Atlas Linguístico do Ceará será lançado nesta quinta-feira

Na ocasião do lançamento do Atlas, a Academia Cearense de Língua Portuguesa (ACLP) entregará a Medalha Hélio Melo, idealizador da entidade, ao Secretário Auto Filho

Para o secretário, a publicação "é a mais importante realização científica da cultura cearense nos últimos 50 anos"

O Atlas Linguístico do Estado do Ceará – ALECE, resultado de pesquisa que levou 17 anos para ser concluída e que se estendeu a várias regiões do Estado, vai ser lançado no próximo dia 20, quinta-feira, às 20h, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Em dois volumes, a obra é um mapeamento da língua falada no Ceará, com informações capazes de subsidiar estudos de linguistas, lexicógrafos, gramáticos, historiadores, sociólogos e pedagogos. O lançamento do ALECE, que recebeu apoio do Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura, é parte da programação que a UFC promove pelos seus 55 anos de instalação, efeméride a ser comemorada em junho de 2010.

A ideia de elaboração do Atlas surgiu ainda nos anos 1970, dentro do Núcleo de Pesquisa e Especialização em Lingüística, do Centro de Humanidades da UFC. Nele se diferenciam os falares de homens e mulheres, de escolarizados e não-escolarizados. É o sétimo do Brasil, depois dos produzidos na Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Paraíba, Paraná e Rio Grande do Sul. Sob coordenação do Prof. José Rogério Fontenelle Bessa, a equipe que liderou as pesquisas do Atlas é formada por alguns dos mais importantes estudiosos da área, como José Alves Fernandes, José Pinheiro de Souza, Alexandre Caskey, Hamilton Cavalcante de Andrade, Mário Roberto Zagari, Ignácio Ribeiro P. Montenegro e José Carlos Gonçalves.

A partir dos mais rigorosos critérios, o Atlas é um estudo aprofundado dos falares cearenses e de como eles se distribuem em nosso território, agregando-se ao patrimônio cultural cearense como um documento fundamental. Segundo Rogério Bessa, o projeto sempre teve objetivos linguísticos e educacionais. “Quando fomos buscar financiamento para a sua publicação, há alguns anos, sempre nos perguntavam sobre sua aplicabilidade. Posso dizer que um dos objetivos é o aproveitamento de seus dados para o replanejamento do ensino da Língua Portuguesa em nosso Estado”, diz o professor aposentado do Departamento de Letras Vernáculas da UFC.

No total, 67 municípios foram visitados. “O critério de participação era pertencer a distintas microrregiões homogêneas do Estado, como as de Sobral, Cariri ou Baixo Jaguaribe, que mantêm maior influência em suas áreas. Também comparamos o falar de regiões serranas e não-serranas. Fortaleza foi excluída por apresentar grande heterogeneidade linguística, e por isso não se configura como representativa da fala do Ceará”, explica José Pinheiro de Souza, professor aposentado do Departamento de Letras Estrangeiras da UFC.

O Prof. José Alves Fernandes, aposentado do mesmo Departamento, afirma que o Atlas privilegia os distintos falares, sendo um retrato da variedade do vocabulário e da pronúncia de nosso Estado. “Os cearenses têm dificuldade em pronunciar palavras proparoxítonas. ‘Estômago’ tem 14 formas diferentes de pronúncia além da oficial, assim como a palavra ‘nádega’ tem 21 pronúncias no Ceará”, exemplifica.

Enquanto a pesquisa que gerou o Atlas recebeu aportes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a publicação da obra foi viabilizada com apoio do Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria da Cultura (Secult), que mantém programa de cooperação com a UFC, numa política editorial que visa assegurar a divulgação da produção científica e literária de pesquisadores e escritores cearenses. “O Atlas Linguísico do Estado do Ceará é a mais importante realização científica da cultura cearense nos últimos 50 anos”, resume o Secretário da Cultura, Francisco Auto Filho.

Na ocasião do lançamento do Atlas, a Academia Cearense de Língua Portuguesa (ACLP) entregará a Medalha Hélio Melo, idealizador da entidade, ao Secretário Auto Filho e aos reitores da UFC Jesualdo Pereira Farias e Ícaro Moreira (in memoriam) pelo comprometimento com a cultura e o esforço para viabilizar a publicação da obra. “O falar cearense apresenta características que o diferenciam do de outros estados nordestinos e que se multiplicam, em variantes, pelas caatingas, serras e tabuleiros. Do Araripe ao litoral, da Ibiapaba ao Jaguaribe, as singularidades microrregionais de há muito atraem a atenção dos estudiosos”, explica o jornalista Ítalo Gurgel, Presidente da ACLP.

Para se ter ideia da dimensão da obra, a Expressão Gráfica precisou se adequar a desafios técnicos inéditos devido à complexidade de representação dos caracteres fonéticos. Toda a etapa conclusiva do trabalho de publicação do Atlas Linguístico do Estado do Ceará foi acompanhada pela ACLP e pela Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC.

Fonte: Assessoria de imprensa da Secult