Sem categoria

Petróleo e esporte reforçam relações entre Brasil e Irã

A bem-sucedida mediação brasileira no equacionamento de uma solução para os atritos do Irã com a comunidade internacional pela questão da energia nuclear pode ter desdobramentos importantes na área do petróleo, segundo especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.

Embora a colaboração na área de petróleo certamente venha a se concretizar por intermédio de empresas, os contatos iniciais foram estabelecidos de Estado para Estado, pelo diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, que integrou a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã, e que só quarta-feira retorna ao Brasil.

Em declarações à Agência Reuters, Haroldo Lima anunciou que os dois países devem assinar um memorando para viabilizar a participação de empresas brasileiras na modernização do setor de petróleo iraniano, em troca do fornecimento de sondas de prospecção, produto atualmente escasso no mercado internacional.

Motivos para essa colaboração não faltam, de acordo com especialistas ouvidos pelo JB.

O Irã é o quarto produtor mundial de petróleo, extraindo diariamente nada menos do que 4,4 milhões de barris de óleo leve, de alta qualidade, atrás apenas da Arábia Saudita (10,4 milhões de barris/dia) Rússia (9,9 milhões de barris/dia e Estados Unidos (6,8 milhões de barris/dia).

Tão importante como isto é o fato de que a a República Islâmica detém a segunda maior reserva mundial comprovada de petróleo – 138 bilhões de barris, atrás apenas da Arábia Saudita, com 264 bilhões de barris. Para se aquilatar bem este volume basta dizer que o Brasil hoje é detentor de reservas da ordem de 14 bilhões de barris, podendo chegar a 60 bilhões, depois de mensurados com mais exatidão os depósitos recém-descobertos na camada do pré-sal.

Este potencial geológico, como explica Jean Paul Prates, da Expetro Consultoria em recursos naturais, possibilitado pela privilegiada localização do Irã, ao lado do Golfo Pérsico e na fronteira com o Iraque, é enorme, mas ainda carece de melhor aproveitamento.

A situação geopolítica da região e do país, onde não há presença de empresas americanas, faz com que o país exporte petróleo mas ainda importe gasolina, pois não dispõe de refinarias suficientes para processar sua produção – 5,5% do total mundial, que hoje é de 84 milhões de barris/dia, como informa o consultor da área de energia do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.

– Nessas condições, e diante das relações especiais que estão sendo estabelecidas entre Brasília e Teerã, embora em condições normais esta negociação não devesse ser iniciativa da ANP, existem todas as possibilidades de uma sinergia altamente positiva entre as áreas de petróleo dos dois países – diz.

A dificuldade que se apresenta é o atual regime iraniano de contratação de serviços, com pagamento em dinheiro, sem parceria na produção. A própria Petrobras chegou a prospectar petróleo em águas iranianas há anos, sem sucesso, mas mantém até hoje um escritório em Teerã, segundo relata Jean Paul Prates, e não seria surpresa se, feitos alguns ajustes, estabelecesse novo entendimento com a estatal Iranian National Oil Company (Inoc).

Fontes da estatal brasileira, entretanto, consideraram prematura qualquer manifestação a respeito. Mas, da parte iraniana, relata Prates, que já manteve contatos com a Embaixada de Teerã em Brasília, o interesse não é de hoje. Tanto que há anos técnicos iranianos fazem minucioso acompanhamento do setor petrolífero brasileiro.

Luiz Sanches, diretor-executivo do Instituto de Geodireito, diz que um acordo Brasil-Irã sobre petróleo seria, além de estratégia comercial, ato de defesa da autonomia energética de dois estados soberanos: “Nada mais natural, diante do relativo bloqueio enfrentado pelo Irã, que fosse estabelecida maior colaboração entre empresas dos dois países”, opina.

Vôlei sela intercâmbio esportivo entre países

Nos esportes, o Irã e o Brasil também já mostraram sinais de colaboração. A aproximação fez o país asiático triunfar, nas categorias de base, num dos esportes mais populares aqui: o vôlei. Na categoria infanto-juvenil (para jogadores de até 18 anos), os iranianos somam um título mundial, no México, em 2007; dois vices, na Itália, ano passado; e no Egito, em 2001 – nesta edição, com derrota para os brasileiros na final. O intercâmbio intensificou-se na última década.

Em 2009, por exemplo, as seleções juvenis masculinas de vôlei dos dois países puderam trocar experiências no Aryzão, o centro de desenvolvimento do vôlei, em Saquarema, quando a equipe iraniana passou o período de 25 de junho a 3 de julho treinando com a equipe brasileira e conhecendo sua forma de trabalho. Foi a primeira vez que uma seleção iraniana treinou no país. Para o técnico da seleção brasileira, Percy Oncken, a experiência de intercâmbio entre os países foi proveitosa.

– Foi a primeira vez que uma seleção do Irã vem fazer um estágio aqui no Brasil. Eles aproveitaram a estrutura da CBV aqui em Saquarema. A comissão técnica iraniana conversa comigo e pergunta sobre nosso programa de treinamentos. Eles querem conhecer a nossa forma de trabalho – declarou o técnico ao site oficial da Confederação Brasileira de Vôlei.

Depois, as duas equipes se enfrentaram em dois amistosos em Caxias do Sul, no ginásio poliesportivo da Universidade de Caxias do Sul (UCS), nos dias 4 e 5 de julho, com vitória do Brasil nos dois jogos. O treinador da seleção iraniana, Mostafa Karkhaneh, também aprovou a experiência, elogiando a estrutura brasileira.

– Estamos muito agradecidos pela oportunidade de vir até aqui e pela hospitalidade. Jogar contra uma potência como o Brasil é importante para o desenvolvimento de nosso voleibol. Este lugar tem uma estrutura excelente – declarou o treinador na época.

Confronto na quadra

A ideia do encontro foi preparar as seleções para o Mundial da categoria, realizado na Índia, em agosto do mesmo ano. O Brasil foi campeão, vencendo a seleção cubana na final por 3 sets a 2, enquanto o Irã ficou em sétimo lugar, tendo sido eliminado pela seleção brasileira nas quartas de final. Apesar da eliminação, o técnico Mostafa Karkhaneh ficou feliz com a classificação brasileira, lembrando a experiência e o intercâmbio em Saquarema.

Fonte: Jornal do Brasil