Serra no Ceará: muita cena e pouco apoio

O pré-candidato José Serra (PSDB), buscou apoio no Ceará no início desta semana acompanhado do Senador Tasso Jereissati. O tucano visitou as principais cidades do Cariri, cumprimentou eleitores, cantou “Triste Partida” e “Último Pau de Arara”, posou para fotos, visitou a estátua do Padre Cícero (um dos mais fortes símbolos da religiosidade nordestina) e pôs uma fitinha de lembrança do local. Tudo dentro de um roteiro para amenizar sua alta rejeição no Nordeste.

Serra com Pe Ciço

Em Fortaleza, tentou conquistar a simpatia dos moradores da capital e foi indelicado por não ir receber o Título de Cidadão Fortalezense, concedido pela Câmara Municipal de Fortaleza. O vereador Marcelo Mendes (PTC), que propôs o decreto legislativo, afirmou não ter recebido nenhum retorno dos organizadores da visita do tucano sobre uma nova data para a entrega da homenagem. “Quem tem que se preocupar com isso é o Serra e não eu. Nós, vereadores, já fizemos a nossa parte”.

Em todos os compromissos, José Serra era a personificação da simpatia, num esforço de se mostrar afável num Estado onde seu desempenho eleitoral tende a ser pífio. O tom só mudava quando questionado sobre as ações do atual governo. O tucano tentou pegar carona nos projetos do presidente Lula ao afirmar que “não vai acabar com nada”, referindo-se aos projetos já tocados pelo governo federal, e reforçou a ideia afirmando que “investimentos não têm coloração partidária”.

Um dos objetivos da visita era angariar apoios entre os simpatizantes do deputado federal Ciro Gomes (PSB), cuja candidatura a presidente não evoluiu, fato que gerou insatisfações no Ceará. Cumprindo o roteiro, José Serra minimizou as divergências políticas que possui com o deputado, seu desafeto declarado. "Ciro é pessoa séria, honesta e batalhadora”, declarou. O esforço não rendeu resultados, já que nenhum “cirista” manifestou simpatia pelo tucano.

Questionado sobre o fato de o PSDB não ter candidato próprio ao Governo do Ceará, Serra afirmou que essa decisão está entregue aos partidos aliados e que ele não vai interferir. “O pessoal do Estado é que vai definir. Nem em São Paulo (eu interfiro), porque eu tenho que ficar ligado permanentemente à questão nacional”, argumentou. No Ceará Serra deverá contar apenas com o apoio de Tasso Jereissati e o que resta do PSDB, somado ao combalido DEM e ao desprestigiado PPS. No Ceará PSDB vive um processo de encolhimento acelerado ao ponto de contar com apenas 54 prefeitos, quando já teve mais de 150 e seus representantes na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados não passarem de um diminuto número de parlamentares, todos temerosos com o risco de não se reelegerem.

Sobre a divulgação das últimas pesquisas, Serra fugiu do tema com uma clássica resposta: "Pesquisa vai e vem. Campanha mesmo, para começar, vem depois da Copa do Mundo. Estive à frente (das pesquisas) quase sempre, agora tem o empate. Mas logo vai desempatar, a coisa vai andar”.

Repercussão da visita

Para o presidente do PCdoB no Ceará, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), a visita de José Serra ao Estado é uma tentativa de desfazer uma imagem negativa já consolidada não só no Ceará mas em todo o Nordeste. “O histórico de votos do tucano aqui é muito baixo. Em 2002, quando ele foi candidato disputando com o presidente Lula, contando com o apoio do Lúcio Alcântara (então governador cearense) e do próprio Tasso Jereissati, ele teve por aqui apenas 8% dos votos enquanto Lula fez um milhão e trinta mil votos a mais que ele”, contabiliza.

De acordo com Patinhas, os elogios ao Deputado Federal Ciro Gomes (PSB) buscam conquistar um certo apoio do eleitorado, visando diminuir a diferença de votação no Estado. “A tendência é de que o PSB entre na campanha da Dilma Rousseff (PT)”. Além disso, acrescenta Patinhas, em suas declarações, José Serra tenta tirar a imagem de que é inimigo do Ceará e do Nordeste. “Ele ressaltou o tempo em que foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, liberando recursos para o Estado”, avalia.

Outro ponto analisado pelo dirigente comunista é que, segundo Patinhas, o tucano se sente incomodado de o PSDB não ter candidato a Governo do Estado. “O PSDB está vivendo um processo de declínio no Ceará. O próprio Tasso Jereissati declarou que seu partido não conta com nenhum nome de peso eleitoral para disputar as eleições”.

Numa visão geral, Patinhas avalia a visita de José Serra ao Ceara como um compromisso em que se buscou apoios mas que não foi ta bem sucedida. “No final das contas, não vimos adesão de nenhuma personalidade política, intelectual e nem de setores da sociedade. José Serra tentou se mostrar como o ‘amigo do Nordeste’, mas este título não bate com a trajetória de vida dele”, finalizou.


De Fortaleza,
Carolina Campos