional.

As diferenças são óbvias também quando se comparam as posturas políticas e ideológicas e as estaturas morais dos dois países. Um deles, os Estados Unidos, arrogantes, intervencionistas, agressivos e ao mesmo tempo, como disse o presidente venezuelano Hugo Chavez, mesquinhos na sua inveja. Outro, o Brasil, buscando um novo lugar no mundo, com soberania e espaço para seu povo progredir socialmente, pacífico, solidário, defensor das soluções justas para os conflitos internacionais.

Enfim, há uma divergência geopolítica e de horizonte. Os Estados Unidos, potência declinante, não têm como fazer valer suas posições hegemonistas a não ser pela força. Consideram herético, algo contrário ao seu “destino manifesto”, que outros países também protagonizem os assuntos internacionais.

As divergências entre os Estados Unidos e o Brasil se estendem também a outras esferas. Os dois países vêm de maneira diferente os rumos da América Latina, têm percepções distintas sobre a integração, o desenvolvimento, o comércio internacional. A lista é extensa e vária. Sugere uma série de reportagens e artigos.